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IA pode tornar produção cultural "mais barata, mas não faz melhor"
A inteligência artificial na cultura reduz custos, mas levanta questões autorais, de tempo e de confiabilidade da produção artística. Para Leonel Moura não há dúvidas de que "a IA tem mais imaginação do que a maioria dos artistas".
As ferramentas de inteligência artificial (IA) poderão ajudar a produção cultural a ficar "mais barata, mas não fazem melhor" do que o que produz atualmente Mariana Gaivão, cineasta. A questão financeira é das mais relevantes, uma vez que é ainda "grande parte do que move o cinema", detalha no debate "Cultura: Entre a criatividade e a ameaça. O que se segue?", inserido na conferência "O Poder de Fazer Acontecer 2.0" do Negócios, que decorre nesta quinta-feira, em Lisboa, e que é dedicada aos desafios da inteligência artificial.
"Vai ser barato o que queremos que seja barato e o caro vai ser ainda mais caro", acrescenta Joana Frazão Duarte, CEO da Béhen. Para a designer, apesar de não ver a IA como uma ameaça, "estas ferramentas vêm diminuir o tempo que temos para criar", porque a velocidade da criação artística através desta tecnologia é instantânea. O que poderá aumentar, alerta, é a quantidade de pessoas que põem em causa o processo criativo e que pelo facilitismo se poderá tornar alvo de mais críticas.
Também as necessidades financeiras e de meios humanos poderão ser menores, por isso, Mariana Gaivão destaca uma "primeira democratização dos meios" trazida por esta tecnologia. E exemplifica que na sua área recorre a ferramentas de IA para complementar imagens e gerar planos para montar um dossier de uma produção que ainda não está feita. A produção cultural instantânea é um dos receios da cineasta, dado que poderá levar a uma "explosão de conteúdos baratos e medíocres", onde se poderão levantar também questões de direitos de autor.
"Nos Estados Unidos o setor parou para olhar para a regulação na IA em relação aos direitos de autor e conseguir estruturar e definir a acreditação da IA", explica. Só que em "Portugal e na Europa estamos muito atrasados e nada está definido neste âmbito".
Leonor Areal, especialista em convergência interdisciplinar das áreas de Literatura, Comunicação, Educação e Cinema, acredita que "a criação não deixa de ser arte desde que tenha uma pessoa à cabeça que estabelece a visão do projeto final". A académica acredita que corremos "o risco de forma alargada na sociedade de haver uma propagação enorme de erros" e que por isso, na educação, "deveria haver uma forma de habilitar as pessoas a usar a IA".
Leonel Moura discorda das três pares do painel. O artista pioneiro na aplicação da robótica e da inteligência artificial na arte continua a argumentar – como tem feito desde que escreveu um manifesto em 2003 que defendia que as máquinas podiam fazer arte – que "a IA tem mais imaginação do que a maioria dos artistas" e defende que "há uma certa desvalorização" das potencialidades desta ferramenta.
Para o artista o facto de a IA ter "vantagens sobre os humanos, pela capacidade que tem de manutenção do conhecimento" leva a que acredite nas máquinas no mundo da arte. Leonel Moura deixa de parte as emoções: "para que é que são necessárias?", questionou. O papel do humano passou de "fazer para desencadear, temos de pôr as sementes e colaborar nos processos", o resto a IA faz sozinha.