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Frederico Moreira Rato: O mundo das tecnologias ficou mais pobre
Frederico Moreira Rato ajudou a escrever a história das tecnologias em Portugal. Liderou a Reditus durante mais de duas décadas. Hoje o mundo das tecnologias ficou mais pobre.
A história da Reditus confunde-se com a vida de Frederico Moreira Rato. O gestor liderou a tecnológica durante mais de 20 anos e mesmo quando se afastou um pouco da parte executiva, nunca o conseguiu fazer plenamente.
Frederico José Appleton Moreira Rato era um gestor irrequieto que não conseguia estar parado, como muitas vezes admitiu, que queria fazer mais e que dizia ainda ter muito para fazer.
Chegou à liderança da Reditus na década de 80, depois de ter passado pelo Ministério da Agricultura (nas áreas de Estatística e Informática), e muitas das decisões da empresa foram tomadas no escritório da família Moreira Rato na Avenida 24 de Julho, em Lisboa. Nos últimos anos, disse várias vezes que uma empresa ter 40 anos de história "é uma eternidade". Criada em 1966, celebra este ano o seu 48º aniversário.
O gestor levou a empresa para a Bolsa, teve que despedir, teve que reestruturar, comprou empresas, ajudou a tecnológica a crescer. Defendia que a Reditus poderia ser maior do que muitos acreditavam. Previa que a companhia iria facturar mais de 100 milhões de euros e que a internacionalização fazia parte da estratégia e era um pilar fundamental do crescimento. E assim aconteceu.
Achava graça quando lhe chamavam “dinossauro”, mas também era firme em dizer que não estava “agarrado” à cadeira do poder. Mas, mesmo quando deixou a parte mais executiva da empresa, a “liderança” da Reditus “não lhe saiu da pele”.
O gestor admitiu que que o período mais complicado da vida da empresa foi em 1994. Depois de "cinco anos de enorme prosperidade a vender 'hardware'" e em que eram os principais 'dealers' da IBM, "em 1992 esta abandonou-nos e ficámos cheios de 'stocks'".
E como a vida se faz de altos e baixos, Moreira Rato sempre foi firme em dizer que vender a empresa nunca esteve em causa, mesmo com as propostas que chegavam à sua mesa. Foi alvo de rumores de que iria fundir a “sua” empresa com outras congéneres e ser um dos protagonistas da grande consolidação do mercado nacional, mas isso nunca aconteceu.
E a sua actividade não se ficou pela Reditus. Foi um dos impulsionadores da Associação Portugal Outsourcing, a associação que uniu as principais tecnológicas que actuavam na área de outsourcing no mercado nacional, onde previa ter muito para fazer.
Em 2010, em entrevista a Anabela Mota Ribeiro, para o Negócios, Moreira Rato contou que vinha de uma família “com uma uma mistura de origens”. Entre “um resto de aristocracia um bocado falida” e e um lado “industrial recém-chegado, novo-rico, que consegue vingar”.
Para Moreira Rato, deixar de ter actividade era impensável e como exemplo tinha o seu pai. E apesar do seu “low profile”, o gestor admitia que nem sempre era assim tão recatado. Na mesma entrevista disse mesmo: “Na Reditus queixam-se de que não sou tão discreto como isso. (...) Lido mal com a gestão de pés contra pés. Gosto de cabeça contra cabeça, de explicações racionais. Gosto muito da tal polémica sistemática e de ouvir a opinião dos outros, de pensar em conjunto”.
Frederico Moreira Rato faz parte da história das tecnologias em Portugal e a vida deste gestor foi o mundo dos bites. Aos 63 anos, Moreira Rato deixa uma indústria em mudança.