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Conheça a executiva mais bem paga da Apple

Angela Ahrendts ganhou mais do que Tim Cook, em 2015. Ex-CEO da Burberry, a empresária acredita que tudo o que é preciso para viver está no poema Coisas Desejadas. Bebe litros de coca-cola diet e adora o cheiro a charuto.

Bloomberg
09 de Janeiro de 2016 às 10:00
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Chama-se Angela, e também é uma mulher de poder. Foi a executiva mais bem paga da Apple no ano passado, superando o presidente executivo, Tim Cook. Em 2015, Angela Ahrendts, vice-presidente sénior e responsável pela área de retalho da tecnológica, onde começou a trabalhar em meados de 2014, ganhou 25,77 milhões de dólares (23,8 milhões de euros).

Além de salário e bónus, o montante também reflecte o que receberia nos próximos anos, se não tivesse deixado a Burberry, onde era CEO há oito anos. Remunerada a peso de ouro, em 2013 foi a executiva que ganhou mais dinheiro entre os líderes das 100 maiores cotadas no Reino Unido. Em 2014, foi a gestora mais bem paga dos EUA em 2014, arrecadando 82,6 milhões de dólares.



Nascida a 7 de Junho de 1960 em New Palestine, no estado norte-americano do Indiana, Angela licenciou-se em Marketing e Merchadising e tirou um bacharelato em Artes e Ciências. Queria ser designer de moda, conta a Vogue.  E acabou por ser uma estrela na indústria das passerelles. Aos 29 anos, tornou-se presidente da Donna Karan Internacional e passou pela Liz Clairborne, onde estava encarregue da expansão das novas marcas de roupa do grupo. 


Em 2006, chega à Burberry. E inverteu a história da marca britânica. O seu valor de mercado duplicou e as receitas triplicaram para quase três mil milhões de doláres, sobretudo graças à aposta no mundo digital. Trouxe a tecnologia para o retalho de luxo e para a gestão da empresa – presenteou os seus executivos com um Ipad quando foram lançados. Investiu na promoção das vendas online numa altura em que nenhuma concorrente o fazia. Pôs a Burberry nos "social media". Além disso, centralizou a produção, combateu as cópias e a massificação, recomprou licenças da insígnia e reconquistou a clientela mais exclusiva. Patrocinou actrizes e modelos.

Não se guiava pelas rivais Chanel ou Gucci. "Se há companhia que vejo como modelo é a Apple", assumiu ao The Wall Street Journal, em 2010. "São uma empresa de design brilhante, que trabalha para criar um estilo de vida". Em 2012, surgia na capa da Fortune asiática com um ipad na mão. Do emblemático padrão axadrezado beije, vermelho e preto, nem sinal.

A 1 de Maio de 2014, tornava-se na primeira mulher a integrar a equipa executiva de Tim Cook. Reporta-lhe directamente. "Nunca tinha conhecido ninguém em quem achasse que poderia confiar para unificar os dois departamentos até conhecer a Angela", viria a confidenciar Cook, sobre a nova contratação.

Um seta na maçã

Mas o que pode trazer Angela Ahrendts à marca da maçã, que já tem das lojas mais rentáveis do mundo? Desde logo integrar os departamentos de vendas em loja e na internet, até então separados. Mas também melhorar a experiência de compra dos clientes, tornar as lojas (ainda) mais envolventes, potenciar o interesse não só pelos iphones, ipads, iwatchs, mas também de serviços como o Apple Pay ou o Apple Music. E reconfigurar a cultura de retalho da tecnológica fundada por Steve Jobs.

Mais do que aproveitar uma carreira de 30 anos, a Apple contratou-a pelo seu modelo de liderança. Na companhia, a vice-presidente tem privilegiado a motivação das equipas e a proximidade com os 60 mil colaboradores que trabalham nas lojas. Quer gerar laços. Criou uma aplicação para que todos possam enviar-lhe sugestões e críticas. Promete resposta em 48 horas. Depois de passar por muitos dos pontos de venda da marca, escritórios e call centres, grava e emite semanalmente um curto vídeo que alia vitalidade e estratégia e dá a conhecer aos vendedores três linhas estratégicas, como escrevia a Fortune em Setembro. No mesmo artigo, apelidava-a como "chief emotive officer" da Apple, algo como presidente do departamento da emoção.

"Se vamos dar emprego a pessoas, porque não fazer delas o factor de diferenciação? Não são uma 'commodity'", frisou à mesma publicação.

Activa nas redes sociais, a sua página no Twitter, onde se diz "inspirada por grandes pessoas, grandes marcas e grandes companhias", desfilam fotografias com colaboradores em várias lojas do mundo. No tempo da Burberry partilhava sobretudo artigos de liderança, empreendedorismo, inovação. Temas que também explora no seu blog no Linkedin.

Num post de 23 de Junho, Angela descreve como foram as primeiras semanas na Apple. Recordando ensinamentos do pai, relata como preferiu fazer perguntas, ouvir opiniões dos trabalhadores, saber da sua vida. "Construir uma relação é também o primeiro passo para construir confiança, que rapidamente conduz à unidade", justifica.

Mas também dá a conhecer a sua visão sobre gestão de equipas, líderes internacionais, construção de carreiras. Energia positiva, intuição, sucesso, emoção, instinto são termos que usa frequentemente. E até explica quais os seus métodos para contratar e reter talento, assegurando que no final da entrevista revela sempre a sua opinião. "Aprendi que as pessoas vão esquecer-se do que eu disse ou do que fiz. Mas nunca vão esquecer-se do modo como as fiz sentirem-se", explica.

Publicou também um poema que, assegura, resume o que é preciso para viver: "Coisas Desejadas", ou Desiderata (em latim) de autoria não confirmada. Decorou-o nas muitas tardes que passou no escritório do pai, olhando-o, num quadro pendurado na parede. "Naquela altura, repetia as palavras sem reflectir, sem me preocupar com o seu significado. Mas agora sei que estas simples verdades ajudaram a formar o meu estilo de liderança, inspirando-me e lembrando-me qual é o meu lugar e o meu objectivo", conta.

No ano passado, Angela Ahrendts foi considerada pela Forbes, a 25.ª mulher mais poderosa do mundo. Casada com um colega da escola, mãe de três filhos, faz parte do grupo de 16 líderes empresariais que aconselha o primeiro-ministro britânico em assuntos económicos. Foi também agraciada com o título honorário de dama comendadora do Império Britânico.

O cheiro a charuto, por lhe fazer lembrar o pai, é o seu favorito. E não passa sem coca-cola diet. Bebe tanta que chegou a dizer numa entrevista ao The Wall Street Journal que achava que lhe corria sangue castanho nas veias.


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