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Cientistas usam jogo de realidade virtual para estudar demência

Navegar num lago com paredes de gelo ou explorar um pântano para encontrar um monstro escondido pode soar como uma premissa divertida para um jogo de realidade virtual. Mas há um propósito sério por trás do novo jogo Sea Hero Quest VR: ajudar neurocientistas a projectar um novo teste para a demência.  

03 de Setembro de 2017 às 11:15
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A empresa de criação de jogos Glitchers, com sede em Londres, trabalhou com investigadores de universidades britânicas e suíças, bem como com instituições de caridade dedicadas a demência e Alzheimer, para criar o Sea Hero Quest VR. O desenvolvimento do jogo de download gratuito, que foi lançado na terça-feira para o headset Gear VR da Samsung e para o Oculus Rift da Facebook, foi financiado pela operadora alemã de telecomunicações Deutsche Telekom.

 

À medida que as pessoas jogam o jogo, dados anónimos — como quais acções realizam, o ponto exacto aonde elas dirigem o olhar e por quanto tempo — são recolhidos e armazenados nos servidores da Deutsche Telekom na Alemanha. Os jogadores também podem optar por fornecer à operadora dados demográficos mais detalhados, como informações sobre idade, sexo e localização.

 

Neurocientistas e psicólogos cognitivos analisarão os dados para saber mais sobre como os seres humanos desenvolvem a consciência espacial e atravessam novos ambientes. Os investigadores acreditam que a degradação subtil dessas habilidades pode ser um sinal de alerta precoce de demência e que as informações extraídas do jogo podem ajudar a criar novos testes para identificar deficiências cognitivas mais cedo.

 

Actualmente, cerca de 47 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, um número que deverá aumentar para 130 milhões de pessoas em 2050 devido ao envelhecimento da população, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

 

"Através de coisas como exames cerebrais, sabemos que o processo da doença que está subjacente à demência realmente começa entre 15 e 20 anos antes que as pessoas tenham consciência de que apresentam os sintomas óbvios", disse David Reynolds, director de ciência da Alzheimer’s Research UK, um dos parceiros da Deutsche Telekom na criação do jogo. Acrescenta que as pessoas não têm consciência dessas mudanças porque o cérebro é extremamente resiliente e capaz de encontrar soluções provisórias para os danos à medida que eles se acumulam gradualmente. Mesmo quando os sintomas começam a ser notáveis, as pessoas costumam mentir para si mesmas sobre o motivo que as leva a adoptar comportamentos compensatórios — como recorrer sempre ao Google Maps para obter instruções sobre um trajecto familiar. "O que realmente queremos é poder diagnosticar pessoas cerca de 15 a 20 anos antes do que é possível actualmente", disse David Reynolds.

 

A realidade virtual está ser cada vez mais utilizada com fins terapêuticos — para ajudar a tratar o transtorno de stress pós-traumático ou aliviar a dor crónica. E os cientistas que estudam o cérebro já estão a usar experiências baseadas em realidade virtual em laboratórios, disse Maxwell Scott-Slade, director criativo da Glitchers. Mas o jogo Sea Hero Quest permitirá que os cientistas recolham dados numa escala muito maior. A Deutsche Telekom informou em comunicado que apenas dois minutos de jogo de realidade virtual no novo Sea Hero Quest recolhe o equivalente a cinco horas de pesquisa feita em laboratório.


 

Este artigo foi originalmente publicado na Bloomberg a 29 de Agosto.

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