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A batalha legal dos bastidores da Web Summit

Paddy Cosgrave está a braços com uma disputa judicial em torno do fundo criado para gerir os ativos da Web Summit, num caso que tem feito correr rios de tinta na imprensa irlandesa.

Reuters
31 de Outubro de 2021 às 19:00
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Segunda-feira, Paddy Cosgrave regressará ao palco da Altice Arena para dar as boas-vindas aos participantes da Web Summit, de regresso às conferências ao vivo, depois da pandemia de covid-19 ter atirado o evento para o online. Contudo, a crise pandémica não foi a única preocupação no último ano a pesar nas costas do fundador daquela que é considerada uma das maiores cimeiras de tecnologia do mundo. Paddy Cosgrave está a braços com uma batalha legal com um amigo de longa data. Em cima da mesa está o fundo criado para gerir a fortuna da Web Summit.

A história remonta a 2018. No ano em que Paddy Cosgrave assinou um contrato de 110 milhões de euros com o Governo português pela permanência do evento em Lisboa durante dez anos, criou também o Amaranthine Fund I com o seu amigo de infância David Kelly e Patrick Murphy, um investidor norte-americano ex- Goldman Sachs. O fundo iria gerir os ativos da Manders Terrace, a casa-mãe da Web Summit (na qual David Kelly tem uma participação de 12%) e serviria para investir em startups promissoras sob a marca do evento.

Sedeado nos Estados Unidos, com os três fundadores listados como administradores, o Amaranthine Fund I foi lançado em novembro de 2018 com 50 milhões de dólares disponíveis para investir. "Nós ajudamos algumas empresas de uma forma forte durante três dias. Mas, o que acontece nos outros 362 dias?", adiantava, na altura, Paddy Cosgrave ao Financial Times. Nos meses seguintes, o fundo acabou por concretizar alguns dos investimentos, tendo entrado no capital de startups como a Hopin, avaliada em quase 8 mil milhões de dólares, e o unicórnio do retalho Standard Cognition.

Os problemas começaram em 2020 quando, após alegadas diferenças irreconciliáveis na gestão do fundo, levaram a que Kelly e Murphy abandonassem a gestão do Amaranthine e, secretamente, criassem um novo fundo, o Semble Fund II, tentando transferir de um para o outro contactos e a rede de influência criada pela marca Web Summit. Quando teve conhecimento do sucedido, Paddy Cosgrave processou os ex-parceiros.

Os documentos da acção que deu entrada no tribunal da Califórnia em setembro de 2020, citados pelo Sifted, alegam que Kelly e Murphy "traçaram um plano para enganar" Paddy Cosgrave, "quebrando um acordo com eles e estabelecendo secretamente um fundo de continuação que usurpou indevidamente a marca, recursos e ativos da Web Summit", alegando-se violações "graves" do dever fiduciário por Kelly.

Mas David Kelly e Patrick Murphy contam outra versão. Um porta-voz de ambos alegas "várias imprecisões factuais e distorções deliberadas", nas alegações do fundador da Web Summit, indicando que este "é um caso sem mérito, que segue um padrão claro de comportamento de Cosgrave."

Os dois afirmam que Paddy Cosgrave achava que controlava o Amaranthine, quando na verdade a gestão era partilhada entre os três, e indicam que o teriam informado da criação do Semble. Alegam ainda que o Fund I era "totalmente independente da Web Summit" e que também o Fund II não teria qualquer marca ou registo relacionado com o evento tecnológico.

A disputa judicial abriu portas a um lavar de roupa suja profundo. A imprensa avança que Paddy Cosgrave terá enviado uma carta a David Kelly, ameaçando divulgar informações comprometedoras sobre ele, como infidelidades conjugais e queixas de má gestão e abusos sexuais. "Desde a separação, Cosgrave tem a intenção de perturbar a vida e os negócios de David e Patrick", explica um porta-voz de Kelly e Murphy.

Por sua vez, os dois ex-sócios alegam que o fundador da Web Summit tem um comportamento continuado de bullying para com as pessoas que trabalham para ele, mencionando "numerosos casos de assédio verbal e digital" e um caso de despedimento que chegou a tribunal e foi julgado a favor do funcionário da Web Summit. Em resposta, um porta-voz de Paddy Cosgrave alega que as reivindicações são "alegações sem fundamento" destinadas a "desviar a atenção de violações graves de deveres fiduciários".

Certo é que, nos próximos dias, tudo isto terá que ficar para trás das costas. A Web Summit arrancará em Lisboa para uma semana intensa, indififerente à batalha legal travada nos seus bastidores e prometendo trazer 1.000 oradores, 1.250 startups, 1.500 jornalistas e mais de 700 investidores.
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