Notícia
Um grande passo para as PME
O Homem chegou à Lua há 40 anos. E Portugal chegou à Agência Espacial Europeia (ESA) há quase 10 anos, o que abriu as portas a muitas empresas portuguesas a esta indústria. Neste negócio junto da ESA, com lucros controlados, é fundamental a contribuição...
Portugal contribui, em média, anualmente com 16 milhões de euros para a Agência Espacial Europeia. Espera-se que, pelo menos, esse montante volte a Portugal por via da adjudicação de contratos a empresas portuguesas. Não se sabe ao certo qual o retorno absoluto que tem sido alcançado, mas há já um universo interessante de empresas portuguesas no negócio espacial.
O Homem chegou à Lua há 40 anos. E Portugal chegou à Agência Espacial Europeia (ESA) há quase 10 anos, o que abriu as portas a muitas empresas portuguesas a esta indústria. Neste negócio junto da ESA, com lucros controlados, é fundamental a contribuição financeira que cada Estado-membro faz. A média anual de Portugal é, em 2009, de 16 milhões de euros de participação, o que representa 0,4% do orçamento da ESA, estimado para este ano em 3,6 mil milhões de euros. Face ao valor da comparticipação dos Estados-membros, assim é definido o chamado retorno geográfico, ou seja, a ESA pretende que pelo menos igual valor ao da contribuição seja entregue a contratos de empresas de cada país.
Mário Amaral, da equipa da delegação portuguesa na ESA, da responsabilidade da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), garante que o retorno geográfico de Portugal está próximo de 100%. É por isso que as empresas portuguesas que actuam neste negócio gostariam de ver as contribuições de Portugal para a ESA subirem, progressivamente. É que, embora os contratos sejam adjudicados pelo mérito da proposta, há uma majoração para candidaturas de empresas de países em sub-retorno. E os maiores países contribuem muito mais. Há quem já tenha sentido na pele esta restrição. Ainda que Portugal, durante alguns anos, tenha beneficiado de um esquema preferencial, na decorrência da entrada como Estado-membro na ESA. Mário Amaral, sem conseguir concretizar em estatísticas, acredita que há ainda empresas a beneficiar dessa "task force", como foi denominada.
São, pelo menos, 18 as empresas portuguesas que a FCT detecta como tendo uma presença consolidada na ESA, que, no entanto, tem no seu registo de fornecedores cerca de 40 sociedades de Portugal.
Muitos dos negócios com a ESA são realizados via subcontratos com consórcios vencedores de concursos, mas há empresas, mesmo entre as pequenas, que já ganharam propostas como "primes". Tiago Pardal, presidente e fundador da Omnidea, comenta que as empresas portuguesas só conseguem ganhar contratos se forem para componentes ou pequenas partes de um projecto ou se propuserem algo que mais ninguém tem. "Não nos querem na Fórmula 1", diz. Já para João Araújo, da Spin.works, poderia ser interessante para Portugal "arranjar uma parte de uma missão pequena, que juntasse as empresas portuguesas. Dava-nos peso internacional". Portugal tem massa crítica.
Raro é avançarem, para concursos junto da ESA, em consórcios nacionais. Este é um negócio internacional e, por isso, as empresas que gravitam neste universo terão sempre essa componente de exportação. Mas, ainda assim, não é um sector que seja muito referido quando se fala em oportunidades de internacionalização para as empresas portuguesas. Ainda assim, há cada vez mais empresas a trabalharem para esta área de negócio. E se, no início, a presença portuguesa se fazia, principalmente, pelo "software", agora já há várias iniciativas no "hardware" e estruturas.
Portugal entrou na ESA em 2000 e, a partir daí, dois elementos se conjugaram para incentivar esta indústria. A criação de cursos de engenharia aeroespacial em Portugal e os estágios proporcionados pela ESA para os estudantes portugueses. Muitas das empresas foram criadas por engenheiros que estagiaram na Agência Espacial. Se a dificuldade em entrar na ESA é referida por todas as empresas, a ideia de partirem para outras agências espaciais é ainda mais remota. Especialmente para as micro e as pequenas empresas. Tal como a ESA, também as outras agências protegem as empresas compatriotas. Há excepções. Critical Software e Corticeira Amorim já foram referenciadas como tendo negócios na NASA, a agência norte-americana.
Mas se as empresas reivindicam mais participação de Portugal na ESA, a delegação portuguesa chama a atenção para a necessidade de haver transferência de tecnologia do espaço para outras indústrias. Só assim se consegue elevar os níveis de negócio e rendibilidade das empresas, não as tornando dependentes de uma única fonte. Ainda assim, muitas das empresas contactadas têm, ainda, a sua principal fonte de rendimento na ESA, mas são empresas relativamente jovens.
Se o programa de desenvolvimento do Galileo, a constelação de satélites para a construção de um sistema de navegação europeu, foi uma importante alavanca de crescimento para as empresas portuguesas, a próxima grande oportunidade estará na observação da terra.
O Homem chegou à Lua há 40 anos. E Portugal chegou à Agência Espacial Europeia (ESA) há quase 10 anos, o que abriu as portas a muitas empresas portuguesas a esta indústria. Neste negócio junto da ESA, com lucros controlados, é fundamental a contribuição financeira que cada Estado-membro faz. A média anual de Portugal é, em 2009, de 16 milhões de euros de participação, o que representa 0,4% do orçamento da ESA, estimado para este ano em 3,6 mil milhões de euros. Face ao valor da comparticipação dos Estados-membros, assim é definido o chamado retorno geográfico, ou seja, a ESA pretende que pelo menos igual valor ao da contribuição seja entregue a contratos de empresas de cada país.
Mário Amaral, da equipa da delegação portuguesa na ESA, da responsabilidade da FCT (Fundação para a Ciência e Tecnologia), garante que o retorno geográfico de Portugal está próximo de 100%. É por isso que as empresas portuguesas que actuam neste negócio gostariam de ver as contribuições de Portugal para a ESA subirem, progressivamente. É que, embora os contratos sejam adjudicados pelo mérito da proposta, há uma majoração para candidaturas de empresas de países em sub-retorno. E os maiores países contribuem muito mais. Há quem já tenha sentido na pele esta restrição. Ainda que Portugal, durante alguns anos, tenha beneficiado de um esquema preferencial, na decorrência da entrada como Estado-membro na ESA. Mário Amaral, sem conseguir concretizar em estatísticas, acredita que há ainda empresas a beneficiar dessa "task force", como foi denominada.
Do Galileo para a missão à Lua Juntaram-se para o concurso de ideias lançado em 2006 pela Agência de Inovação para o desenvolvimento de uma aeronave não tripulada. O projecto não avançou, mas criou a génese da empresa. Hoje, cinco sócios - Vasco Pimenta, João Araújo, Tiago Hormigo, Francisco Câmara e Duarte Belo - empregam oito pessoas e continuam a desenvolver a sua aeronave não tripulada, que deverá entrar em testes operacionais no início de 2010. Estas aeronaves podem ser utilizadas para monitorização ou fotografia aérea. Mas é ainda o espaço e a ESA que ocupam a maior parte do negócio da Spin.Works. Directa ou indirectamente (através de subcontratações), a Agência Espacial Europeia tem um peso de quase 100% no negócio. Vasco Pimenta não esconde que o Erasmus (que permite aos estudantes universitários estudarem para fora do país) e algum trabalhos na ESA, NASA e noutras empresas aeronáuticas permitiram aos sócios adquirir competências e experiência. Mas para a ESA não é essa a experiência que conta. "Foi uma espécie de início sem rede", diz Vasco Pimenta. Em pleno centro de Lisboa, a Spin.Works desenvolve estruturas, que é uma das áreas de negócio. A outra é a de sistemas. Os primeiros subcontratos foram conseguidos no âmbito do programa do Galileo, a constelação de satélites que vai constituir o sistema de navegação europeu para concorrer com o GPS norte-americano. Ainda decorrem. A Spin.Works está a desenvolver as antenas de estação de solo e acabou por ganhar um contrato para produzir os posicionadores no âmbito do Galileo. Como vencedora principal, a Spin.Works já garantiu a qualificação para o desenvolvimento de um actuador não explosivo (espécie de parafuso). E já pensa na missão à luz e no desenvolvimento de tecnologias que permitirão que naves espaciais façam a detecção e desvio de obstáculos no processo de aterragem em zonas desconhecidas para o homem. A Spin.Works faz parte da segunda vaga de empresas que entraram na ESA, dedicadas ao "hardware". "Estamos dentro desse mercado para entrar em nichos para desenvolver produtos com valor de mercado". |
Muitos dos negócios com a ESA são realizados via subcontratos com consórcios vencedores de concursos, mas há empresas, mesmo entre as pequenas, que já ganharam propostas como "primes". Tiago Pardal, presidente e fundador da Omnidea, comenta que as empresas portuguesas só conseguem ganhar contratos se forem para componentes ou pequenas partes de um projecto ou se propuserem algo que mais ninguém tem. "Não nos querem na Fórmula 1", diz. Já para João Araújo, da Spin.works, poderia ser interessante para Portugal "arranjar uma parte de uma missão pequena, que juntasse as empresas portuguesas. Dava-nos peso internacional". Portugal tem massa crítica.
Raro é avançarem, para concursos junto da ESA, em consórcios nacionais. Este é um negócio internacional e, por isso, as empresas que gravitam neste universo terão sempre essa componente de exportação. Mas, ainda assim, não é um sector que seja muito referido quando se fala em oportunidades de internacionalização para as empresas portuguesas. Ainda assim, há cada vez mais empresas a trabalharem para esta área de negócio. E se, no início, a presença portuguesa se fazia, principalmente, pelo "software", agora já há várias iniciativas no "hardware" e estruturas.
Dos tanques às plataformas em altitude Tiago Pardal não gosta muito de computadores e as empresas que trabalhavam na indústria do espaço eram de informática. "Tive de criar o meu próprio emprego", afirma, para explicar o arranque da Omnidea. Tiago Pardal esteve a trabalhar na Agência Espacial Europeia. "Tive de ir para lá", porque concorrer às cegas não funciona. "É preciso estabelecer uma relação de confiança". E o segredo foi concorrer com um produto que ninguém tinha, diz Tiago Pardal. Era um conceito e ainda está em desenvolvimento: célula de combustível e sistemas de propulsão. Está em desenvolvimento, mas ainda longe do mercado. A Omnidea garante que já tem quatro contratos com a ESA e está em fase de avaliação para um quinto, sempre como "prime", isto é, como cabeça do projecto. "Este quinto é mesmo para seguir para a fase de qualificação" e tem a ver com a área dos tanques. "A ESA é uma indústria de pequenas quantidades, mas é interessante pelas parcerias, conhecimento e permite desenvolvimento de tecnologias de ponta". E a Omnidea está já a fazer transferência de tecnologias, nomeadamente na parte dos reservatórios para a indústria farmacêutica e automóvel. Uma parceria com a Magna, empresa que adquiriu a Opel, pode levar a Omnidea a fornecer reservatórios de alumínio de alta resistência para anestésicos líquidos. E, na indústria automóvel, a Omnidea pretende desenvolver reservatórios sem cordão de soldadura para armazenamento de gás natural comprimido para utilização nos autocarros ou automóveis. Nuno Fernandes, da Omnidea, garante que a solução da empresa é mais segura e terá um menor custo. Outro projecto que tem ocupado o tempo de Tiago Pardal é o de captação de energia do vento a grandes altitudes. E se este projecto, designado Boreas, começou na energia, pode ser transferido para o espaço, já que se trata de um balão superevoluído que pode subir até à estratosfera. Dois projectos que poderão transformar a empresa, que hoje em dia ainda tem o seu negócio concentrado nos projectos ESA (80%) e nunca facturou mais de 400 mil euros. |
Portugal entrou na ESA em 2000 e, a partir daí, dois elementos se conjugaram para incentivar esta indústria. A criação de cursos de engenharia aeroespacial em Portugal e os estágios proporcionados pela ESA para os estudantes portugueses. Muitas das empresas foram criadas por engenheiros que estagiaram na Agência Espacial. Se a dificuldade em entrar na ESA é referida por todas as empresas, a ideia de partirem para outras agências espaciais é ainda mais remota. Especialmente para as micro e as pequenas empresas. Tal como a ESA, também as outras agências protegem as empresas compatriotas. Há excepções. Critical Software e Corticeira Amorim já foram referenciadas como tendo negócios na NASA, a agência norte-americana.
Construir virtualmente como se fosse um jogo O nome é associado a evolução. A Evolve teve a sua génese na Oristeba, criada em 2004, quando ganhou o primeiro contrato na Agência Espacial Europeia para a verificação e validação de "software". A evolução levou à mudança de novo para Evolve, em 2008. Hoje, a empresa é muito mais do que validação e verificação de "software" e fala já em transferência de tecnologias para outras indústrias. O desenvolvimento de produtos está centrado em três áreas: virtualização, realidade virtual e posicionamento geográfico móvel. Na virtualização pretende-se, explica Nuno Duro, reconstituir o ambiente original, em termos de sistemas de informação, para poder testar novas aplicações, sem pôr em risco o sistema principal. Esta virtualização pode ser aplicada a várias indústrias, como a das telecomunicações. Já há contactos, diz Nuno Duro, que, no entanto, admite que entrar nos mercados verticais é muito difícil. Há também contactos com a indústria farmacêutica. E a empresa já garantiu um apoio do QREN (Quadro de Referência Nacional) para o desenvolvimento da solução Virtu. A própria ESA beneficiará com o desenvolvimento deste produto, assume Nuno Duro. Uma outra área é a realidade virtual, ou na terminologia anglo-saxónica "immersive systems" ou sistemas intrusivos, que traz a estrutura dos jogos de computador para o espaço e, no futuro, para outras indústrias. Por isso, se vê na Evolve comandos Wii, que são utilizados apenas nas demonstrações. Na realidade, são utilizados ratos tri-dimensionais e que permitem testar e praticar as assemblagens de componentes. "A indústria de jogos está muito desenvolvida nas três dimensões", explica Nuno Duro, admitindo que não só permite melhores testes como melhora a interacção dos vários intervenientes ao longo da construção de determinado equipamento. A terceira área é o posicionamento de alta precisão (20 centímetros). Três áreas que poderão, ao serem exportadas para outras indústrias, fazer crescer a Evolve, que este ano terminará com 750 mil euros de negócios contratualizados, quase tudo na área espacial. |
Mas se as empresas reivindicam mais participação de Portugal na ESA, a delegação portuguesa chama a atenção para a necessidade de haver transferência de tecnologia do espaço para outras indústrias. Só assim se consegue elevar os níveis de negócio e rendibilidade das empresas, não as tornando dependentes de uma única fonte. Ainda assim, muitas das empresas contactadas têm, ainda, a sua principal fonte de rendimento na ESA, mas são empresas relativamente jovens.
Se o programa de desenvolvimento do Galileo, a constelação de satélites para a construção de um sistema de navegação europeu, foi uma importante alavanca de crescimento para as empresas portuguesas, a próxima grande oportunidade estará na observação da terra.