Notícia
Os negócios porta a porta estão de volta
Recuperando tradições ou afirmando-se como verdadeiros produtos do segundo milénio os negócios porta a porta têm surgido um pouco em todas as áreas. Em comum, dispõem de modelos simples e estruturas de custos baixas...
08 de Abril de 2010 às 11:29
Recuperando tradições ou afirmando-se como verdadeiros produtos do segundo milénio os negócios porta a porta têm surgido um pouco em todas as áreas. Em comum, dispõem de modelos simples e estruturas de custos baixas.
Há vinte anos não era estranho que o peixe fresco fosse ter à porta de casa pela mão do vendedor. Ou o pão, ou os legumes. E hoje também não é. Pelo menos nos locais onde a tradição de venda porta a porta se mantém, sobretudo no interior, ou naqueles em que esta forma de comércio está a renascer, em novos moldes.
Rita Eismann, Miguel Zegre e Cristina Couto Soares são três empreendedores que recuperaram tradições e deram-lhes um toque de modernidade. Há vinte anos quando o pão ou o peixe eram entregues em casa a encomenda não tinha sido feito pela Internet. Nos negócios que Rita ou Miguel montaram é assim que se processa o contacto com o cliente. Rita explica que a criação de uma página Web que aceitasse as encomendas dos clientes da Sabores da Manhã foi um dos investimentos de relevo que teve de fazer no lançamento do seu negócio, nascido em meados do ano passado.
A empresa de Rita leva pão fresco, bolos, leite e jornais todas as manhãs a quem quiser um pequeno-almoço com produtos do dia sem sair de casa e estiver na sua zona de abrangência. "A pessoa das entregas nem chega a ver o cliente", confirma Rita. Quando o cliente acorda já pode ter os produtos pendurados na porta, dentro do prédio, no quintal. A forma de entrega é combinada caso a caso, ao contrário da encomenda que deve sempre passar pelo canal online, salvo quando o cliente não tem meios para o fazer o que, como explica Rita, não é habitual.
O porta a porta de Miguel Zegre também passa pela Internet e veio colmatar uma lacuna que o próprio sentiu na pele quando trocou Sesimbra por Lisboa: como ter peixe fresco em casa sem que isso signifique deixar o carro com um cheiro insuportável durante semanas? Falou com um amigo, ligado à pesca e em 2006 puseram mãos à obra.
As encomendas são sempre feitas online pelos clientes até à quinta-feira às 17 horas. Não há stocks de peixe, nem loja física. A encomenda semanal de peixe é feita "com base nas escolhas prévias do cliente". Fisicamente existe apenas um armazém onde o peixe é arranjado e colocado em caixas de plástico prontas a ir ao frigorífico ou congelador, após a entrega em casa do cliente.
Conseguir a confiança do consumidor foi difícil? Nem por isso. Miguel admite que o assunto era uma preocupação para si e para o sócio Manuel Cardoso, mas acabou por não impedir o sucesso deste seu part-time. Para conquistar a confiança do cliente a Peixe Fresco impôs uma regra: quando o cliente não fica satisfeito o dinheiro é devolvido. Por outro lado, o facto de ser um "produto que as pessoas valorizam tem permitido alguma rentabilidade".
O sucesso está no valor da oferta
O valor percepcionado pelo cliente neste tipo de ofertas parece de facto ser a chave do sucesso e o elemento crucial para fazer funcionar o boca a boca que divulga o negócio e ajuda a ultrapassar eventuais receios que resultem da ausência de uma presença física, onde o produto possa ser visto e mexido.
Cristina Couto Soares sente isso por parte da sua clientela e já ouviu vários elogios os seus legumes e frutas frescas, que nascem da agricultura biológica e chegam à mão do cliente certificados como tal. Por semana ou quinzenalmente, passa à porta dos clientes com uma cesta cheia de produtos da época que tenta jogar com as preferências de cada comprador, mas que em última análise é ela que prepara, tendo em conta a diversidade e quantidade recebida todas as semanas. Os clientes em regra aceitam as sugestões.
Cristina acredita que o sucesso do projecto, ainda confinado à região do grande Porto, embora não por falta de propostas de expansão, também se deve ao facto de ter nascido numa altura em que as pessoas já estavam "despertas para a importância de manter uma alimentação saudável". Entre os clientes encontra famílias com filhos, sem filhos, avós que cozinham para os netos e uma diversidade estruturas familiares que podem divergir no tamanho mas partilham a consciência da necessidade de uma alimentação saudável.
A fórmula do negócio é simples, bem como a própria estrutura. Tem um local para receber e preparar os legumes e as frutas que comercializa e uma carrinha para fazer a distribuição dos bens, que seguem frescos para o cliente num dia fixo da semana. Quando entrega os pedidos deixa com o cliente algumas receitas que ajudam a multiplicar as formas de os confeccionar.
A empreendedora viu o negócio crescer tão depressa que só quando se aproximou da meia centena de clientes parou para registar uma marca e criar uma página de Internet, que hoje ajuda a chamar novos clientes e a divulgar a oferta, embora com pouca expressão. Nas fichas de cliente que guarda de cada comprador dos seus produtos são muitas mais as referências daqueles que chegam porque alguém da família já usava a Horta à Porta.
Tal como no caso de Rita, o porta a porta surgiu na vida de Cristina como uma saída para uma situação de emprego pouco estável. Ambas recorreram a apoios do Instituto de Emprego e Formação Profissional para avançar com os respectivos projectos e criar duas interpretações de negócios tradicionais que renascem adaptadas aos novos tempos. No caso da Sabores da Manhã, pela forte componente online do negócio. No caso da Horta à Porta pela preocupação em entregar apenas ao cliente produtos de agricultura biológica certificados de acordo com normas que adoptam princípios internacionais.
Mas o porta a porta do segundo milénio não se faz apenas da recuperação de modelos de negócio tradicionais com um novo embrulho, como atestam vários projectos. A Maleta Vermelha é um deles. O conceito é espanhol e chegou ao mercado português em Setembro de 2007.
Alexandra Leal foi a primeira mulher portuguesa a carregar a Maleta Vermelha cheia de produtos eróticos e ajudou a dar uma nova dimensão ao conceito de reuniões da Tupperware. A lógica de divulgação e venda dos produtos é a mesma que usava a marca de caixinhas em plástico, o público também não difere muito, a proposta comercial é que é diferente.
Embora não existisse outra oferta com estas características no mercado português na altura em que a Maleta Vermelha chegou a Portugal, o que - como sublinha Alexandra - deu ao projecto um papel importante no combate ao desconhecimento em relação à sexualidade, o caminho fez-se rapidamente e não foi difícil fazer crescer o negócio. Hoje são cerca de 60 as assessoras que mensalmente carregam a mala vermelha para uma média de mil reuniões em todo o país, incluindo ilhas.
O sucesso estará relacionado com a possibilidade que a empresa criou de tratar entre amigas de um tema ainda com alguns tabus, garantindo privacidade e cativando para este mercado um público que, na sua maioria, provavelmente não se tornaria cliente de uma loja convencional de artigos eróticos.
A empresa de Rita leva pão fresco, bolos, leite e jornais todas as manhãs a quem quiser um pequeno-almoço com produtos do dia sem sair de casa e estiver na sua zona de abrangência. "A pessoa das entregas nem chega a ver o cliente", confirma Rita. Quando o cliente acorda já pode ter os produtos pendurados na porta, dentro do prédio, no quintal. A forma de entrega é combinada caso a caso, ao contrário da encomenda que deve sempre passar pelo canal online, salvo quando o cliente não tem meios para o fazer o que, como explica Rita, não é habitual.
| |||
|
O porta a porta de Miguel Zegre também passa pela Internet e veio colmatar uma lacuna que o próprio sentiu na pele quando trocou Sesimbra por Lisboa: como ter peixe fresco em casa sem que isso signifique deixar o carro com um cheiro insuportável durante semanas? Falou com um amigo, ligado à pesca e em 2006 puseram mãos à obra.
As encomendas são sempre feitas online pelos clientes até à quinta-feira às 17 horas. Não há stocks de peixe, nem loja física. A encomenda semanal de peixe é feita "com base nas escolhas prévias do cliente". Fisicamente existe apenas um armazém onde o peixe é arranjado e colocado em caixas de plástico prontas a ir ao frigorífico ou congelador, após a entrega em casa do cliente.
Conseguir a confiança do consumidor foi difícil? Nem por isso. Miguel admite que o assunto era uma preocupação para si e para o sócio Manuel Cardoso, mas acabou por não impedir o sucesso deste seu part-time. Para conquistar a confiança do cliente a Peixe Fresco impôs uma regra: quando o cliente não fica satisfeito o dinheiro é devolvido. Por outro lado, o facto de ser um "produto que as pessoas valorizam tem permitido alguma rentabilidade".
| |||
|
O sucesso está no valor da oferta
O valor percepcionado pelo cliente neste tipo de ofertas parece de facto ser a chave do sucesso e o elemento crucial para fazer funcionar o boca a boca que divulga o negócio e ajuda a ultrapassar eventuais receios que resultem da ausência de uma presença física, onde o produto possa ser visto e mexido.
Cristina Couto Soares sente isso por parte da sua clientela e já ouviu vários elogios os seus legumes e frutas frescas, que nascem da agricultura biológica e chegam à mão do cliente certificados como tal. Por semana ou quinzenalmente, passa à porta dos clientes com uma cesta cheia de produtos da época que tenta jogar com as preferências de cada comprador, mas que em última análise é ela que prepara, tendo em conta a diversidade e quantidade recebida todas as semanas. Os clientes em regra aceitam as sugestões.
Cristina acredita que o sucesso do projecto, ainda confinado à região do grande Porto, embora não por falta de propostas de expansão, também se deve ao facto de ter nascido numa altura em que as pessoas já estavam "despertas para a importância de manter uma alimentação saudável". Entre os clientes encontra famílias com filhos, sem filhos, avós que cozinham para os netos e uma diversidade estruturas familiares que podem divergir no tamanho mas partilham a consciência da necessidade de uma alimentação saudável.
| |||
|
A fórmula do negócio é simples, bem como a própria estrutura. Tem um local para receber e preparar os legumes e as frutas que comercializa e uma carrinha para fazer a distribuição dos bens, que seguem frescos para o cliente num dia fixo da semana. Quando entrega os pedidos deixa com o cliente algumas receitas que ajudam a multiplicar as formas de os confeccionar.
A empreendedora viu o negócio crescer tão depressa que só quando se aproximou da meia centena de clientes parou para registar uma marca e criar uma página de Internet, que hoje ajuda a chamar novos clientes e a divulgar a oferta, embora com pouca expressão. Nas fichas de cliente que guarda de cada comprador dos seus produtos são muitas mais as referências daqueles que chegam porque alguém da família já usava a Horta à Porta.
Tal como no caso de Rita, o porta a porta surgiu na vida de Cristina como uma saída para uma situação de emprego pouco estável. Ambas recorreram a apoios do Instituto de Emprego e Formação Profissional para avançar com os respectivos projectos e criar duas interpretações de negócios tradicionais que renascem adaptadas aos novos tempos. No caso da Sabores da Manhã, pela forte componente online do negócio. No caso da Horta à Porta pela preocupação em entregar apenas ao cliente produtos de agricultura biológica certificados de acordo com normas que adoptam princípios internacionais.
Mas o porta a porta do segundo milénio não se faz apenas da recuperação de modelos de negócio tradicionais com um novo embrulho, como atestam vários projectos. A Maleta Vermelha é um deles. O conceito é espanhol e chegou ao mercado português em Setembro de 2007.
Alexandra Leal foi a primeira mulher portuguesa a carregar a Maleta Vermelha cheia de produtos eróticos e ajudou a dar uma nova dimensão ao conceito de reuniões da Tupperware. A lógica de divulgação e venda dos produtos é a mesma que usava a marca de caixinhas em plástico, o público também não difere muito, a proposta comercial é que é diferente.
| |||
|
Embora não existisse outra oferta com estas características no mercado português na altura em que a Maleta Vermelha chegou a Portugal, o que - como sublinha Alexandra - deu ao projecto um papel importante no combate ao desconhecimento em relação à sexualidade, o caminho fez-se rapidamente e não foi difícil fazer crescer o negócio. Hoje são cerca de 60 as assessoras que mensalmente carregam a mala vermelha para uma média de mil reuniões em todo o país, incluindo ilhas.
O sucesso estará relacionado com a possibilidade que a empresa criou de tratar entre amigas de um tema ainda com alguns tabus, garantindo privacidade e cativando para este mercado um público que, na sua maioria, provavelmente não se tornaria cliente de uma loja convencional de artigos eróticos.