E se em vez de deitar fora o lixo produzido se pudesse aproveitá-lo, mesmo em casa, dando origem a novos produtos? Desta ideia nasceu a Oon cujo negócio passa pela transformação de óleos alimentares usados em velas decorativas. A ideia é inovadora no produto final mas também no processo - que envolve um electrodoméstico de utilização doméstica para as pessoas criarem, elas próprias, as velas.

Talvez não fosse o ciclo económico mais feliz para lançar um negócio que passa pela adopção de um produto inovador, mas o promotor desta empresa que "desenvolve soluções de reciclagem, que resolvem o problema do lixo onde ele é criado (em ambiente doméstico)", tinha uma convicção baseada em duas premissas: a primeira era "que o mercado de óleos usados é gigante e sem grande valorização", a segunda, "que o mercado das velas é gigante e sem grande diferenciação."

Mário Silva, 35 anos, com uma carreira em "marketing", gestão de negócio e planeamento estratégico, em empresas como Sonae ou McCann Ericksson, concluiu que do cruzamento destas duas premissas podia nascer um produto que valoriza o primeiro (mercado dos óleos usados) e diferencia-se no segundo (mercado das velas).

No exportar é que está o ganho
Com base nesta conclusão, e num investimento externo de três milhões de euros, o empreendedor criou, desenvolveu, produziu e colocou, recentemente, no mercado a Oon Candlemaker e a Oonique Candles. A Oon vende pequenas máquinas que permitem a mutação de um óleo em fim de vida numa vela que a vai iniciar. Na calha estão já identificados, e em fase de conceptualização, mais dois electrodomésticos de reciclagem doméstica que deverão ainda demorar cerca de três anos até serem colocados no mercado.

Não é fácil, nem barato, colocar um produto de consumo inovador de base tecnológica no mercado, nem no nacional, nem, sobretudo, no internacional. No mercado interno é um risco porque Portugal "não tem uma cultura de 'fast consumer goods' tecnológicos", e menos ainda se estes forem inovadores - "pela dimensão do risco ao qual somos por natureza avessos", considera o empreendedor. Por outro lado, tratando-se não de serviços mas de bens transaccionáveis e de exportação, outro receio prende-se com o facto de "em Portugal não haver uma cultura de criação e gestão de marcas e negócios, que criem, produzam e comercializem aparelhos electrodomésticos no mundo. Muito menos se estes forem inovadores."

Mudar esta realidade é um dos desafios enfrentados pela Oon que, este ano, está a lançar o seu produto no mercado europeu e, paralelamente, a preparar a sua estreia nos Estados Unidos, Canadá e Brasil, mercados onde conta estar presente em 2011.

Produtos chegam à Amazon
A empresa portuguesa Oon emprega 11 pessoas e opera desde Portugal para o mercado europeu. Os seus clientes são o consumidor final através da loja "on-line" e da Amazon mas também, recentemente, as primeiras lojas de retalho começaram a apostar neste produto. Em diversas cores - laranja, azul, preto, lilás, brancos -, estes pequenos electrodomésticos de reciclagem podem ser encontrados, em Portugal, na Temporary Store, pertença do Grupo Loja das Meias, ou na Loja do Museu Berardo, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Nos mercados externos, o empreendedor espera que o produto esteja disponível nalgumas lojas ainda durante este Verão. Nas próximas semanas, os consumidores franceses, italianos e dinamarqueses passam a poder conhecer a criação lusa porque o produto da Oon estará à venda em lojas como a BBDME, em França, a Nomadedesign, em Itália, ou a Norman Copenhagen, na Dinamarca.




Quanto custa?



O Candlemaker Oon custa 296 euros e é um produto com "design" que transforma qualquer tipo de óleo vegetal em velas vegetais. De utilização simples, gasta pouca energia e mais de 50% dos seus componentes são reciclados. Na loja "on-line" da Oon (www.oonsolutions.com) vendem-se, ainda, os Candlepods Oon, um pacote de nove pequenas pastilhas, que custa 17,60 euros, que são o segredo destas velas caseiras. As pastilhas são feitas com "ingredientes ecológicos, desenvolvidos sem testes em animais, sem prejudicar o meio ambiente e sem risco para a saúde pública". Estes pequenos comprimidos vão neutralizar o cheiro do óleo de cozinha, mesmo que seja muito mau, garante o promotor. Não só as velas não vão cheirar a fritos como terão um perfume agradável e delicado. Vários aromas são possíveis: violeta, jasmim, ameixa, floral, âmbar vermelho e musk. Cada Candlepod Oon tem capacidade para produzir uma vela 125 mililitros, sem criar resíduos. Outro produto da linha são os recipientes, onde se coloca a cera e onde ficam as velas. O Oon Candleholder vende-se em caixas, a partir dos 22.10 euros. Da autoria do "designer" sueco Matz Borgstrom, premiado pelos seus trabalhos em vidro, o Oon Candleholder é feito neste material reciclado não só porque é a opção sustentável como porque garante que cada Candleholder será único e diferente dos demais.