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Mais do que sócios financeiros

A designação anglo-saxónica assim os define. Anjos de negócios, caso se traduza à letra "business angels". São investidores individuais que ajudam no financiamento de um negócio. Mas é consensual atribuir-se aos "business angels" a importância de...

24 de Julho de 2009 às 14:19
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A designação anglo-saxónica assim os define. Anjos de negócios, caso se traduza à letra "business angels". São investidores individuais que ajudam no financiamento de um negócio. Mas é consensual atribuir-se aos "business angels" a importância de terem uma rede de contactos, de saberem gerir, e de ajudarem os promotores, muitas vezes com ideias embrionárias e sem planos de negócio.

"Para se ser 'business angel', ainda que seja fundamental, não é condição suficiente dispor de recursos financeiros", revela Joaquim Menezes, presidente do Clube Open Business Angels, que reúne 11 investidores que ainda não tiveram a oportunidade de entrar em qualquer projecto, já que, como diz o responsável, "muitos ainda estavam em fase muito embrionária, de ideia, pelo que os 'business angels' apoiaram os empreendedores não com entrada de capital, mas através da sua experiência dando contributos para a elaboração do plano de negócios, para identificação de mercados, numa lógica de 'coaching'".

Mesmo quando entra no negócio, é esperada experiência do "business angel" e "alguém que ajude os promotores em termos de contactos e de gestão de empresas", refere Paulo Andrez, "business angel" que já investiu em quatro projectos, tem, actualmente, dois em análise e preside ao Clube de Cascais, com cerca de 40 membros.





José Carlos Lopes, presidente da Fluidinova, Engenharia de Fluidos, explica que alguns "business angels" são apenas investidores financeiros.



"Business angels" querem incentivos fiscais para investir

Não há falta de anjos. "Existem muitos 'business angels' em Portugal", diz Ricardo Luz.
A Federação Nacional de Associações de Business Angels (FNABA) agrega 10 clubes, que têm cerca de 300 associados.

O clube mais recente nasceu, em Julho, em Santarém. Além destes, existem outros investidores que, sem estarem integrados nestas associações, têm financiado projectos de terceiros. São "business angels", embora não se reconheçam como tal. Mas os investimentos conhecidos não são muitos. Os associados da Invicta Angels investiram em três projectos. No Clube de Cascais, os associados já participaram numa dezena de projectos. No Clube Open ainda não há casos.

Mas qual é a dificuldade? "Falta incentivos a esta actividade", diz Paulo Andrez, que se tornou "business angel" em 2006, e que explica: "alguém que tenha dinheiro para investir prefere aplicá-lo em acções na bolsa ou em outros activos, pois tem liquidez assegurada e não tem de perder tempo com empreendedores, seja a avaliar os projectos seja a acompanhá-los". É por isso que os anjos reclamam benefícios fiscais, de 20% do investimento efectuado, em sede de IRS. "Os 'business angels' deveriam ter benefícios fiscais quando investem em iniciativas embrionárias", diz Joaquim Menezes. Os "business angels" gostariam, também, de ver criados fundos de co-investimento do Estado e anjos.

Isabel Flores, da Key4Kids, que acredita poder ter agora o envolvimento financeiro de "business angels", admite que estes investidores, por norma, não estão dispostos a entrar num projecto quando este é apenas, ainda, só uma ideia. "'Business angels' num negócio que não existe, não é o caminho", disse ao Negócios esta empreendedora que teve um "business angel" a ajudá-la no início do projecto, trazendo-lhe, não dinheiro, mas serviços em troca de capital.

De facto, os "business angels", que estão a colocar o seu dinheiro, preferem projectos que sejam mais do que ideias. "Eu financio projectos que tenham sido testados em termos operacionais", diz Paulo Andrez, assumindo não estar disposto a investir num projecto de investigação e desenvolvimento, que requer grandes somas de dinheiro. O risco, esse, é altíssimo. Mas admite investir nesses projectos "se houver outros a co-investir". Ricardo Luz, da Invicta Angels, clube com cerca de 50 associados que receberam, em dois anos, 100 projectos, mas investiram até ao momento em três, afirma que "um 'business angel' financia projectos empresariais, não ideias, entrando no capital social das empresas, normalmente nas suas fases iniciais de vida, podendo estas já terem sido testadas no mercado, ou não".

Mas não se pode esquecer que os anjos são investidores. E têm a noção que, na carteira de investimentos, alguns poderão não ter sucesso. Um dos casos de sucesso falados no mercado foi o da Micropolis, onde os "business angels" saíram com retorno interessante. Mas não há em Portugal casos de milionários à conta dos projectos de "business angels". Paulo Andrez fala também de um projecto onde investiu 20 mil euros e pelo qual quintuplicou o valor quando saiu. Mas diz que o valor não era muito relevante. Quanto ao futuro, tendo em mãos três projectos, acredita que, "à partida, vão correr todos bem. Mas adianta: "estou preparado para ter um fracasso. Quem não está preparado para um fracasso, não pode investir".





Álvaro Reis O promotor do portal de conteúdos de turismo Myguide reuniu vários "business angels" para o arranque



Turismo e Internet foi a fórmula vencedora para captar investidores

Juntar turismo e Internet teria de ser uma fórmula vencedora. E, pretendendo os investidores projectos "high tech, high growth" [alta tecnologia, grande crescimento], Álvaro Reis acreditou que conseguiria reunir capitais de risco e "business angels" no portal Myguide. Até porque o principal promotor - a Transglobal, da qual é fundador - já tinha um histórico no mercado da "web". Aderiram ao projecto a Inov-Capital e cinco "business angels", que o promotor prefere não identificar, e que detêm, cada, cerca de 10% da Myguide. A Transglobal tem a principal fatia do capital, com 30%. Esta estrutura arrancou com a primeira fase do portal de turismo, lazer e cultura de Portugal e que está em fase de demonstração. Álvaro Reis acredita que ainda este ano o portal será lançado já com uma versão mais virada para a "web 2.0", ou seja, com interactividade com os utilizadores. "Estamos a finalizar a primeira fase", diz Álvaro Reis, explicando que apenas quando o projecto for lançado na plenitude é que poderá haver necessidade de uma segunda ronda de financiamento. E, aí, poderá resultar na abertura de capital a novos investidores. O Myguide foi concebido para ser desenvolvido em várias fases e, além do portal, a empresa quer desenvolver outros conteúdos. Os "business angels" que participam no projecto "são puramente investidores", nuns casos, e outros "garantem sinergias e consultoria" e ajudam no "coaching", diz Álvaro Reis. Quando abordou os "anjos", "já tinha o plano de negócios para mostrar" e, por isso, diz, "não foi muito difícil" captá-los.

A maior parte não espera sair da empresa onde investiu em menos de três anos, mas gostaria de ver o retorno chegar entre cinco e oito anos. Não há um nível de financiamento, até porque, como diz Ricardo Luz , "depende da qualidade e potencial do projecto e dos promotores e do perfil de risco de cada um dos 'business angels'", bem como da sua capacidade financeira e das necessidades de capital envolvidas. Os valores médios investidos pelos "business angels" rondam 50 mil euros por empresa, segundo algumas estimativas. Um valor que pode ser baixo face às necessidades.

O problema, hoje em dia, está na falta de oportunidades de saída dos projectos, com retorno para os investidores. Vender aos promotores ou a outros investidores, incluindo a empresas da mesma área, são as duas oportunidades mais viáveis de saída. A bolsa "é para esquecer", diz Paulo Andrez.

Alta tecnologia nascida na universidade e que partiu para o mercado

Verdadeiramente de alta tecnologia. A Fluidinova nasceu há cerca de três anos e meio, na perspectiva de colocar no mercado tecnologia desenvolvida na Faculdade de Engenharia do Porto, há cinco anos. Tem registadas três patentes, que se traduzem em produtos para o mercado.

Os serviços industriais - como simulação dinâmica energética de edifícios, certificação energética e computação em Fluídos Dinâmicos em processos industriais e ambiência de edifícios - deram à Fluidinova negócio. E com empresas como a Efacec ou a Chamartín.

No laboratório no Tecmaia, a alta tecnologia está sempre por perto. O material que é a base substituta óssea poderá ter "a nível mundial uma procura explosiva", acredita José Carlos Lopes, que diz que esta matéria poderá ser utilizada na cosmética, mas também ao nível da medicina. A internacionalização é, pois, uma aposta forte e já começou por Inglaterra.

Mas há mais. O Robot Laboratorial de Aplicação e Teste de Tintas é outro exemplo do resultado de investigação e desenvolvimento da empresa. Ou ainda a tecnologia para produção de plásticos reactivos. "Estamos, neste caso, a começar", diz José Carlos Lopes.

Os projectos já levaram a um reforço no capital. Começou com 100 mil euros, mas há cerca de ano e meio foi elevado para 1,2 milhões. Quando arrancou, os investidores ligados à universidade precisavam, não apenas de capital, mas de ajuda para formatar um plano de negócios e gerir a empresa. "Nessa altura procurava pessoas com experiência de gestão e de mercado". Encontrou vários "business angels", sendo o mais activo no negócio Ricardo Luz. Ao fim de dois anos o financiamento estava conseguido, com três "business angels" e com capitais de risco (API Capital, Change Partners e PME Investimento). A API Capital saiu e a Change Partners tornou-se o principal investidor. A Fluidinova emprega 16 pessoas.
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