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Inovar sem perder as raízes da tradição

Quem viajou nos últimos anos para a zona da Beira interior já se deparou certamente com a marca Aldeias do Xisto, que se estende do turismo de habitação e oferta de hotelaria aos produtos de gastronomia e artesanato da região, conhecida por Pinhal...

Inovar sem perder as raízes da tradição
25 de Fevereiro de 2010 às 11:23
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Hotelaria, artesanato, gastronomia, paisagens naturais e dinamização da economia local andam de mãos dadas em três projectos que levam inovação para o mercado do turismo. Mas que mantêm a ligação às tradições e fazem disso um factor diferenciador da oferta.

Quem viajou nos últimos anos para a zona da Beira interior já se deparou certamente com a marca Aldeias do Xisto, que se estende do turismo de habitação e oferta de hotelaria aos produtos de gastronomia e artesanato da região, conhecida por Pinhal Interior. E se acha que nunca viu a marca, vale a pena olhar melhor o rótulo de produtos comprados ou de folhetos de actividades turísticas, porque as Aldeias do Xisto já ganharam reconhecimento a nível nacional e internacional, sendo um caso de sucesso da fusão do turismo de natureza e cultural com a inovação nos modelos e nos processos desenvolvidos.

O conceito é simples, embora envolva grande integração e coordenação de iniciativas públicas e privadas. Partindo de uma base territorial propícia ao turismo de natureza e de um património rústico de aldeias que formavam um conjunto arquitectónico interessante, promoveu-se a requalificação patrimonial com o apoio de fundos comunitários. "Com a dinâmica criada, que levou à recuperação de mais de 500 casas, considerou-se que devia ser constituída uma marca territorial, porque percebemos que este era um elemento que unia todas as entidades e era um factor aglutinador, com capacidades de projecção nacional e internacional", explica Paulo Fernandes, presidente da ADXTUR e vice-presidente da câmara do Fundão. Foi assim que nasceu o selo Aldeias do Xisto, que foi depois assumido por uma associação sem fins lucrativos que junta entidades públicas e privadas, a ADXTUR que é actualmente a promotora do projecto e que tem vindo a desenvolver o conceito e alargá-lo a diferentes valências.

Combater a desertificação

"Esta é uma região que nas últimas três ou quatro décadas foi afectada pelo abandono do território, para a emigração e a fuga para as cidades, e que tem um problema de baixa qualificação, mas onde existe um património rústico vernacular que constituía um recurso passível de ser explorado", justifica Paulo Fernandes, entusiasta do projecto, e defensor das vantagens agregadoras de reunir à volta da mesma ideia de promoção do território diferentes entidades públicas e concelhos de forma a criar um efeito de escala.





"Queremos integrar esta rota nos percursos internacionais e nos caminhos de Santiago."

Marta Cabral Directora executiva da associação Casas Brancas
Casas Brancas http://www.casasbrancas.pt/
Localização Costa Vicentina, no Alentejo litoral e no Algarve de costa atlântica
Ano de criação 2002
Oferta de camas 450
Número de pessoas envolvidas directamente Mais de 150 (contando com proprietários das casas e pessoal afecto ao serviço)
Principais iniciativas desenvolvidas Desenvolvimento de uma Carta de Qualidade, promoção do Licenciamento Turístico e de actividades culturais na região.




Horizontes mais ambiciosos

No litoral sul, "entalado" entre o Alentejo e o Algarve, o projecto Casas Brancas teve um arranque difícil mas começa agora a ganhar a dinâmica e a abrir portas aos apoios institucionais e reconhecimento das entidades oficiais. Começou por reunir os proprietários de oferta de alojamento da reunião, à procura de maior projecção e de uma marca de qualidade, mas acabou por ir alargando horizontes também com a integração de oferta de hotelaria e actividades turísticas, que dão nova sustentabilidade à atracção de visitantes para a região. A cultura e as actividades tradicionais não foram esquecidas, e a associação das Casas Brancas é hoje organizadora de algumas actividades neste âmbito, estando a ser desenvolvido um projecto de recuperação de rotas pedestres que cruzam com o Caminho de Santiago e a ligação a Sagres, e que restabelecem um percurso de valor histórico e religioso que pode trazer também um novo público à região, oriundo sobretudo da Europa Central.


A ADXTUR junta actualmente perto de 120 entidades, das quais 25 são públicas, enquanto entre os privados se encontram agentes de hotelaria, restauração e alojamento em espaço rural. Desde 2007 que a dinâmica na região não tem abrandado, tendo sido constituída a rede de praias fluviais, baseada na qualidade da rede hidrográfica e a rede de lojas das Aldeias do Xisto, a par da promoção da animação cultural, actividades de turismo da natureza e desenvolvimento de produtos de base local. "Com estes projectos fomos dando substância e conteúdo à oferta turística depois da génese da rede das Aldeias", sublinha o presidente da associação.

A promoção da actividade económica da região não foi colocada de lado. Ao criar um pólo de atracção turística estão a ser estimuladas as actividades locais relacionadas com o alojamento, restauração e animação turística. "Sentimos uma atracção de investimento, não só da própria região, onde os proprietários de casas e restaurantes querem qualificar o seu património, mas também de fora, alguns de grande dimensão", adianta Paulo Fernandes.

Uma dinâmica que poderá criar uma oferta de 500 camas em turismo de espaço rural, mais mil em unidades hoteleiras que também vendem a marca e cerca de 1.000 empregos até Junho de 2012, quando fecha o quadro comunitário que sustenta uma boa parte dos investimentos.
Diferente da lógica de resorts, parte do segredo do projecto das Aldeias do Xisto está precisamente no envolvimento da comunidade, que cria uma perspectiva de autenticidade. Os habitantes das aldeias tornaram-se empreendedores, requalificando casas que foram transformadas em oferta de turismo em espaço rural. Para apoiar estes pequenos empreendedores foi criada uma equipa multidisciplinar de proximidade que no terreno ajuda e dá aconselhamento na apresentação de candidaturas aos programas do QREN que contribuem com financiamento. "Este é um factor crítico para conseguir captar os investimentos e recursos financeiros" lembra o autarca, sobretudo porque existe um nível baixo de qualificação na região e uma grande rarefacção de recursos humanos.

Desenvolvimento rural
Mais próximo da fronteira com Espanha, a zona da Peneda-Gerês conta há quase duas décadas com um projecto de traços mais ambiciosos, onde o turismo também entra. A necessidade de dar apoio às populações residentes no Parque Nacional da Peneda Gerês e concelhos limítrofes, contribuindo para a melhoria das suas condições de vida mas respeitando o equilíbrio entre a paisagem, ambiente e ocupação humana do espaço, foi o elemento que deu origem à ADERE, criada em 1993 pela associação do Parque Natural com as cinco autarquias locais. O âmbito de actuação não se limita ao turismo, mas faz desta componente um elemento que sustenta a visitação do único Parque Nacional do país e de dinamização da economia local.

Sónia Almeida, coordenadora da ADERE, explica que os primeiros projectos desenvolvidos deram prioridade às questões do desenvolvimento rural, passando mais tarde a integra-se com as questões do turismo, onde é exemplar a criação da central de reservas que faz a ponte de marcações para as casas abrigo, parques de campismo e outras ofertas de alojamento das regiões da Reserva da Biosfera do parque.




"Com estes projectos fomos dando substância e conteúdo à oferta turística depois da génese da rede das Aldeias"

Paulo Fernandes Presidente da ADXTUR
Aldeias do Xisto (ADXTUR) http://www.aldeiasdoxisto.pt/
Localização Região do Pinhal Interior
Ano de criação 2007
Investimento No projecto há várias componentes de investimento público e privado, sendo que a média de financiamento comunitário nas primeiras fases rondou os 65%.
Número de entidades envolvidas 120, das quais 25 públicas (16 dos quaismunicípios da região), sendo os restantes privados da área de hotelaria, restauração e alojamento rural.
Oferta de alojamento Mais de 500 camas em turismo de espaço rural, metade das quais em execução.
Empregos criados Mais de 1000 postos de trabalho até Junho de 2012.
Principais iniciativas desenvolvidas Criação da rede de Aldeias do Xisto, da rede de Praias Fluviais (que já integra 21 praias) e da rede de lojas, a par com a dinamização de animação cultural, turismo de natureza e criação e produtos de base local.



Do isolamento para a projecção turística

A requalificação do património das aldeias da zona do Pinhal Interior foi o pretexto para o arranque da rede de Aldeias do Xisto, em 2003, mas com a dinâmica criada a ambição cresceu e surgiu a ideia de criar uma marca agregadora, que unisse a oferta e ao mesmo tempo ajudasse a projectar a imagem do projecto a nível nacional e internacional.

Para gerir o projecto, que envolve 120 entidades públicas e privadas, foi criada a associação ADXTUR, sem fins lucrativos, que tem vindo a dinamizar vários projectos paralelos que dão mais consistência à oferta turística para uma região que tem por objectivo a fixação de recursos humanos e a sua qualificação, ao mesmo tempo que preserva a cultura e o património.

O alargamento da rede das praias fluviais é um dos exemplos.

O desenvolvimento económico da região e a criação de emprego, enquanto se promove o empreendedorismo local, dando apoio aos pequenos empresários de turismo de habitação e restauração, fazem parte também do modelo adoptado e que Paulo Fernandes, presidente da ADXTUR e vice-presidente da câmara do Fundão, acredita ser um dos factores chave do sucesso das Aldeias do Xisto.

O conceito tem vindo a ser reconhecido com vários prémios internacionais, um dos quais foi entregue há dois anos numa feira em Berlim para a melhor viagem de descoberta do mundo, "um sinal de que chegamos ao mercado internacional com um factor de qualidade e diferenciação", refere Paulo Fernandes com orgulho.


O apoio de programas de qualificação das infra-estruturas, com o saneamento básico, abastecimento de água e recolha selectiva de resíduos sólidos urbanos caminhou a par com a requalificação do ambiente rural nas regiões do Parque Nacional da Peneda Gerês e Parque Natural Baixa Limia Serra do Xurês, que também apostou na formação profissional de guias rurais e de montanha, guardas florestais e vigilantes da natureza, qualificando recursos e motivando a sua fixação no território.

E tudo isto não foi feito sem dificuldades a ultrapassar, especialmente geradas pela desconfiança de uma população envelhecida e com baixa escolaridade, que tinha dúvidas sobre o papel da associação no território e as mais valias que poderiam ser geradas. Ao mesmo tempo verificava-se também "a falta de parceiros no domínio da iniciativa privada, uma vez que os jovens saem do território para estudar e muitas vezes acabam por não regressar", justifica a coordenadora do projecto. Um movimento que se tem tentado contrariar e que já conta com bons exemplos de retorno às aldeias e a sua fixação.

No rol de iniciativas da ADERE a lista de projectos desenvolvidos é enorme e diversificada. Sónia Almeida lembra que há que considerar o facto da associação estar a trabalhar num território que constitui um produto único no país, já que é o único Parque Nacional, o que traz contornos diferentes de outras experiências locais. Mas reconhece com satisfação que ao longo de duas décadas o cenário foi mudando e "tem-se verificado a atracção de pessoas ao território, a dinamização de empregos (alojamentos turísticos, parques de campismo e serviços associados) e a consequente fixação de pessoas". Por isso mostra entusiasmo com o impacto conseguido na região, onde foi possível valorizar os recursos endógenos, divulgando os produtos locais, tendo em consideração a sua qualidade.

O impacto do projecto também se faz sentir além-fronteiras. Mesmo com tantos campos de intervenção local, a promoção internacional fez também parte das metas da ADERE e uma das provas é que os alojamentos têm uma grande procura por parte de estrangeiros, sobretudo espanhóis, franceses, holandeses e ingleses, países onde o turismo de natureza é bastante valorizado, assim como os trilhos pedestres, uma das áreas onde a ADERE tem investido e que permite aos caminhantes um contacto mais próximo com a paisagem e os recursos naturais.

Rotas ao Sul
Com uma estrutura muito diferente e sem a mesma rede de sustentação garantida pelo apoio de entidades públicas e fundos comunitários, a associação das Casas Brancas tenta dinamizar na zona do Alentejo Litoral e Algarve atlântico um projecto de turismo de qualidade que começou pela simples associação de proprietários de casas de turismo de habitação e tem vindo a crescer em ambição e dinamismo. Marta Cabral, directora executiva da associação, lembra que a iniciativa conseguiu juntar inicialmente 15 casas que procuravam uma forma de ganhar mais visibilidade através de um site onde promoviam a sua oferta de alojamento, mas que não abdicava da qualificação, com a criação de uma carta de qualidade e a promoção do licenciamento turístico, que era praticamente inexistente.

A Associação representa os empresários de turismo da região, correspondendo aos concelhos de Grândola, Santiago do Cacém, Sines, Odemira, Aljezur, Vila do Bispo e Monchique, e "tem como objectivo promover os associados e representá-los institucionalmente, defendendo os seus interesses e o crescimento sustentável da região, enquanto destino europeu de turismo de natureza", explica Marta Cabral.

A falta de apoio das entidades públicas foi durante muito tempo uma das grandes dificuldades encontradas pelo projecto, já que não existia sensibilidade para valorizar os projectos que estavam a ser desenvolvidos. "Era uma questão quase moral. Sentíamos que tínhamos um projecto que era muito interessante, de pessoas empenhadas, e havia uma grande frustração por não existir maior apoio ou pelo menos portas mais abertas para as ideias que apresentávamos", refere Marta Cabral.




"Tem-se verificado a atracção de pessoas ao território, a dinamização de empregos (alojamentos turísticos, parques de campismo e serviços associados) e a consequente fixação de pessoas."

Sónia Almeida Coordenadora da ADERE
ADERE http://www.adere-pn.pt/
Localização Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) e concelhos limítrofes (Reserva da Biosfera)
Ano de criação 1993
Investimento 2 milhões de euros (considerando dois grandes projectos terminados em 2008)
Número de colaboradores envolvidos directamente no projecto 14
Principais iniciativas desenvolvidas A ADERE está focada no desenvolvimento regional e no apoio à população do Parque Nacional. A dinamização do turismo e da visitação é apenas um dos componentes da actividade.



Ligação estreita com o Parque Nacional

O turismo é apenas uma das componentes da actividade da ADERE-Peneda Gerês, Associação de Desenvolvimento das Regiões do Parque Nacional da Peneda Gerês, que foi criada em 1993 em estreita ligação entre o Parque Nacional, cinco Câmaras da região e contando ainda com o apoio da Região de Turismo do Alto Minho e da CCDR- Norte. A associação tinha como objectivo actuar de forma global e integradora no território na área do desenvolvimento rural, e por isso os projectos desenvolvidos estenderam-se por múltiplas valências, das infra-estruturas ao saneamento básico, passando pela modernização das actividades agrícolas para as tornar rentáveis e a qualificação da população em actividades ligadas à natureza.

E o investimento local também foi dinamizado, existindo uma oferta crescente de casas em turismo rural e de habitação e uma oferta mais diversificada na restauração e actividades de lazer.

Com os olhos no futuro os planos em desenvolvimento são múltiplos e abrangem as diferentes valências cobertas pela ADERE, entre os quais se contam uma candidatura a um financiamento comunitário para promover a valorização das actividades tradicionais ligadas à cerâmica, linho e vidro, e que conta com parceiros da Grécia, Roménia, França, Eslovénia e Espanha.

Mas garantida também é a continuidade da de dinamização da visitação no PNPG e o objectivo de alargar a intervenção da associação para fora da área de intervenção do Parque Nacional.


Com muito empenho e coragem, esta situação está já ultrapassada e a associação foi conseguindo abrir as portas necessárias para ganhar "peso" junto das câmaras municipais, com as quais já desenvolve vários projectos, entre os quais uma rota de percursos pedestres que tenta recuperar um importante troço histórico-religioso, ligado aos Caminhos de Santiago e às rotas que ligavam a Sagres. "Queremos integrar esta rota nos percursos internacionais e nos caminhos de Santiago […]. Sentimos que este é um produto muito e que estamos a um passo de o concretizar", sublinha a directora executiva da associação.

Esta pode também ser uma das pontes para a desejada internacionalização da promoção das Casas Brancas. O turismo de rotas pedestres tem grande procura na zona da Europa Central, sobretudo com a combinação do clima e das paisagens da Costa Vicentina, e é ai que está uma das grandes apostas da associação. Por enquanto, o "site" das Casas Brancas tem algumas áreas traduzidas para espanhol, inglês e alemão, mas estão a ser finalizadas as traduções para francês, sueco, holandês e italiano, que são importantes para dar aos visitantes estrangeiros um contexto da oferta na sua própria língua.
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