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Inovação - Directamente da Universidade para as empresas

Numa aproximação ao meio empresarial, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto põe os seus alunos de mestrado a trabalhar em projectos onde a criatividade, o empreendedorismo e o trabalho em equipa beneficiam directamente empresas como a PT Inovação e a Inova+.

29 de Julho de 2010 às 14:36
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Um médico dermatologista regista imagens de um sinal do paciente, enquanto uma aplicação informática faz a sua análise, atribuindo-lhe um determinado grau de gravidade - cancerígeno ou não - com base no tamanho, cor, diâmetro, regularidade e histórico paciente. O "software" permite verificar a evolução de um dado sinal ao longo do tempo e realizar comparações entre sinais com as mesmas características.

Estas são algumas possibilidades de ajuda ao diagnóstico médico propostas pelo Cancer Analysis System, uma das 12 soluções desenvolvidas, este ano, pelos alunos do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MEIC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em parceria com um conjunto de empresas.

As soluções são criadas no âmbito da disciplina de Laboratório de Gestão de Projectos (LGP), e o objectivo é desenvolver um produto à medida de determinada "empresa-cliente".









"Com o LGP, temos a oportunidade de testar ideias e tecnologias num produto real, com prazos muito curtos, bem como trabalhar com alunos que estarão em breve no mercado".

Paulo Pereira Engenheiro informático da Tecla Colorida
Cliente Tecla Colorida
Produto MagicMindSolutions
Resumo Desenvolver um serviço "web" que permita o desenho colaborativo em tempo real. Tendo como público-alvo as crianças, o serviço disponibiliza ao usuário duas ferramentas de desenho, uma orientada para desenho livre e uma ferramenta de diagramas. Pensada para o uso de dispositivos "touch", a aplicação suporta ainda um sistema de "chat" simples entre os participantes, exportação de desenhos e um sistema de "playback" que permite voltar a revisões antigas.





Complementaridade educativa

Diversos colaboradores da Tecla Colorida são ex-alunos da FEUP e conhecem bem a disciplina de Laboratório e Gestão de Projecto (LGP) e o seu interesse, o que levou a empresa a participar na edição 2010 da iniciativa, com uma proposta. "Com o LGP temos a oportunidade de testar ideias e tecnologias num produto real, com prazos muito curtos, bem como trabalhar com alunos que estarão em breve no mercado", refere Paulo Pereira.

Para o engenheiro informático, parte dos bons resultados da experiência estão na simplicidade da parceria.

"É-nos apenas pedida uma ideia, mais ou menos definida, de um projecto concreto cuja dimensão e complexidade se adaptem a um grupo de alunos. Em troca, temos esse grupo de alunos organizados como uma 'empresa fictícia', a concretizar essa ideia para nós, clientes de LGP." A partir daqui, tudo recai na relação cliente-alunos, que poderá ser tão próxima e frequente quanto ambas as partes quiserem. "No nosso caso, fomos comunicando ao longo de todo o processo e reunindo frequentemente para ir definindo partes do produto a par com os alunos, colocando-os à vontade para darem as suas ideias e sugestões".

O balanço não podia ser melhor. "Foi a primeira vez que participámos, e tendo o resultado sido bastante positivo, ficámos com muita vontade de participar novamente no futuro".





Estes "clientes" identificam áreas onde supostamente precisam de investir e lançam esse desafio aos estudantes, que dispõem de um semestre para desenvolver as aplicações informáticas.

Soluções à medida
As empresas são, actualmente, "cúmplices" essenciais nas metas estabelecidas para o LGP. Embora com outra designação, a disciplina existe desde o início do curso de Engenharia Informática e Computação, tendo funcionado pela primeira vez no 1º semestre de 1998/1999. A princípio, e até 2003/2004, teve projectos gerados, na sua maioria, internamente na FEUP. Só a partir dessa altura é que se orientou definitivamente para projectos exteriores à universidade, propostos pelas empresas.

Estas têm aderido "bastante bem" logo desde as primeiras edições da unidade curricular, tendo o seu interesse crescido ao longo destes anos, atendendo à popularidade que foi ganhando junto de todos os intervenientes: estudantes, empresas e meio envolvente. "Habitualmente recebemos entre 14 a 18 propostas de empresas para os 10 ou 12 projectos que decorrem no âmbito da unidade curricular", sublinha Rui Vidal, director do Departamento em Engenharia Informática da FEUP.

A PT Inovação é uma das empresas que acompanha a iniciativa quase desde o seu início. A associação com a FEUP surgiu há cinco anos atrás e, desde essa altura, a participação tem sido constante.

Com várias aplicações de Business Intelligence (BI) instaladas em diversos clientes espalhados pelo mundo, que recolhem, processam e integram os dados operacionais, a PT Inovação propôs, este ano, o desenvolvimento de uma aplicação de monitorização nesta área. A proposta teve como resposta o BitManager 2.0.

O produto acaba por ser uma reformulação de uma aplicação feita "dentro de portas" com adição de novas funcionalidades, que vêem cobrir algumas lacunas existentes na versão anterior, dando resposta a problemas concretos do dia-a-dia de uma equipa real da PT Inovação, explica Carla Santos, analista de Sistemas no Departamento de Sistemas de Suporte ao Negócio.









"O Laboratório de Gestão de Projecto é uma oportunidade de estudar soluções ou alternativas para algumas necessidades, desenvolver protótipos, manter contacto com novas metodologias e tecnologias apresentadas nos meios académicos e um meio de iniciar o recrutamento".

João Correia Director da unidade de "research and technological development" da Inova+
Cliente Inova+
Produto Cancer Analysis System (CAS)
Resumo A aplicação informática foi desenvolvida para ajudar no rastreio e diagnóstico de cancro da pele, a partir de imagens dos sinais dos pacientes. O "software" analisa o sinal e atribui-lhe um grau de gravidade com base no tamanho, cor, diâmetro, regularidade, histórico do paciente e, também, na forma como evoluíram outros sinais com as mesmas características.





Plantar para depois colher ideias

Esta é a quarta vez que o Grupo Inova+ se envolve nesta iniciativa, tendo-se estreado no ano lectivo 2006/2007.

"Na altura já existia um protocolo de cooperação entre a empresa e a FEUP no âmbito de projectos de I&DT e fomos convidados a apresentar uma proposta de trabalho para LGP, que aceitamos e que correu muito bem", refere João Correia.

O director da unidade de Research and Technological Development da Inova+ vê a unidade curricular como um conceito diferente em que os alunos se organizam em "equipas empresariais" trabalhando aspectos tecnológicos e organizacionais e fomentando o empreendedorismo. Já para as empresas parceiras "o Laboratório de Gestão de Projecto é uma oportunidade de estudar soluções ou alternativas para algumas necessidades, desenvolver protótipos, manter contacto com novas metodologias e tecnologias apresentadas nos meios académicos e um meio de iniciar o recrutamento".

João Correia considera, por isso, que os parceiros empresariais desta iniciativa devem proporcionar uma experiência de trabalho real, "fornecendo toda a informação necessária sobre o projecto a realizar, participando em reuniões de levantamento de requisitos e acompanhamento, participando nas apresentações e nas avaliações intermédias e finais". Em troca "recebem soluções bem desenvolvidas, testadas e documentadas para as necessidades apresentadas".





Como acontece com a PT Inovação, a maioria das soluções desenvolvidas no âmbito do LGP não são colocadas no mercado. Em média, em cada edição, são utilizados dois a três dos produtos pelas empresas clientes como ponto de partida para desenvolverem soluções internas.
A Inova+ também se enquadra neste grupo. Segundo João Correia, o Cancer Analysis System integra-se num projecto de I&D mais amplo a decorrer na empresa, denominado SkinMonitor, e permitiu estudar um conjunto de funcionalidades. Algumas vão integrar o produto final resultante do projecto. "Na nossa opinião, é importante que os alunos saibam que o trabalho que estão a desenvolver é um trabalho real que será útil para os seus 'clientes', como solução final ou como parte integrante de uma solução mais ampla".

Mas a chegada efectiva das aplicações ao mercado é uma hipótese que não se põe de lado, pelo menos para a Tecla Colorida. Na primeira vez que se associou ao LGP, a empresa apresentou uma proposta de projecto que visava a criação de um "software" para a Internet que permitisse fazer desenhos e diagramas colaborativamente em tempo real.

Paulo Pereira explica que a experiência teve um duplo objectivo: por um lado, aproveitar o LGP para experimentar ideias novas e tecnologias recentes, o que nem sempre é possível fazer no dia-a-dia; por outro, criar um produto que pudesse ser aplicado, o mais rapidamente possível, ao escolinhas.pt, uma solução própria já existente.

Os resultados obtidos foram tão satisfatórios que a empresa quer continuar a colaborar com a equipa de alunos para a evolução do projecto e disponibilização ao público ainda este ano, garante Paulo Pereira.

O que é que o LGP tem?
O modelo implementado pela disciplina do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da FEUP é elogiado por todos, não existindo dúvidas quanto às suas mais-valias.

O Laboratório tem uma componente teórica, baseada em aulas de exposição e discussão, que retomam alguns temas abordados noutras unidades curriculares. Já a componente prática é dedicada à realização de projectos concretos, em que os alunos se organizam em equipas de cerca de oito a 10 elementos. Cada uma das equipas fica responsável por todas as fases do ciclo de vida de uma solução de "software", desde o levantamento de requisitos até ao "marketing" dos "produtos".

Os objectivos passam, principalmente, por desenvolver nos estudantes competências na gestão de projectos de "software" e trabalho em equipa, "habilitando-os a resolver a diversidade de problemas que tipicamente surgem em projectos deste tipo numa organização real e estimulando, em simultâneo, a capacidade de empreender", salienta Raul Vidal.

"É uma disciplina emblemática, muito falada entre os alunos despertando-lhes curiosidade e mesmo alguma ansiedade", refere Raul Vidal, já que todo o conhecimento e experiência adquiridos ao longo do curso são colocados à prova. Constitui por isso, segundo o director do Departamento em Engenharia Informática da FEUP, um marco importante na formação profissional que se adquire no curso.









"Temos aproveitado esta oportunidade para desenvolver projectos que endereçam objectivos de melhoria contínua no âmbito dos trabalhos das nossas próprias equipas".

Carla Santos Directora de sistemas no departamento Sistemas de Suporte ao Negócio, da PT Inovação
Cliente PT Inovação Produto BitManager 2.0
Site http://innoveight.biz
Resumo do projecto Os alunos da FEUP desenvolveram uma aplicação de monitorização que permite fazer a gestão das configurações e estados das várias instâncias de "business intelligence" da PT espalhadas pelo mundo, facilitando a percepção obtida sobre os estados das mesmas pela equipa da empresa.





Agarrar os melhores cérebros

Além da Universidade do Porto, a PT Inovação tem acordos com outras instituições de ensino superior. Universidade do Minho, Universidade de Coimbra e Universidade de Aveiro são alguns dos parceiros da empresa, numa estratégia onde o objectivo é, sobretudo, acompanhar e colaborar na Investigação e Desenvolvimento que se faz nas Universidades, potenciando a chegada deste conhecimento à organização, refere Carla Santos.

Da participação com a FEUP na unidade curricular de LGP, a analista de Sistemas no Departamento Sistemas de Suporte ao Negócio da PT Inovação destaca a oportunidade de "dar a conhecer aos alunos do MIEIC a PT Inovação como uma empresa aliciante para trabalhar", e "contactar possíveis futuros elementos" que possam integrar a equipa acrescentar valor à equipa. "Adicionalmente, temos aproveitado esta oportunidade para desenvolver projectos que endereçam objectivos de melhoria contínua no âmbito dos trabalhos das nossas próprias equipas".

A associação com a FEUP surgiu há cinco anos atrás, precisamente por contactos com ex-alunos. Desde essa altura, a participação da PT Inovação num ou mais projectos da disciplina de LGP tem acontecido todos os anos, sendo provável que se continue a verificar.





"Mais do que as capacidades técnicas, que já são trabalhadas noutras disciplinas, o LGP permite explorar e despertar outras competências de trabalho em equipa e gestão de projectos, apelando sempre à criatividade e ao empreendedorismo", aponta Carla Santos.

Ao conjunto de exigências feitas aos alunos, Paulo Pereira acrescenta também a necessidade de fazer escolhas, gerir tempo e pessoas e relacionar-se com um cliente de forma auto-suficiente, considera. "É um treino muito intensivo, mas com excelentes frutos porque lhes permite ambientar-se ao mundo empresarial e ver como tudo se desenrola".

A opinião é partilhada por João Correia, que aponta igualmente o contacto com o mundo real das empresas como um dos benefícios deste tipo de iniciativas curriculares.

" O LGP funciona como um 'living lab' onde os estudantes interagem com empresas clientes, aplicam e desenvolvem as suas competências num ambiente quase real, desenvolvendo competências fulcrais de trabalho em equipa, empreendedorismo, comunicação e relacionamento com clientes", remata Raul Vidal.

Mas o laboratório também pode ser uma oportunidade para os seus alunos conhecerem potenciais empregadores. Em muitas situações os estudantes acabam por realizar a sua dissertação de fim de curso na empresa-cliente do seu projecto e uma grande percentagem acaba por garantir o seu primeiro emprego nestas mesmas empresas.





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