Notícia
Inovação - Directamente da Universidade para as empresas
Numa aproximação ao meio empresarial, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto põe os seus alunos de mestrado a trabalhar em projectos onde a criatividade, o empreendedorismo e o trabalho em equipa beneficiam directamente empresas como a PT Inovação e a Inova+.
29 de Julho de 2010 às 14:36
Um médico dermatologista regista imagens de um sinal do paciente, enquanto uma aplicação informática faz a sua análise, atribuindo-lhe um determinado grau de gravidade - cancerígeno ou não - com base no tamanho, cor, diâmetro, regularidade e histórico paciente. O "software" permite verificar a evolução de um dado sinal ao longo do tempo e realizar comparações entre sinais com as mesmas características.
Estas são algumas possibilidades de ajuda ao diagnóstico médico propostas pelo Cancer Analysis System, uma das 12 soluções desenvolvidas, este ano, pelos alunos do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MEIC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em parceria com um conjunto de empresas.
As soluções são criadas no âmbito da disciplina de Laboratório de Gestão de Projectos (LGP), e o objectivo é desenvolver um produto à medida de determinada "empresa-cliente".
Estes "clientes" identificam áreas onde supostamente precisam de investir e lançam esse desafio aos estudantes, que dispõem de um semestre para desenvolver as aplicações informáticas.
Soluções à medida
As empresas são, actualmente, "cúmplices" essenciais nas metas estabelecidas para o LGP. Embora com outra designação, a disciplina existe desde o início do curso de Engenharia Informática e Computação, tendo funcionado pela primeira vez no 1º semestre de 1998/1999. A princípio, e até 2003/2004, teve projectos gerados, na sua maioria, internamente na FEUP. Só a partir dessa altura é que se orientou definitivamente para projectos exteriores à universidade, propostos pelas empresas.
Estas têm aderido "bastante bem" logo desde as primeiras edições da unidade curricular, tendo o seu interesse crescido ao longo destes anos, atendendo à popularidade que foi ganhando junto de todos os intervenientes: estudantes, empresas e meio envolvente. "Habitualmente recebemos entre 14 a 18 propostas de empresas para os 10 ou 12 projectos que decorrem no âmbito da unidade curricular", sublinha Rui Vidal, director do Departamento em Engenharia Informática da FEUP.
A PT Inovação é uma das empresas que acompanha a iniciativa quase desde o seu início. A associação com a FEUP surgiu há cinco anos atrás e, desde essa altura, a participação tem sido constante.
Com várias aplicações de Business Intelligence (BI) instaladas em diversos clientes espalhados pelo mundo, que recolhem, processam e integram os dados operacionais, a PT Inovação propôs, este ano, o desenvolvimento de uma aplicação de monitorização nesta área. A proposta teve como resposta o BitManager 2.0.
O produto acaba por ser uma reformulação de uma aplicação feita "dentro de portas" com adição de novas funcionalidades, que vêem cobrir algumas lacunas existentes na versão anterior, dando resposta a problemas concretos do dia-a-dia de uma equipa real da PT Inovação, explica Carla Santos, analista de Sistemas no Departamento de Sistemas de Suporte ao Negócio.
Como acontece com a PT Inovação, a maioria das soluções desenvolvidas no âmbito do LGP não são colocadas no mercado. Em média, em cada edição, são utilizados dois a três dos produtos pelas empresas clientes como ponto de partida para desenvolverem soluções internas.
A Inova+ também se enquadra neste grupo. Segundo João Correia, o Cancer Analysis System integra-se num projecto de I&D mais amplo a decorrer na empresa, denominado SkinMonitor, e permitiu estudar um conjunto de funcionalidades. Algumas vão integrar o produto final resultante do projecto. "Na nossa opinião, é importante que os alunos saibam que o trabalho que estão a desenvolver é um trabalho real que será útil para os seus 'clientes', como solução final ou como parte integrante de uma solução mais ampla".
Mas a chegada efectiva das aplicações ao mercado é uma hipótese que não se põe de lado, pelo menos para a Tecla Colorida. Na primeira vez que se associou ao LGP, a empresa apresentou uma proposta de projecto que visava a criação de um "software" para a Internet que permitisse fazer desenhos e diagramas colaborativamente em tempo real.
Paulo Pereira explica que a experiência teve um duplo objectivo: por um lado, aproveitar o LGP para experimentar ideias novas e tecnologias recentes, o que nem sempre é possível fazer no dia-a-dia; por outro, criar um produto que pudesse ser aplicado, o mais rapidamente possível, ao escolinhas.pt, uma solução própria já existente.
Os resultados obtidos foram tão satisfatórios que a empresa quer continuar a colaborar com a equipa de alunos para a evolução do projecto e disponibilização ao público ainda este ano, garante Paulo Pereira.
O que é que o LGP tem?
O modelo implementado pela disciplina do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da FEUP é elogiado por todos, não existindo dúvidas quanto às suas mais-valias.
O Laboratório tem uma componente teórica, baseada em aulas de exposição e discussão, que retomam alguns temas abordados noutras unidades curriculares. Já a componente prática é dedicada à realização de projectos concretos, em que os alunos se organizam em equipas de cerca de oito a 10 elementos. Cada uma das equipas fica responsável por todas as fases do ciclo de vida de uma solução de "software", desde o levantamento de requisitos até ao "marketing" dos "produtos".
Os objectivos passam, principalmente, por desenvolver nos estudantes competências na gestão de projectos de "software" e trabalho em equipa, "habilitando-os a resolver a diversidade de problemas que tipicamente surgem em projectos deste tipo numa organização real e estimulando, em simultâneo, a capacidade de empreender", salienta Raul Vidal.
"É uma disciplina emblemática, muito falada entre os alunos despertando-lhes curiosidade e mesmo alguma ansiedade", refere Raul Vidal, já que todo o conhecimento e experiência adquiridos ao longo do curso são colocados à prova. Constitui por isso, segundo o director do Departamento em Engenharia Informática da FEUP, um marco importante na formação profissional que se adquire no curso.
"Mais do que as capacidades técnicas, que já são trabalhadas noutras disciplinas, o LGP permite explorar e despertar outras competências de trabalho em equipa e gestão de projectos, apelando sempre à criatividade e ao empreendedorismo", aponta Carla Santos.
Ao conjunto de exigências feitas aos alunos, Paulo Pereira acrescenta também a necessidade de fazer escolhas, gerir tempo e pessoas e relacionar-se com um cliente de forma auto-suficiente, considera. "É um treino muito intensivo, mas com excelentes frutos porque lhes permite ambientar-se ao mundo empresarial e ver como tudo se desenrola".
A opinião é partilhada por João Correia, que aponta igualmente o contacto com o mundo real das empresas como um dos benefícios deste tipo de iniciativas curriculares.
" O LGP funciona como um 'living lab' onde os estudantes interagem com empresas clientes, aplicam e desenvolvem as suas competências num ambiente quase real, desenvolvendo competências fulcrais de trabalho em equipa, empreendedorismo, comunicação e relacionamento com clientes", remata Raul Vidal.
Mas o laboratório também pode ser uma oportunidade para os seus alunos conhecerem potenciais empregadores. Em muitas situações os estudantes acabam por realizar a sua dissertação de fim de curso na empresa-cliente do seu projecto e uma grande percentagem acaba por garantir o seu primeiro emprego nestas mesmas empresas.
Estas são algumas possibilidades de ajuda ao diagnóstico médico propostas pelo Cancer Analysis System, uma das 12 soluções desenvolvidas, este ano, pelos alunos do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação (MEIC) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), em parceria com um conjunto de empresas.
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Estes "clientes" identificam áreas onde supostamente precisam de investir e lançam esse desafio aos estudantes, que dispõem de um semestre para desenvolver as aplicações informáticas.
Soluções à medida
As empresas são, actualmente, "cúmplices" essenciais nas metas estabelecidas para o LGP. Embora com outra designação, a disciplina existe desde o início do curso de Engenharia Informática e Computação, tendo funcionado pela primeira vez no 1º semestre de 1998/1999. A princípio, e até 2003/2004, teve projectos gerados, na sua maioria, internamente na FEUP. Só a partir dessa altura é que se orientou definitivamente para projectos exteriores à universidade, propostos pelas empresas.
Estas têm aderido "bastante bem" logo desde as primeiras edições da unidade curricular, tendo o seu interesse crescido ao longo destes anos, atendendo à popularidade que foi ganhando junto de todos os intervenientes: estudantes, empresas e meio envolvente. "Habitualmente recebemos entre 14 a 18 propostas de empresas para os 10 ou 12 projectos que decorrem no âmbito da unidade curricular", sublinha Rui Vidal, director do Departamento em Engenharia Informática da FEUP.
A PT Inovação é uma das empresas que acompanha a iniciativa quase desde o seu início. A associação com a FEUP surgiu há cinco anos atrás e, desde essa altura, a participação tem sido constante.
Com várias aplicações de Business Intelligence (BI) instaladas em diversos clientes espalhados pelo mundo, que recolhem, processam e integram os dados operacionais, a PT Inovação propôs, este ano, o desenvolvimento de uma aplicação de monitorização nesta área. A proposta teve como resposta o BitManager 2.0.
O produto acaba por ser uma reformulação de uma aplicação feita "dentro de portas" com adição de novas funcionalidades, que vêem cobrir algumas lacunas existentes na versão anterior, dando resposta a problemas concretos do dia-a-dia de uma equipa real da PT Inovação, explica Carla Santos, analista de Sistemas no Departamento de Sistemas de Suporte ao Negócio.
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Como acontece com a PT Inovação, a maioria das soluções desenvolvidas no âmbito do LGP não são colocadas no mercado. Em média, em cada edição, são utilizados dois a três dos produtos pelas empresas clientes como ponto de partida para desenvolverem soluções internas.
A Inova+ também se enquadra neste grupo. Segundo João Correia, o Cancer Analysis System integra-se num projecto de I&D mais amplo a decorrer na empresa, denominado SkinMonitor, e permitiu estudar um conjunto de funcionalidades. Algumas vão integrar o produto final resultante do projecto. "Na nossa opinião, é importante que os alunos saibam que o trabalho que estão a desenvolver é um trabalho real que será útil para os seus 'clientes', como solução final ou como parte integrante de uma solução mais ampla".
Mas a chegada efectiva das aplicações ao mercado é uma hipótese que não se põe de lado, pelo menos para a Tecla Colorida. Na primeira vez que se associou ao LGP, a empresa apresentou uma proposta de projecto que visava a criação de um "software" para a Internet que permitisse fazer desenhos e diagramas colaborativamente em tempo real.
Paulo Pereira explica que a experiência teve um duplo objectivo: por um lado, aproveitar o LGP para experimentar ideias novas e tecnologias recentes, o que nem sempre é possível fazer no dia-a-dia; por outro, criar um produto que pudesse ser aplicado, o mais rapidamente possível, ao escolinhas.pt, uma solução própria já existente.
Os resultados obtidos foram tão satisfatórios que a empresa quer continuar a colaborar com a equipa de alunos para a evolução do projecto e disponibilização ao público ainda este ano, garante Paulo Pereira.
O que é que o LGP tem?
O modelo implementado pela disciplina do Mestrado Integrado em Engenharia Informática e Computação da FEUP é elogiado por todos, não existindo dúvidas quanto às suas mais-valias.
O Laboratório tem uma componente teórica, baseada em aulas de exposição e discussão, que retomam alguns temas abordados noutras unidades curriculares. Já a componente prática é dedicada à realização de projectos concretos, em que os alunos se organizam em equipas de cerca de oito a 10 elementos. Cada uma das equipas fica responsável por todas as fases do ciclo de vida de uma solução de "software", desde o levantamento de requisitos até ao "marketing" dos "produtos".
Os objectivos passam, principalmente, por desenvolver nos estudantes competências na gestão de projectos de "software" e trabalho em equipa, "habilitando-os a resolver a diversidade de problemas que tipicamente surgem em projectos deste tipo numa organização real e estimulando, em simultâneo, a capacidade de empreender", salienta Raul Vidal.
"É uma disciplina emblemática, muito falada entre os alunos despertando-lhes curiosidade e mesmo alguma ansiedade", refere Raul Vidal, já que todo o conhecimento e experiência adquiridos ao longo do curso são colocados à prova. Constitui por isso, segundo o director do Departamento em Engenharia Informática da FEUP, um marco importante na formação profissional que se adquire no curso.
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"Mais do que as capacidades técnicas, que já são trabalhadas noutras disciplinas, o LGP permite explorar e despertar outras competências de trabalho em equipa e gestão de projectos, apelando sempre à criatividade e ao empreendedorismo", aponta Carla Santos.
Ao conjunto de exigências feitas aos alunos, Paulo Pereira acrescenta também a necessidade de fazer escolhas, gerir tempo e pessoas e relacionar-se com um cliente de forma auto-suficiente, considera. "É um treino muito intensivo, mas com excelentes frutos porque lhes permite ambientar-se ao mundo empresarial e ver como tudo se desenrola".
A opinião é partilhada por João Correia, que aponta igualmente o contacto com o mundo real das empresas como um dos benefícios deste tipo de iniciativas curriculares.
" O LGP funciona como um 'living lab' onde os estudantes interagem com empresas clientes, aplicam e desenvolvem as suas competências num ambiente quase real, desenvolvendo competências fulcrais de trabalho em equipa, empreendedorismo, comunicação e relacionamento com clientes", remata Raul Vidal.
Mas o laboratório também pode ser uma oportunidade para os seus alunos conhecerem potenciais empregadores. Em muitas situações os estudantes acabam por realizar a sua dissertação de fim de curso na empresa-cliente do seu projecto e uma grande percentagem acaba por garantir o seu primeiro emprego nestas mesmas empresas.