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Histórias que geram inovação

A inovação empresarial não se esgota nas grandes organizações. Desce às PME e encontra nichos para crescer. Quando os recursos são limitados, a chave é uma boa organização e articulação.

10 de Fevereiro de 2011 às 10:23
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"A inovação está no ADN de todos os departamentos da empresa, e todos sabem e entendem que inovar faz parte da nossa forma natural de ganhar clientes". Quem explica assim o papel da inovação no dia-a-dia - e no sucesso - da empresa é Raul Oliveira, CEO da iPortalMais, uma PME do Porto.

Visões como esta têm-se espalhado por um sector empresarial limitado na geografia e feito com que Portugal, que nem sempre tem conseguido resultados brilhantes nos índices internacionais que fotografam os indicadores relevantes para o desenvolvimento de um país, revele progressos interessantes na área da inovação. Culpados: há vários.

Os exemplos de inovação como motor do negócio não nascem só tirando partido da grande diversidade de recursos das maiores cidades do país. Nem sempre multiplicam mercados e funcionários por números com dois ou três algarismos, com o passar dos anos, e muitas vezes também não encaixam no conceito High Tech. Também florescem no universo das PMEs dedicadas a nichos ou áreas específicas do mercado onde os tiros precisam, quase sempre, de ser certeiros, já que os recursos são mais limitados.

Cnotinfor, iPortalMais e Ambisig partilham a nacionalidade. Divergem na escala, no objecto de negócio e na região do país que escolheram para operar, mas voltam a encontrar-se na importância que atribuem à inovação, como elemento essencial para atingir os objectivos a que se propuseram.

"Acredito que têm sido elementos-chave no nosso desempenho o rigor na gestão, investimento continuado em actividades de I&D, preocupação com a gestão da qualidade, níveis de serviço associados aos nossos produtos e soluções e autonomia financeira", descreve Vasco Ferreira. O administrador da Ambisig também defende que a empresa consegue inovar - e ser bem sucedida nos seus objectivos - porque se preocupa com a valorização profissional e a motivação dos seus quadros técnicos e porque faz um esforço constante para se manter próxima de clientes e parceiros.

Na verdade, os elementos que aqui se combinam até podiam figurar de uma cartilha, de tão coincidentes nos testemunhos das empresas bem-sucedidas na concretização do seu plano de negócios. Mas, na verdade, o que parece simples em teoria na prática será mais difícil de implementar, ou todas as histórias seriam de sucesso.

Secundino Correia conta que na Cnotinfor a estratégia de aproximação ao cliente, pilar do processo de inovação, passa pela realização frequente de workshops. Estes permitem à empresa de software educativo recolher inputs durante o processo de desenvolvimento com crianças e professores, aqueles que no futuro também serão os utilizadores das soluções que a empresa produz. "As escolas mais que clientes são parceiras no esforço da Cnotinfor para criar e tornar acessíveis ferramentas e ambientes que propiciem uma aprendizagem mais significativa, mais eficiente e mais eficaz", detalha.

Na iPortalMais os workshops dão lugar a mecânicas de recepção e encaminhamento do feedback dos clientes, via centro de suporte, como uma das principais motivações para o aperfeiçoamento de produtos existentes ou desenvolvimento de novos.

"A inovação na iPortalMais nasce quase sempre do exterior para o interior da empresa. Os clientes são de facto a fonte principal de inspiração para a inovação desenvolvida", explica Raul Oliveira. O departamento de suporte é, boa parte das vezes, aquele que inicia o processo a partir do registo de problemas nos clientes que precisam de soluções. "Esses problemas são primeiramente registados no nosso sistema de trouble ticketing, e após triagem passados para o departamento de I&D, onde passam a entrar no nosso roadmap". Quando as ideias chegam de outros departamentos, como o departamento comercial, os processos de comunicação inter-departamental garantem que a comunicação flui e as ideias chegam ao local onde podem transformar-se em mais-valias para o cliente. Seja qual for o percurso da inovação "pensar e verificar se existem potenciais clientes no curto prazo para as inovações que queremos desenvolver" é crítico, sublinha Raul Oliveira.

A mesma receita usa a Ambisig. "O nosso investimento em inovação é sempre estruturado atendendo a aspectos como a utilidade e oportunidade de mercado do produto inovador a desenvolver e o valor resultante, para o cliente que o venha a adoptar", alinha Vasco Ferreira, sublinhando que para uma empresa com a dimensão da Ambisig, tentar focar o esforço de inovação em áreas de nicho, capaz de potenciar os efeitos de mercado dessa aposta, é relevante.

As pessoas são a alma do negócio
Voltando ao tema dos recursos humanos, o director de inovação da Cnotinfor conta que na empresa todos os quadros têm no mínimo licenciatura ou mestrado, embora isso não desincentive a procura de mais saber. Muito pelo contrário. À constante participação em projectos de investigação, geradora das interacções entre grupos com dimensões muito distintas - um exemplo XXL será a participação entre 2004 e 2007 na Network of Excellence Kaleidoscope onde colaboraram 70 entidades de 23 países - juntam-se outras preocupações. A empresa promove, tanto quanto possível, a participação dos seus colaboradores em conferências e eventos, assim como a publicação de papers, como iniciativas que promovem o networking, a aprendizagem ou o reconhecimento.

Também com alguma experiência de interacções por via da investigação aplicada ao desenvolvimento de software, a iPortalMais regista a mesma percepção. "Não tenho dúvida que a capacidade de investigar com o sentido de criar soluções inovadoras tem como pilar a formação dos quadros da iPortalMais", assegura Raul Oliveira.

Para as três empresas a preocupação é comum e a perspectiva com que é encarado o tem da formação também. "Fazemos uma gestão de competências e formação dos quadros técnicos da empresa, tendo em vista não só a permanente actualização tecnológica com a motivação dos colaboradores". Quem o sublinha é Vasco Ferreira da Ambisig mas a preocupação é partilhada pelos restantes interlocutores.



Os números da inovação



Divulgado no início de Setembro, o relatório anual do Fórum Económico Mundial revelou que o índice de inovação no país melhorou, passando a fixar-se na 32ª posição de uma análise que contabiliza factores em 139 países (no ano passado era 33º). Globalmente, contudo, Portugal não se tornou um país mais competitivo ao longo do último ano. No penúltimo relatório global de competitividade assumia a 43ª posição da tabela. Nos dados mais recentes desceu três posições até à 46ª. Restringindo a análise ao contexto da União Europeia, Portugal surge como o 18º país mais competitivo, em 27.

No mais recente European Innovation Scoreboard, referente a 2009, Portugal volta a apresentar uma prestação positiva em matéria de inovação, ficando fica à frente da média da UE, com 0,62 pontos, contra 0,42.
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