Notícia
Ganhar dinheiro com a TV do futuro
A televisão saiu da sala-de-estar e hoje pode andar connosco no bolso. Séries, filmes, documentários vêem-se agora no portátil ou no telemóvel, trazendo novos desafios aos produtores de conteúdos, nem sempre fáceis de gerir.
30 de Setembro de 2010 às 10:42
Nascido em 1824 ligado à actividade musical, o Grupo Valentim de Carvalho faz hoje todo o tipo de conteúdos, da música ao cinema e, nomeadamente, à televisão, tendo lugar de destaque entre as chamadas "grandes produtoras". Nos últimos dois anos, produziu programas de televisão para as três grandes estações generalistas, RTP, TVI e SIC, mas também decidiu apostar nos chamados media digitais, criando uma linha de produção multi-plataforma. Foi assim que a série, "Blog Secreto", produzida para o SAPO, se juntou a programas como "Quem Quer Ser Milionário Alta Pressão", "Top+", "Disney Kids" ou as "As Tardes da Júlia".
"A situação criada pelo desenvolvimento tecnológico na área da distribuição, não veio modificar o núcleo central da nossa actividade que é, e continuará a ser, a produção de conteúdos. No entanto, veio demonstrar que, com ou sem crise, a quantidade, diversidade e adaptabilidade dos conteúdos são elementos essenciais para que a cada vez maior expansão e sofisticação das plataformas de distribuição não resultem num frustrante dispositivo de repetição e redundância das ofertas", refere António Borga, director-geral da Valentim de Carvalho Televisão, justificando a aposta da empresa nos novos media.
A viabilidade de uma estratégia que garanta quantidade, diversidade e adaptabilidade dos conteúdos pressupõe, nos tempos que correm, segundo o responsável, três requisitos fundamentais: adequação dos custos de produção à natureza dos conteúdos, domínio da relação formato/plataformas e criatividade para oferecer a melhor qualidade ao melhor preço. "A nossa aposta na Internet surgiu, naturalmente, na aplicação dessa estratégia".
Na beActive a história conta-se, precisamente, ao contrário. Fundada em 2003 como parte integrante do grupo Aitec, surge a partir de um projecto que reúne participações da Microsoft e da Vodafone, tendo-se especializado no desenvolvimento e na produção de conteúdos interactivos para entretenimento.
Desde o lançamento que se assume como uma produtora multiplataforma, como o seu director-geral faz questão de salientar. "Trabalhamos mais numa lógica de criarmos os nossos próprios conceitos e, quando o fazemos, fazemo-lo numa lógica multiplataforma. Tentamos fazer conteúdos simultaneamente para a Internet para telemóveis, jornais, revistas, rádio, e depois tentamos também que alguns desses conteúdos passem em televisão, mas não fazemos especificamente conteúdos para televisão, explica Nuno Bernardo.
O investimento nos meios digitais é fácil de justificar. "A principal razão está relacionada com o facto de sermos uma empresa especializada na produção de conteúdos para um público jovem. Esse público consome cada vez mais conteúdos audiovisuais nos novos media e cada vez menos na televisão tradicional".
Por outro lado, tendo em conta a formatação que existe nos canais generalistas e também nos canais por cabo, ainda com muito pouca produção própria, Nuno Bernardo considera complicado, para uma produtora que não é 'mainstream', ter espaço em televisão. "É mais fácil desenvolvermos os nossos projectos primeiro, numa fase inicial, na Internet e depois de termos conquistado uma audiência, chegar à televisão. A nossa preocupação é sempre estar a produzir para os novos media em que depois a televisão surge como um complemento à experiência on-line".
Foi isso que aconteceu com a série "Diário de Sofia", que surgiu na Internet e acabou por "saltar" para a RTP, e que hoje conta inclusive com uma versão inglesa, produzida para a Five TV, no Reino Unido.
TV a qualquer altura, em qualquer lugar
É um facto que a televisão ocupou durante décadas lugar central na sala de estar e reunia, inequivocamente, a atenção de todos os habitantes da casa. O seu poder de atracção repetiu-se em todas as moradas onde marcava presença e daí a conquistar "fama" de meio de comunicação de massa foi um instante. Afinal, os seus programas chegavam a milhões de espectadores, que recebiam comodamente, no seu televisor, a informação, a ficção e o entretenimento que a indústria, que entretanto se constituiu à sua volta, lhes proporcionava.
Hoje a "caixa mágica" perdeu definitivamente a exclusividade do audiovisual, e partilha o seu antigo monopólio com a Internet e outras plataformas tecnológicas, onde os telemóveis de última geração, os computadores portáteis e os leitores multimédia parecem ter lugar garantido.
"A situação criada pelo desenvolvimento tecnológico na área da distribuição, não veio modificar o núcleo central da nossa actividade que é, e continuará a ser, a produção de conteúdos. No entanto, veio demonstrar que, com ou sem crise, a quantidade, diversidade e adaptabilidade dos conteúdos são elementos essenciais para que a cada vez maior expansão e sofisticação das plataformas de distribuição não resultem num frustrante dispositivo de repetição e redundância das ofertas", refere António Borga, director-geral da Valentim de Carvalho Televisão, justificando a aposta da empresa nos novos media.
Na beActive a história conta-se, precisamente, ao contrário. Fundada em 2003 como parte integrante do grupo Aitec, surge a partir de um projecto que reúne participações da Microsoft e da Vodafone, tendo-se especializado no desenvolvimento e na produção de conteúdos interactivos para entretenimento.
Desde o lançamento que se assume como uma produtora multiplataforma, como o seu director-geral faz questão de salientar. "Trabalhamos mais numa lógica de criarmos os nossos próprios conceitos e, quando o fazemos, fazemo-lo numa lógica multiplataforma. Tentamos fazer conteúdos simultaneamente para a Internet para telemóveis, jornais, revistas, rádio, e depois tentamos também que alguns desses conteúdos passem em televisão, mas não fazemos especificamente conteúdos para televisão, explica Nuno Bernardo.
O investimento nos meios digitais é fácil de justificar. "A principal razão está relacionada com o facto de sermos uma empresa especializada na produção de conteúdos para um público jovem. Esse público consome cada vez mais conteúdos audiovisuais nos novos media e cada vez menos na televisão tradicional".
Por outro lado, tendo em conta a formatação que existe nos canais generalistas e também nos canais por cabo, ainda com muito pouca produção própria, Nuno Bernardo considera complicado, para uma produtora que não é 'mainstream', ter espaço em televisão. "É mais fácil desenvolvermos os nossos projectos primeiro, numa fase inicial, na Internet e depois de termos conquistado uma audiência, chegar à televisão. A nossa preocupação é sempre estar a produzir para os novos media em que depois a televisão surge como um complemento à experiência on-line".
Foi isso que aconteceu com a série "Diário de Sofia", que surgiu na Internet e acabou por "saltar" para a RTP, e que hoje conta inclusive com uma versão inglesa, produzida para a Five TV, no Reino Unido.
TV a qualquer altura, em qualquer lugar
É um facto que a televisão ocupou durante décadas lugar central na sala de estar e reunia, inequivocamente, a atenção de todos os habitantes da casa. O seu poder de atracção repetiu-se em todas as moradas onde marcava presença e daí a conquistar "fama" de meio de comunicação de massa foi um instante. Afinal, os seus programas chegavam a milhões de espectadores, que recebiam comodamente, no seu televisor, a informação, a ficção e o entretenimento que a indústria, que entretanto se constituiu à sua volta, lhes proporcionava.
Hoje a "caixa mágica" perdeu definitivamente a exclusividade do audiovisual, e partilha o seu antigo monopólio com a Internet e outras plataformas tecnológicas, onde os telemóveis de última geração, os computadores portáteis e os leitores multimédia parecem ter lugar garantido.
A multiplicidade agrada ao consumidor, que elege a plataforma mais à mão ou mais a gosto. "Há duas alterações significativas para o consumidor: por um lado tem muito mais oferta de conteúdos televisivos e, por outro, tem maior capacidade de configuração dessa experiência televisiva", considera Nuno Bernardo, referindo-se à multiplicidade de canais existentes, nomeadamente com a televisão por cabo, e a ferramentas como o vídeo on demand ou os gravadores digitais. "O consumidor está a viver uma fase em que tem uma grande oferta e tem as ferramentas que lhe permitem o controlo daquilo que vê".
A nova experiência de "consumo televisivo" é também alimentada pela banda larga e pelos avanços tecnológicos conseguidos nos dispositivos móveis. "É isso que permite que a experiência televisiva não aconteça apenas no aparelho de televisão de casa, mas também possa ser vivida no smartphone ou no iPad".
Os novos media trouxeram um outro fenómeno: a produção "doméstica" de conteúdos, aponta Pedro Filipe Santos, director-geral da Briskman Entertainment, e actual presidente da Assembleia da APIT, Associação de Produtores Independentes de Televisão. "Para mim, a grande mudança nos audiovisuais deste século é a facilidade que qualquer pessoa tem para criar e produzir os seus próprios conteúdos, e emiti-los para o mundo inteiro, através do YouTube, do Vimeo, do Sapo, etc, e depois disseminá-los através da redes sociais ou blogues, como o Facebook, o Bebo, o Ning, o Twitter, o MySpace, etc. Por menos de 100 euros qualquer pessoa pode agora comprar um telemóvel que filma, fotografa, e acede à Internet instantaneamente".
Num futuro que, para o responsável da Briskman, até já é presente e totalmente digital, os meios serão "commodities". "Tudo estará on-line, em 'extra-full-premium-isto-sim-vale-a-pena HD' e a vários terabytes por segundo. A Internet não substituirá a televisão tal como o vídeo não matou a estrela da rádio, no seu sentido estrito", garante.
Apesar da multiplicidade de meios, os conceitos originais, como a televisão ou o jornal, permanecerão mais ou menos inalterados. "A necessidade do ser humano de receber notícias ou de assistir a um talk-show existirá sempre - o meio, o modo e o local onde assistimos é que será provavelmente diferente".
O futuro, segundo Pedro Filipe Santos, mantém-se nos conteúdos, enquanto o problema para as produtoras se coloca na multi-segmentação de nichos de consumidores. "O desafio está na criação e produção de formatos, contextos ou experiências que fidelizem audiências e respectivos anunciantes. Ou que levem essas audiências a comprá-los".
A nova experiência de "consumo televisivo" é também alimentada pela banda larga e pelos avanços tecnológicos conseguidos nos dispositivos móveis. "É isso que permite que a experiência televisiva não aconteça apenas no aparelho de televisão de casa, mas também possa ser vivida no smartphone ou no iPad".
Os novos media trouxeram um outro fenómeno: a produção "doméstica" de conteúdos, aponta Pedro Filipe Santos, director-geral da Briskman Entertainment, e actual presidente da Assembleia da APIT, Associação de Produtores Independentes de Televisão. "Para mim, a grande mudança nos audiovisuais deste século é a facilidade que qualquer pessoa tem para criar e produzir os seus próprios conteúdos, e emiti-los para o mundo inteiro, através do YouTube, do Vimeo, do Sapo, etc, e depois disseminá-los através da redes sociais ou blogues, como o Facebook, o Bebo, o Ning, o Twitter, o MySpace, etc. Por menos de 100 euros qualquer pessoa pode agora comprar um telemóvel que filma, fotografa, e acede à Internet instantaneamente".
Num futuro que, para o responsável da Briskman, até já é presente e totalmente digital, os meios serão "commodities". "Tudo estará on-line, em 'extra-full-premium-isto-sim-vale-a-pena HD' e a vários terabytes por segundo. A Internet não substituirá a televisão tal como o vídeo não matou a estrela da rádio, no seu sentido estrito", garante.
Apesar da multiplicidade de meios, os conceitos originais, como a televisão ou o jornal, permanecerão mais ou menos inalterados. "A necessidade do ser humano de receber notícias ou de assistir a um talk-show existirá sempre - o meio, o modo e o local onde assistimos é que será provavelmente diferente".
O futuro, segundo Pedro Filipe Santos, mantém-se nos conteúdos, enquanto o problema para as produtoras se coloca na multi-segmentação de nichos de consumidores. "O desafio está na criação e produção de formatos, contextos ou experiências que fidelizem audiências e respectivos anunciantes. Ou que levem essas audiências a comprá-los".
Modelo de negócio procura-se
A grande mudança no consumo trazida pela multiplicação dos canais de visionamento de conteúdos audiovisuais também comporta alterações do modelo de negócio. "Antigamente era possível concentrar a publicidade nos canais de televisão generalista porque toda a gente os via. Hoje em dia os públicos estão muito espalhados e disseminados, os próprios sistemas de audiência estão a ser postos em causa porque deixou de ser possível avaliar, como se avaliava antes, quem está a ver o quê", nota Nuno Artur, da Produções Fictícias.
Para os criadores do popular "Contra-Informação", tecnologicamente já se percebeu para onde é que vamos, sendo previsivel que, mais dia, menos dia, será possível ver todo o tipo de conteúdos, em qualquer sítio. Já relativamente ao modelo de negócio, estamos numa espécie de transição entre o formato criado à imagem da TV generalista, onde não existiam outros canais, estabelecido durante muitos anos, para um modelo onde o cabo ganha cada vez mais força, e além do cabo, também a Internet.
Ao olharmos para os números da Marktest vemos que, hoje, 80% da população portuguesa vê televisão generalista e 20% vê televisão por cabo. Analisando os dados relativos à publicidade, nota-se um desfazamento relativamente ao impacto destes dois meios, quando a TV generalista consegue mais de 95% desse investimento publicitário.
O mesmo se passa se compararmos televisão e Internet, com a primeira a somar 92% do investimento publicitário e a segunda 8%, quando há consumidores de determinadas classes que já passam tanto tempo (ou mais) a navegar na Web, como a ver TV. "É uma indústria estabelecida que vai demorar algum tempo a mudar, mas que inevitavelmente vai ter de mudar", refere por sua vez Nuno Bernardo. "Os publicitários, as agências e os anunciantes têm de começar a investir onde realmente o consumidor está e não onde o consumidor estava há não sei quantos anos atrás".
Com a crise instalada, com a redução nos orçamentos dos canais e dos anunciantes e com a crescente fragmentação das audiências os desafios são criar e produzir formatos, contextos ou experiências que fidelizem audiências e respectivos anunciantes, insiste Pedro Filipe Santos.
"Criar conteúdos relevantes para que os vê e para quem os paga, que sejam acessíveis no preço e rentáveis na produção. E ao mesmo tempo, disputar o mercado com os formatos estrangeiros adaptados, as multinacionais de produção, o vício dos portugueses nas novelas e a produção interna das próprias estações. É muita coisa".
A grande mudança no consumo trazida pela multiplicação dos canais de visionamento de conteúdos audiovisuais também comporta alterações do modelo de negócio. "Antigamente era possível concentrar a publicidade nos canais de televisão generalista porque toda a gente os via. Hoje em dia os públicos estão muito espalhados e disseminados, os próprios sistemas de audiência estão a ser postos em causa porque deixou de ser possível avaliar, como se avaliava antes, quem está a ver o quê", nota Nuno Artur, da Produções Fictícias.
Para os criadores do popular "Contra-Informação", tecnologicamente já se percebeu para onde é que vamos, sendo previsivel que, mais dia, menos dia, será possível ver todo o tipo de conteúdos, em qualquer sítio. Já relativamente ao modelo de negócio, estamos numa espécie de transição entre o formato criado à imagem da TV generalista, onde não existiam outros canais, estabelecido durante muitos anos, para um modelo onde o cabo ganha cada vez mais força, e além do cabo, também a Internet.
Ao olharmos para os números da Marktest vemos que, hoje, 80% da população portuguesa vê televisão generalista e 20% vê televisão por cabo. Analisando os dados relativos à publicidade, nota-se um desfazamento relativamente ao impacto destes dois meios, quando a TV generalista consegue mais de 95% desse investimento publicitário.
O mesmo se passa se compararmos televisão e Internet, com a primeira a somar 92% do investimento publicitário e a segunda 8%, quando há consumidores de determinadas classes que já passam tanto tempo (ou mais) a navegar na Web, como a ver TV. "É uma indústria estabelecida que vai demorar algum tempo a mudar, mas que inevitavelmente vai ter de mudar", refere por sua vez Nuno Bernardo. "Os publicitários, as agências e os anunciantes têm de começar a investir onde realmente o consumidor está e não onde o consumidor estava há não sei quantos anos atrás".
Com a crise instalada, com a redução nos orçamentos dos canais e dos anunciantes e com a crescente fragmentação das audiências os desafios são criar e produzir formatos, contextos ou experiências que fidelizem audiências e respectivos anunciantes, insiste Pedro Filipe Santos.
"Criar conteúdos relevantes para que os vê e para quem os paga, que sejam acessíveis no preço e rentáveis na produção. E ao mesmo tempo, disputar o mercado com os formatos estrangeiros adaptados, as multinacionais de produção, o vício dos portugueses nas novelas e a produção interna das próprias estações. É muita coisa".