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Bons ventos e bons casamentos

Jovens com experiências no estrangeiro podem ser uma mais-valia para a sua empresa. Porque praticam outras línguas, contactam com outras culturas e aprendem novas metodologias de trabalho. Conheça as histórias de quem trocou o Algarve por Berlim, Dublin e Sevilha e regressou.

05 de Agosto de 2010 às 10:38
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José Gonçalves, 28 anos, agarrou a oportunidade de ir para o estrangeiro com "unhas e dentes". Quando concorreu ao Rosa-dos-Ventos, o recém-licenciado em "design" de comunicação estava desempregado há um ano. "Sabia que era uma boa oportunidade para me desenvolver profissionalmente", explica. Fez as malas e foi para Berlim durante três meses. Durante oito semanas, esteve a estagiar no departamento de "design" gráfico da Archimedes Solutions. "A Archimedes deu-me uma nova perspectiva de trabalho, uma nova metodologia", afirma.

Quando voltou, começou a trabalhar como "freelancer" e, actualmente, tem parcerias com várias empresas algarvias. Trabalho suficiente para não deixar o emprego por conta própria de lado. Entretanto, deu aulas de tecnologias de informação e comunicação aos alunos do ensino básico e um módulo de 3D num curso de técnicas de multimédia.









A "mente aberta" de Hugo Nunes, em parte proporcionada pela experiência
em Berlim, é uma vantagem para a Sport Travel, que lida só com turistas.





Mais próximo dos turistas

Hugo licenciou-se em "design", mas isso não o impede de trabalhar na Sport Travel. Da experiência em Berlim, trouxe o inglês, o alemão e a "mente aberta".

Hugo Nunes, 25 anos, trabalha na Portugal Sport Travel há cerca de um ano. Em Portugal, ainda não fez uso da sua licenciatura em "design" de comunicação, pela Universidade do Algarve, e do estágio de dois meses na Forelle Media, em Berlim. A sua formação na área do "design" e a experiência no estrangeiro não o impediram de ingressar no mercado de trabalho. Para Sílvia Coimbra, responsável do departamento de transferes da empresa do Algarve, o facto de o jovem ter contactado com outras culturas é uma mais-valia na sua função. Actualmente, Hugo transporta turistas do aeroporto para os hotéis e vice-versa.

Quando voltou do estágio Rosa-dos-Ventos, Hugo Nunes terminou a licenciatura e procurou emprego na sua área de formação. Não conseguiu e, pouco tempo depois, começou a trabalhar na Portugal Sport Travel. Teve conhecimento do programa através da ANJE, onde fez um estágio curricular e rumou à Alemanha, em Maio de 2009. "Interessava-me ir para Berlim, porque é um dos melhores sítios para aprender 'design'. E tive oportunidade de fazer outras formações e visitar várias universidades", explica. Quando voltou, estava mais rico, profissional e pessoalmente. Contactou com metodologias de trabalho diferentes e a experiência num projecto de "software" permitiu que visse "as coisas de outra forma". "Vim mais auto-confiante, mais motivado para procurar emprego", diz.

Hoje, no trabalho que desenvolve na Sport Travel pode pôr em prática o vocabulário de alemão que aprendeu, bem como o inglês.

Um melhor domínio destas línguas facilitou-lhe o contacto com os turistas, facto comprovado por Sílvia Coimbra, que garante que o Hugo está com um "óptimo inglês".

"Ele é dinâmico, muito positivo, com uma mente muito aberta e o facto de ter estado no estrangeiro ajuda", diz Sílvia Coimbra. A experiência no Rosa-dos-ventos contribuiu para o seu recrutamento. "O facto de ele ter tido contacto com uma cultura diferente, muda tudo." A experiência em Berlim fez com que Hugo Nunes tivesse uma mente mais aberta e isso nota-se no contacto com o cliente e na sua postura perante o trabalho. Apesar da sua visível satisfação com o trabalho do jovem "designer", Sílvia Coimbra gostaria que ele encontrasse um trabalho na sua área de formação. Por enquanto, se se mantiver na Sport Travel agrada às chefias e agrada aos clientes, o que é fulcral para o desenvolvimento das actividades ligadas ao turismo.




Da Alemanha, trouxe a importância da qualificação, mas acredita que é importante saber um pouco de tudo. "Acho que faz falta a especialização em ferramentas em Portugal, mas também acho que é bom estar minimamente familiarizado com outras ferramentas", comenta.

Coloca em prática o conhecimento que adquiriu em Berlim quando tem de desenvolver projectos para as empresas da região. Por isso, acha que o Rosa-dos-Ventos é uma boa aposta para desenvolver a competitividade das empresas do Algarve. E é isso mesmo que o programa de mobilidade promovido pela Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) visa. Além de proporcionar aos jovens algarvios a oportunidade de efectuarem estágios profissionais em empresas europeias, permite que sejam incorporados recursos humanos cada vez mais qualificados, visando aumentar a competitividade das empresas da região.

O projecto nasceu por iniciativa do Núcleo Regional da ANJE no Algarve, enquadrado no Programa de Aprendizagem ao longo da Vida - Leonardo da Vinci, tendo estabelecido parceiras com os municípios algarvios. "A ANJE acabou por ver no projecto um importante contributo para a qualificação dos jovens da região, facto que, em última análise, acabará também por ajudar ao fortalecimento do tecido empresarial local", explica Paulo Bernardo, membro da direcção nacional da associação.









A contratação de Vânia Pinho ajudou a Siprosel no processo
de internacionalização da empresa.





Trabalhar num contexto diferente

Vânia Pinho já tinha encontrado um emprego em Portugal, quando decidiu fazer as malas e ir para Sevilha. Hoje, é uma técnica de "marketing" mais "rica".

Através de um jornal local. Foi assim que Vânia Pinho, 27 anos, teve conhecimento do Rosa-dos-Ventos. Desde que terminou a sua licenciatura em Comunicação Organizacional, na Escola Superior de Educação de Coimbra, que Vânia Pinho tinha vontade de viver uma experiência de trabalho internacional. "Pareceu-me uma excelente oportunidade de a concretizar", diz. Vânia Pinho tinha começado a trabalhar há cerca de um mês, quando soube que ia para Sevilha.

O emprego era na área, mas não chegou a assinar contrato, porque queria aproveitar a oportunidade de estagiar em Sevilha. "Ainda pensei duas vezes, eles estavam a gostar do meu trabalho, mas o estágio no estrangeiro já era uma coisa que eu queria viver há muito tempo", comenta. Em Sevilha, trabalhou numa empresa de "marketing" e comunicação, a Tribeca Media, como assessora comercial. Estabelecia contacto com fornecedores internacionais, pedia orçamentos e comunicava-os aos clientes. "O principal obstáculo era a língua, no entanto, fui muito bem recebida e integrada por todos", comenta.

Começou a enviar currículos para Portugal, quando ainda estava em Espanha. Foi seleccionada para a Siprosel, empresa de Castelo Branco mas com uma delegação no Algarve e, hoje, está a desenvolver um estágio profissional como técnica de "marketing". A empresa de sistemas globais, manutenção e segurança ainda está numa fase de arranque da sua actividade na região, mas a contribuição de Vânia Pinho já se sente. João Custódio, sócio-gerente da organização, afirma que já são visíveis algumas alterações na imagem da Siprosel perante o exterior. Na hora de recrutamento de Vânia Pinho, "a experiência no estrangeiro e a fluência oral em inglês, francês e espanhol representaram factores determinantes" para a sua selecção. Para João Custódio, a mais-valia que Vânia Pinho trouxe da experiência no estrangeiro foi a possibilidade de dar apoio na internacionalização da empresa. Para a jovem, foi a aprendizagem num contexto de trabalho diferente. Aplaude a iniciativa e espera que haja uma aposta cada vez maior neste tipo de iniciativas.




Com os estágios profissionais em empresas de referência, a ANJE procura dar continuidade à formação dos jovens, aumentar os seus níveis de conhecimento sobre a realidade europeia empresarial e contribuir para o reforço das suas competências linguísticas. "Acreditamos que, regressados ao Algarve, depois desta experiência de 12 semanas, os participantes vêem favorecida a sua integração no mercado de trabalho, uma vez que as empresas reconhecem neles competências diferenciadoras", comenta Paulo Bernardo. Por outro lado, esta experiência pode constituir também uma "importante escola" para quem ambiciona enveredar pela actividade empresarial.

Desenvolver o capital humano
Os estágios Rosa-dos-Ventos dirigem-se à população jovem, entre estudantes, recém-licenciados, desempregados ou pessoas presentes no mercado de trabalho, mas com disponibilidade para adquirir novos conhecimentos no estrangeiro. No processo de selecção, a ANJE dá preferência àqueles cujo percurso formativo esteja relacionado com áreas consideradas prioritárias para a região, como Hotelaria, Ambiente - Mar e Novas Tecnologias. Os candidatos também devem ter alguns conhecimentos da língua do país de acolhimento ou de um segundo idioma. Nunca ter vivido ou trabalhado no estrangeiro é igualmente um critério preferencial de apuramento.

A selecção é realizada com os municípios algarvios, que fazem uma primeira triagem dos candidatos. Depois, a ANJE selecciona os bolseiros finais, uma escolha que "tem como critério essencial a capacidade empreendedora dos candidatos e a aplicabilidade futura dos conceitos que são aprendidos durante o estágio".









Para Mónica Montenegro, do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, a postura empreendedora e pragmática de Ângela Lopes deve-se, em parte, à sua experiência anglo-saxónica.





Experiência internacional como factor decisivo

Ângela Lopes fez as malas para ir para Dublin, em Maio de 2009. Quando regressou, fê-las novamente, mas desta vez para Santa Maria da Feira.

Ângela Lopes tem 23 anos e está a tirar um mestrado em gestão e desenvolvimento de destinos turísticos. Em Maio de 2009, foi para Dublin no âmbito do programa Rosa-dos-Ventos. "Estava à procura de um primeiro emprego ou de um estágio profissional e um pouco desmotivada, o que fez com que quisesse procurar novas experiências", comenta. Dois meses após o seu regresso, começou a trabalhar no Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT), em Santa Maria da Feira, através de um estágio profissional.

"A questão da experiência internacional foi altamente valorizada, porque temos alguns projectos no estrangeiro", explica Mónica Montenegro, directora executiva do instituto. Quando a jovem enviou o seu currículo, não estavam à procura de mais estágios profissionais, mas o facto de ter tido uma experiência lá fora contribuiu para que a chamassem. E não se arrependem. No seu trabalho, Ângela Lopes tida como célere, pragmática e empreendedora. E a directora acredita que a sua experiência na Irlanda contribuiu pela sua postura profissional e pelo que tem feito no IPDT. "Os anglo-saxónicos têm um pragmatismo diferente do que vemos em Portugal", explica Mónica Montenegro. E isso sente-se no dia-a-dia do instituto. "A Ângela é muito autónoma, com um poder de iniciativa grande, auto-confiante e não tem problemas em defender as suas ideias." Apesar de ser do Algarve, não teve dificuldades em se mudar para o Norte e, hoje, é um elemento importante nos projectos em que se insere.

Ângela Lopes demorou algum tempo a encontrar o seu "lugar" em Dublin. Começou a estagiar numa igreja anglicana, mas mais tarde mudou-se para a escola onde fez o curso de inglês. Lá, ajudou na organização de eventos e de férias. Depois, conseguiu "finalmente" ir para a delegação da AICEP na capital irlandesa, onde esteve pouco tempo, mas trabalhou directamente na sua área. "As minhas funções estavam um pouco limitadas ao tempo que estive lá, mas foi óptimo", comenta. Lá, teve oportunidade de estar envolvida nas primeiras fases da internacionalização de empresas portuguesas, "clipping", entre outras funções.

Actualmente, está inserida em projectos de turismo com o Observatório do Turismo dos Açores e com o Ministério do Turismo, Indústria e Energia de Cabo Verde, além de coordenar alguns estudos. De Dublin, trouxe "a predisposição para arriscar, uma visão mais abrangente do turismo e conhecimentos mais específicos do funcionamento do sector".

As mais-valias levou-as para o Norte. Apesar do Rosa-dos-Ventos estar direccionado para o tecido empresarial algarvio, quem fica a ganhar é quem contrata os jovens que vivem esta experiência. "Permite que sejam desenvolvidas algumas competências do foro do empreendedorismo, da criatividade e de uma visão de futuro", explica Ângela Lopes. E desabafa: "pena que foram só 3 meses".




As bolsas têm a duração de 12 semanas, quatro dedicadas a um curso de línguas e oito ocupadas com um estágio profissional numa empresa local. Entre 2009 e 2010, a ANJE organizou estágios em Berlim (Alemanha) e Dublin (Irlanda). Na segunda fase, envolveu oportunidades de mobilidade em Sevilha (Espanha), Florença (Itália), Creta (Grécia) e Viena (Áustria).

"O objectivo é que os jovens algarvios que efectuem estes estágios contactem com diferentes 'modus operandi', bem como diversificados processos produtivos e criativos", diz Paulo Bernardo. O conhecimento além-fronteiras traz mais uma vantagem: permite conhecer outros mercados. Para Paulo Bernardo, este conhecimento, aliado ao "networking e aos contactos profissionais podem ser mais-valias para as empresas portuguesas que acolhem estes jovens. "Pretende-se estimular o desenvolvimento do capital humano altamente qualificado, portador de 'know-how' e de competências valorizadas à escala europeia e até global", adianta. Entre 2009 e 2010, a ANJE recebeu 133 candidaturas para 30 estágios internacionais.

A taxa de empregabilidade dos estagiários que participaram no Rosa-dos-Ventos é "bastante positiva". Os 11 jovens que completaram estágios na primeira fase do projecto estão quase todos integrados no mercado de trabalho e as perspectivas são igualmente "animadoras" para os 19 estágios da segunda fase. "Apesar do regresso a Portugal ser ainda recente, muitos deles estão já a trabalhar, o que só vem demonstrar que as empresas reconhecem o valor do projecto e as mais valias que dele podem advir ao nível da produtividade e da diferenciação profissional", conclui Paulo Bernardo.




Três motivos para contratar




Saiba por que é importante contratar jovens com experiências profissionais no esrangeiro.

1. Mais competências
Jovens mais qualificados ajudam a fortalecer o tecido empresarial local e a aumentar a sua competitividade. As empresas reconhecem-lhes competências diferenciadoras.
2. Mais conhecimento
Uma experiência no estrangeiro aumenta os níveis de conhecimento sobre a realidade empresarial europeia e contribui para o reforço das suas competências linguísticas.
3. Mais criatividade
Os jovens que efectuam estes estágios contactam com processos produtivos e criativos diversificados bem como com outras metodologias de trabalho.




Para concorrer



Saiba o que é necessário para concorrer ao Rosa-dos-Ventos.

• Viver no Algarve
Além de residirem na região do Algarve, os candidatos devem ter nacionalidade portuguesa ou serem estrangeiros
com autorização de residência permanente.

• Não trabalharem "lá fora"
Quem já usufruiu de uma bolsa Leonardo da Vinci não pode concorrer e é dada preferência a quem ainda não viveu ou trabalhou no estrangeiro.

• Saber outras línguas
Ter conhecimento da língua utilizada no país de acolhimento e/ou de uma segunda língua, além do português.

• Ter formação
É importante que os candidatos tenham uma formação académica ou formativa, sendo que as áreas de hotelaria, ambiente-mar e novas tecnologias são consideradas prioritárias para a região.

• Estar motivado
A experiência profissional, motivação e características de personalidade, como a autonomia, maturidade, expectativas, interesse, motivação e objectivos pessoais também contam no processo de selecção.






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