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À procura de inovadores à escala global

O nome do MIT e a experiência em "coaching" de empreendedorismo do ISCTE são uma ajuda para as empresas que passam pelo concurso Portugal Venture Competition. O objectivo tem de ser a internacionalização e o milhão de euros que podem receber em prémios dá um empurrão no arranque.

À procura de inovadores à escala global
08 de Setembro de 2011 às 11:37
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O "Portugal Venture Competition", promovido pelo ISCTE e pelo MIT Portugal, vai na segunda edição e posiciona-se como o "concurso dos concursos", mas não por falta de modéstia. "Uma iniciativa como esta só é possível num ambiente que esteja num estágio maduro em termos de concursos. Se não houvesse trabalho já feito, não era possível", afirmaGonçalo Amorim, responsável pela coordenação do concurso.

Muitos dos projectos que se candidatam ao "Portugal Venture Competition" já foram finalistas noutros concursos de empreendedorismo e de ideias de negócio, um estágio de aprendizagem e amadurecimento dos projectos que se torna fundamental para que estejam prontos para acelerar a chegada ao mercado e à internacionalização, dois dos grandes pilares da iniciativa conjunta do ISCTE e do MIT Portugal.

Gonçalo Amorim afirma que o concurso começa onde o apoio a ideias empreendedoras e planos de negócio terminam e a diferenciação está numa visão centrada no mercado e num objectivo global. "Pensámos o concurso com uma estrutura diferente, que trouxesse muitos milhões de euros de investidores que quisessem ver propostas sérias", explica Gonçalo Amorim.

O apoio ao empreendedorismo era uma das áreas que não estava a ser explorada na parceria MIT Portugal e o ISCTE decidiu usar a sua experiência no ensino e com a iniciativa Audax para dar forma o modelo do concurso, que conta com parcerias de várias entidades nacionais e internacionais, justifica Luis Reto, reitor do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL).

"O nosso maior enfoque é na fase pós-prémio, incluindo as condições necessárias para a projecção global das empresas seleccionadas. Com isso, pretendemos abrir novas fronteiras aos projectos candidatos e potenciar a internacionalização dos premiados, contando com a contribuição do júri internacional e de uma rede voluntária de catalisadores", explica Luis Reto.

O montante dos prémios, que se eleva a um milhão de euros para distribuir entre os que chegam à recta final e dão provas de qualidade, é um elemento de atracção de ideias, mas este valor pode multiplicar-se pela exposição a uma carteira de investidores e capitais de risco que procuram projectos maduros e credíveis. "Este não é mais um concurso em que se ganha um valor em espécie e nada acontece", diz Gonçalo Amorim. "Aqui, trata-se de empresas e assumem-se riscos", refere.



"Uma iniciativa como esta só é possível num ambiente que esteja num estágio maduro em termos de concursos. Se não houvesse trabalho já feito não era possível."

Gonçalo Amorim, responsável pela coordenação do concurso.



O radar de selecção dos candidatos aponta para dois alvos primários: futuros empreendedores ou empresas já constituídas, mas com menos de cinco anos de idade e facturação abaixo de 2,5 milhões de euros. Os empreendedores podem ser oriundos de qualquer parte do mundo.

O "Portugal Venture Competition" identifica os projectos em fase "seed" e "early stage", muitas vezes à procura do primeiro financiamento, que tenham uma proposta de valor focada nas necessidades do cliente e que esteja orientada para o mercado. A seguir, procura-se que os investidores e as capitais de risco reconheçam que as empresas valem um a dois milhões de euros e comprem a sua participação nesse valor. "Os investidores acabam por ter um risco baixo, porque o maior trabalho é chegar a esse ponto", refere Gonçalo Amorim.

O desafio seguinte é o de chegar rapidamente ao mercado. "Esta é uma questão essencial, porque as boas ideias têm um prazo curto, como os iogurtes". No ritmo actual, as empresas não podem esperar cinco a dez anos para colocar os projectos em marcha, sob o risco de serem rapidamente ultrapassadas pela concorrência.

E qual é o perfil do empreendedor ideal? "Temos de sentir que têm boa capacidade de trabalho, de resiliência e de venda do projecto". Ser capaz de atrair os melhores talentos para a sua equipa é igualmente uma característica crucial.

"Muitos dos projectos são de pessoas com formação tecnológica e não em gestão. As estratégias de entrada no mercado são incipientes, não têm rede de contactos e desenharam maus planos de execução, não sabem quem são os concorrentes, quais os preços que praticam e não têm um verdadeiro modelo de negócio e parcerias", lembra Gonçalo Amorim.

É nesta área que o "coaching" do programa do ISCTE e do MIT quer ser a plataforma de arranque essencial. O conhecimento de gestão acumulado pela equipa do "Portugal Venture Competition" é aplicado para ultrapassar as principais dificuldades e abrir portas à realização dos testes tecnológicos e à validação comercial dos produtos em empresas onde, à partida, parecia ser impossível chegar.

Este acompanhamento é feito por uma equipa de voluntários, que se tornam catalisadores do negócio e que estão no mapa do MIT, Sillicon Valley e Portugal. São normalmente pessoas com perfil filantrópico, mas que mais tarde podem integrar o capital social. "Estas pessoas têm um papel fundamental muitas vezes no desenvolvimento do negócio", explica Gonçalo Amorim.

O trabalho é realizado de forma mais intensa com os finalistas do concurso, mas também se estende aos semi-finalistas das quatro áreas a concurso, que recebem formação e "coaching" durante a fase de selecção, assim como "exposição" a investidores globais.

Para todas as empresas são definidos 12 objectivos a cumprir no espaço de um a dois anos, mas o compromisso das empresas nos projectos pode ir até cinco anos, o que coloca maior responsabilidade sobre o júri para dissecar a equipa. Só quem dá provas consegue "depositar" o valor do prémio.


"O nosso maior enfoque é na fase pós-prémio, incluindo as condições necessárias para a projecção global das empresas seleccionadas. Com isso, pretendemos abrir novas fronteiras aos projectos candidatos e potenciar a internacionalização dos premiados, contando com a contribuição do júri internacional e de uma rede voluntária de catalisadores."

Luis Reto, Reitor do ISCTE-IUL


Vantagem para Portugal
Para os vinte semi-finalistas seleccionados nesta fase, os resultados que estão a ser alcançados pelas equipas que chegaram à final no ano passado revelam-se um incentivo. Há empresas que já conseguiram alcançar 70% dos objectivos, e o valor de investimento canalizado para finalistas e projectos que chegaram à semi-final já ultrapassa dois milhões de euros, conseguidos nos palcos internacionais de Boston e Barcelona, entre outros.

O vencedor de 2010 foi o projecto Bips na categoria de Internet e Sistemas de informação, que apresenta um sistema de posicionamento em espaços interiores por Bluetooth, que permite seguir pessoas, traçar rotas, tempos e tendências de modo automático. Entre os finalistas contou-se, também, o Plux, que ganhou na categoria de Ciências da Vida com uma solução de fisioterapia para ajudar pessoas que sofrem de disfunções, libertando-as do recurso diário a clínicas de fisioterapia; o Waynergy que desenvolveu um sistema para gerar energia eléctrica através da oscilação de superfícies, como o pavimento; e o Weadapt.eu, na categoria de Outros Produtos e Serviços, com propostas de produtos de vestuário, próteses estéticas e dispositivos de reabilitação para pessoas com necessidades especiais.

Gonçalo Amorim não esconde que o nome do MIT adiciona credibilidade ao concurso, mas este já começa a ganhar valor em nome próprio devido à qualidade de projectos que têm sido apresentados em iniciativas globais, como o Idea Streaming. Isto atrai empresas e empreendedores internacionais, o que se reflectiu no número de candidaturas apresentadas este ano, 13,2% das quais de origem estrangeira, de seis países.

"Portugal é um país fantástico para validar tecnologias e mercados", lembra o responsável pelo concurso, reconhecendo, porém, que há ainda um caminho longo a fazer para conseguir "vender-se no mundo".

A estratégia de internacionalização está assente na premissa de que é preciso dar o país a conhecer-se ao mundo, depois convidar indústrias para Portugal - fazendo o mapeamento do que tem de bom em termos de talento e massa crítica em várias áreas. "Mas é preciso estruturação, organização e recursos", acrescenta.

Estes são alguns dos argumentos para atrair talento e projectos internacionais não "fechando" a porta ou limitando o concurso a ideias portuguesas. "Assim, podemos criar um 'hub' de inovação, porque se os projectos ganharem têm de se fixar aqui".

Continuidade desejada
Mesmo que a continuidade da parceria com o MIT não esteja garantida no projecto global MIT Portugal, cujo contrato termina este ano, existe a esperança de que a renegociação tenha um desenrolar positivo, afiança Luis Reto. "Já se criaram ligações que vão continuar, a nível científico, de troca de professores e experiências, mesmo que o projecto se interrompa".

Ainda assim, o "Portugal Venture Competition" não está totalmente dependente da continuidade do MIT Portugal, possuindo alguma autonomia e um orçamento separado, que é suportado a 95% pelo ISCTE e contando com a parceria da Caixa Geral de Depósitos.

Gonçalo Amorim admite que já existe um Plano B. E este passará por encontrar outro parceiro, que pode até ser o próprio MIT directamente: "A nossa qualidade de projectos é muito boa. Temos de criar massa crítica e acelerar 20 a 30 empresas por ano para trazer mais valor ao país".






Seis perguntas para avaliar a proposta de valor

A avaliação do júri aos projectos que se candidatam ao "Portugal Venture Competition" centra-se na capacidade e qualidade de resposta a seis questões relevantes:
- Quem são os membros da equipa e as suas qualificações?
- Qual a dimensão do problema que procuram resolver?
- Qual é a tecnologia subjacente e o seu pioneirismo?
- O que faz o seu produto ou serviço inovador?
- Mercado: existe uma oportunidade para um impacto global?
- Qual é o modelo de negócio e a estratégia de entrada no mercado?






Retrato rápido do ISCTE-IUL MIT Portugal Venture Competition

Financiamento total: 1 milhão de euros
O valor total é distribuído pelos quatro finalistas que concluem a fase de selecção. Recebem 100 mil euros cada e podem duplicar o valor na fase de Venture. O grande finalista recebe 200 mil euros em cada uma destas fases.

Datas importantes
O "roadshow" da edição de 2011 começou em Fevereiro e as candidaturas deviam ser entregues até 30 de Março. No final de Junho foram anunciados os 20 finalistas entre mais de 60 projectos candidatos, que realizaram em Julho uma acção de formação. Os finalistas são conhecidos a 22 de Setembro e a Grande Final está marcada para 17 de Novembro.

Áreas abrangidas
Ciências naturais e da vida, Sistemas sustentáveis nas áreas de Energias e Transporte, Tecnologias de Informação e Internet, Produtos e Serviços.

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