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A história do que mudou em Portugal resumida em 15 gráficos

15 anos, 15 gráficos. É desta forma que contamos o que se passou em Portugal nos últimos anos. Neste período, o país viveu uma das maiores crises económicas das últimas décadas que ficou para trás, mas deixou marcas profundas. As contas públicas mexeram muito nestes 15 anos. Depois de atingir défices orçamentais de dois dígitos e uma dívida pública de 130% do PIB, o país conseguiu endireitar a trajectória. A esperança de vida subiu e os portugueses estão muito mais qualificados.

PIB expandiu, mas investimento público caiu

PIB expandiu, mas investimento público caiu
Em 2017, a economia cresceu ao maior ritmo desde 2000. Apesar de ser um facto assinalável, este recorde demonstra que a economia esteve a maior parte dos últimos 15 anos a crescer abaixo de 2,7%. Entre 2009 e 2013, com excepção em 2010, a economia portuguesa contraiu. Já o investimento público manteve-se entre os 3 e os 4% nos últimos 15 anos, mas desceu abruptamente nos anos da crise. Ao contrário da recuperação da economia, o investimento do Estado não conseguiu dar a volta, tendo ficado abaixo de 2% do PIB em 2016 e 2017. Um dos indicadores que melhorou muito foi a taxa de cobertura das importações pelas exportações (proporção das aquisições que é compensada pelas vendas ao exterior). Diferente é a evolução da dívida externa líquida, que se agravou muito, sendo quase o dobro da existente em 2003.

Desemprego sobe e baixa a grande velocidade

Desemprego sobe e baixa a grande velocidade
A taxa de desemprego é um espelho fiel do que se passou com a economia portuguesa nos últimos 10 anos. Se, até 2008, a percentagem da população activa sem emprego não ia além dos 8%, a partir de 2009 inicia-se uma escalada do desemprego. Em apenas cinco anos, a taxa de desemprego duplica, atingindo, em 2013, os 16,2%. Porém, o ritmo da subida manteve-se na descida, com o desemprego a cair de forma vertiginosa até atingir os 7,9% em 2017. A expectativa é de que o número de desempregados continue a baixar daqui para a frente, mas de forma menos expressiva. Em termos qualitativos, não houve grandes alterações: a precariedade dos vínculos laborais mantém-se nos mesmos níveis, enquanto os salários, embora estejam a crescer, continuam sob pressão.

Salários do privado tropeçaram na troika

Salários do privado tropeçaram na troika
A subida do vencimento médio bruto (incluindo suplementos) foi mais ou menos constante até 2012. E quase sempre com ganhos de poder de compra. A partir daí, o objectivo de desvalorização de salários, assumido durante o programa de ajustamento, impôs-se. Num período marcado pela alteração às leis laborais e cortes no subsídio de desemprego, decididos enquanto o desemprego disparava, o ganho médio registou quebras nominais tanto em 2013 como em 2014 (e quebras reais em quatro dos últimos seis anos analisados). Também o salário mínimo interrompeu as subidas nominais de 4% ou 5% que foram registadas tanto antes como depois do programa de ajustamento. Os últimos dados administrativos são sobre 2016, ano em que os salários já registam um aumento real. Quanto à produtividade, pouco melhorou face à média europeia em 15 anos.

Construção recupera após uma década deprimida

Construção recupera após uma década deprimida
O sector da construção atravessou um período negro, de forte contracção, na última década. Em 2007, o peso do valor acrescentado deste sector no conjunto da economia iniciou uma queda abrupta, que duraria até 2016, sem interrupções. Foram as obras públicas que recuaram, foi a construção nova que travou, foi a crise financeira e económica que impediu o acesso ao financiamento para comprar ou construir. Mas em 2017 o sector parece ter dado uma volta e reanimou. Foi um dos sectores que mais contribuiu para a subida do investimento. O seu peso no PIB aumentou e os preços das casas, em recuperação depois do tombo provocado pela crise, dispararam nos últimos dois anos. Agora a pergunta é outra: há uma bolha à vista?

Crédito sobe, mas continua longe dos níveis de 2003

Crédito sobe, mas continua longe dos níveis de 2003
O dinheiro emprestado às famílias está a aumentar há quatro anos consecutivos, revelam os dados do Banco de Portugal. Em 2017, as novas operações de financiamento ascenderam a 14.450 milhões de euros, o valor mais elevado desde 2010. Mas, apesar da forte recuperação registada nos últimos anos, o dinheiro emprestado a particulares está ainda muito longe dos níveis a que se encontrava em 2013. Há 15 anos, os bancos emprestaram 23.055 milhões de euros às famílias e, em 2007, chegou a superar os 30 mil milhões de euros. Os bancos voltaram, a partir de 2014, a abrir a torneira do crédito mas, apesar do forte crescimento que tem registado, o financiamento às famílias ainda está longe dos máximos históricos.

Receitas turísticas triplicam em 15 anos

Receitas turísticas triplicam em 15 anos
Nos últimos dias, as receitas turísticas voltaram a ser notícia: em Março, pela primeira vez, superou-se a barreira dos mil milhões de euros gastos por turistas em Portugal. A análise dos últimos 15 anos mostra uma evolução positiva do indicador, com uma única excepção em 2009. Só a partir de 2014 é que a tendência de forte crescimento se tornou óbvia, reflexo da estratégia de diversificação dos mercados emissores de turistas e a oferta ao longo do território e do ano. Em 2017, a evolução homóloga roçou os 20%. Nestes 15 anos, as receitas turísticas quase triplicaram, para os 15 mil milhões, um resultado possível não só pelo aumento do número de turistas - que superaram os 23 milhões -, mas também pelo preço mais elevado que pagam pelos serviços a eles dirigidos.

Valor da bolsa nacional cresce 50%

Valor da bolsa nacional cresce 50%
Os últimos anos foram de má memória para a bolsa nacional. Desde 2014, várias foram as empresas que saíram do mercado de capitais, enquanto outras perderam muita da sua importância. Neste momento, o índice principal da bolsa nacional, o PSI-20 é composto por 18 cotadas, sendo que nenhuma das cotadas fora do índice preenche os requisitos para ascender à principal montra da bolsa. Contudo, olhando para a capitalização bolsista do PSI-20, esta tem aumentado nos últimos anos, fruto da valorização das acções. O PSI-20 terminou o ano de 2017 com uma capitalização bolsista de 59,6 mil milhões de euros, a mais elevada desde 2010, ano que antecedeu o pedido de ajuda externa. Nos últimos 15 anos, a bolsa viu o seu valor de mercado aumentar em 51%.

Depois da crise, défice atinge mínimo da democracia

Depois da crise, défice atinge mínimo da democracia
Em 15 anos, o rácio da dívida pública no PIB duplicou, passando de 60% para mais de 120%. Os principais saltos ocorreram entre 2009 e 2012 e deveram-se, em grande medida, à inclusão no perímetro das administrações públicas, incluindo as PPP ou empresas públicas. Após sete anos de aumentos consecutivos, a dívida pública aliviou em 2015. Mas voltou a subir em 2016 com a recapitalização da CGD. Em 2017, a dívida pública regressou às quedas: contraiu 4,2%, a maior queda desde 1997. O défice orçamental foi também influenciado pelas entidades públicas reclassificadas, atingindo um pico de 11,2% em 2011. Após esse ano, o saldo das administrações públicas foi sempre melhorando, mas pelo caminho foi, por três vezes, surpreendido por ajudas a bancos: em 2014, com o BES; em 2015, com o Banif; e em 2017, com a recapitalização da CGD.

Crise da dívida afasta Portugal da Alemanha

Crise da dívida afasta Portugal da Alemanha
A "yield" da dívida pública portuguesa e alemã negociava em níveis próximos no final de 2003. Situava-se nos 4,443% e 4,292%, respectivamente. Continuaram próximas nos anos seguintes, até que em 2010 Portugal foi afectado pela crise da dívida soberana e viu os seus juros disparar. No final de 2011, ano em que Portugal pediu ajuda externa, os investidores exigiam um juro superior a 13% para investir em títulos de dívida a dez anos. Nos últimos anos, a tendência é de claro alívio.

Carga fiscal sempre a subir

Carga fiscal sempre a subir
Desde os anos da crise e da intervenção da troika que a curva se tornou ascendente e ainda não parou. Com o enorme aumento de impostos, de Vítor Gaspar, a carga fiscal medida em percentagem do PIB voltou a crescer e continua a ganhar terreno à boleia do crescimento do emprego e do consumo, por via das contribuições sociais e dos impostos indirectos. O tema tem dividido o espectro político nacional, com a direita a apontar o dedo ao Governo e este a responder que a culpa é, afinal, da economia que está finalmente em boa forma.

Despesa pública em saúde a cair desde 2010

Despesa pública em saúde a cair desde 2010
A despesa pública em saúde em percentagem do PIB tem vindo a cair sucessivamente desde 2010, ano em que atingiu os 7,4% do PIB. No ano seguinte, baixou a fasquia dos 7% e em 2016 ficou aquém até dos 6%. Simultaneamente, aumentaram as transferências do Orçamento do Estado para o Serviço Nacional de Saúde (excluindo financiamentos excepcionais). Depois de quedas sucessivas desde 2010, o ciclo inverteu-se a partir de 2015, ano em que totalizaram os 7.878 milhões de euros. Os dados do Ministério da Saúde indicam que as transferência do OE atingiram os 8.628 milhões em 2017, o valor mais alto desde o início da década. Para 2018, os números apontam para uma descida das transferências, numa altura em que a saúde e a qualidade dos serviços do SNS está no centro do debate político.

Despesa com pensões a subir aos saltinhos

Despesa com pensões a subir aos saltinhos
Apesar das reformas que desde 2007 ligam as futuras pensões à esperança média de vida e preparam o caminho para a consideração de toda a carreira contributiva, e dos cortes reforçados durante o programa de ajustamento, o peso das pensões no PIB é agora mais alto. O envelhecimento e a reforma de pessoas com carreiras melhores ajudam a explicar a tendência. Já a instabilidade deste indicador reflecte a turbulência da economia e das próprias pensões. Em 2013, no ano em que o Constitucional obrigou o Governo a voltar a pagar os subsídios de férias e de Natal, o PIB nominal avançou apenas 1,1%, após dois anos de quebra. É o que justifica o pico que se vê no gráfico.

Qualificações disparam em 15 anos

Qualificações disparam em 15 anos
A falta de qualificação dos portugueses é dos poucos diagnósticos consensuais quando se fala de Portugal. Das instituições internacionais aos partidos de esquerda, das centrais sindicais às confederações patronais, todos concordam que Portugal tem muito caminho a percorrer na melhoria das qualificações. Ainda na semana passada, a Comissão Europeia apontava Portugal como um dos países europeus mais atrasados nesta frente. Mas já muito se fez. Em 15 anos, a percentagem da população com ensino superior mais do que duplicou (passando de 10,9% para 24%) e, nos jovens entre 25 e 34 anos, já há um terço com qualificações superiores.

Gastos com pessoal descem

Gastos com pessoal descem
O peso das despesas com pessoal é agora o mais baixo da série de 15 anos. A partir de 2011, as estatísticas do emprego público mostram uma expressiva quebra chegando a descer abaixo de 7% em 2014. Passos Coelho ainda tentou liberalizar os despedimentos na Função Pública, mas foi travado pelo Tribunal Constitucional, pelo que a maioria das saídas se fizeram pela aposentação. O número de funcionários tem estado lentamente a recuperar, mas com salários congelados (já depois da anulação dos cortes) a despesa perde peso. Quanto ao conjunto da despesa pública, o peso desta no PIB diminuiu muito nos anos da troika e até 2016, registando uma ligeira recuperação no último ano.

Mais anos de vida

Mais anos de vida
Uma das melhores notícias destes últimos 15 anos é o aumento da esperança de vida. Um português que nasça hoje tem um horizonte médio de vida de 80 anos, mais três do que em 2003. A recuperação é sustentada, anos após anos e vem obviamente de trás, reflectindo as melhorias no Serviço Nacional de Saúde, das condições de habitabilidade e higiene, mas também o maior acesso à informação. Esta boa notícia é também um enorme desafio para a sustentabilidade das contas públicas.
Negócios 30 de Maio de 2018 às 15:00
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O país passou por muito e também mudou, mas menos do que aquilo por que passou. A grande recessão abalou os alicerces da economia e do Estado social, mas não de forma irremediável e, a pouco e pouco, as coisas vão regressando ao que eram antes da hecatombe provocada pela crise financeira.

A economia voltou a níveis de crescimento só vistos no século anterior, enquanto o desemprego caiu a pique, mas mantendo-se, ainda assim, longe do quase pleno emprego dos anos 90.

O sector da construção voltou à superfície depois de uma década a afundar, mas o que verdadeiramente mudou na economia foi o peso do turismo, com efeitos por toda a economia. Os preços das casas dispararam, impulsionados pelo alojamento local a turistas, pelo investimento estrangeiro e pelo regresso em força do crédito hipotecário.



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