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Nuno Santos diz que demissão é "caso de saneamento político"
Acompanhamento noticioso que a RTP fez sobre a licenciatura de Miguel Relvas e sobre a pobreza, resultado das medidas do Governo, terá causado incómodo no Executivo, de acordo com Nuno Santos.
Nuno Santos, o ex-director de informação da RTP, voltou hoje a negar que tenha facultado imagens da manifestação do dia 14 de Novembro e defendeu que o seu pedido de demissão se insere num “caso de saneamento político” na estação de televisão.
“O que temos aqui é um caso de saneamento político, travestido de decisão de gestão e, mais grave, de evocação das defesas dos direitos, liberdades e garantias”, segundo declarou Nuno Santos na comissão para a Ética, a Cidadania e a Comunicação, no Parlamento, na sequência de um requerimento feito pelo Bloco de Esquerda.
Para Nuno Santos, a dimensão política do caso das imagens não editadas e não transmitidas dos confrontos à frente da Assembleia no dia da greve geral, que foram vistas por agentes da polícia, “não pode ser ignorada”.
“A dimensão política deste acontecimento não ocorre numa fase qualquer, é um momento muito delicada da vida da RTP, em que se prepara a alienação de uma parte do capital da empresa”, disse o jornalista.
Os acompanhamentos noticiosos que a RTP fez sobre a licenciatura de Miguel Relvas, sobre a pobreza resultante das medidas do Governo e sobre os gastos do Estado terão causado incómodo no Executivo, segundo o ex-director de informação do canal, pelo que o caso das filmagens terá sido a “primeira oportunidade” para “provocar” o pedido de demissão de Nuno Santos.
"Julgamento sumário"
Mostrando-se surpreso com as declarações que Alberto da Ponte fez ontem na mesma comissão parlamentar, quando disse que Nuno Santos estava a desempenhar um “bom” papel na RTP, o jornalista deixou uma pergunta. “Se sou tão bom, como é que, à primeira oportunidade que surge, sou alvo de um julgamento sumário?”
O presidente do conselho da administração negou, ontem, qualquer motivo político para que tenha aceite o pedido de demissão de Nuno Santos, dizendo que resultou apenas de uma deslealdade hierárquica que levou à perda de confiança da administração no líder da direcção, reiterando que tinha sido o próprio a optar por demitir-se.
“Porque é que apresentei demissão? Porque, na conversa que tive com o presidente do conselho de administração, pensei que, perante o problema que existia, me seria perguntado o que é que tinha a dizer sobre a questão. O que Alberto da Ponte fez não foi isso. O que fez foi uma acusação sumária sobre a minha responsabilidade directa nos incidentes”, justificou o jornalista que liderava, até às últimas semanas, a informação na RTP1.
Luís Marinho "teria feito o mesmo" que Nuno Santos
Nuno Santos garantiu, mais uma vez, que não deu “autorização, nem expressa, nem velada, para o visionamento das imagens e muito menos para a cópia das referidas imagens”, como é acusado no inquérito interno feito pelo departamento jurídico da RTP ao referido episódio.
O jornalista salientou ainda, na comissão parlamentar, que deu a informação integral sobre o pedido de imagens “em bruto” dos confrontos ao director-geral de conteúdos, Luis Marinho, no dia 19, depois de lhe ter dito que tinham de conversar três dias antes, no dia 16. “[Na segunda-feira], o director-geral disse que tínhamos procedido bem e que ele teria feito o mesmo”, considerou. Luis Marinho não está a ser ouvido na comissão parlamentar porque o nome foi rejeitado pelos deputados da maioria. Ontem, Alberto da Ponte reiterou confiança no director-geral de conteúdos.
Imagens não editadas são propriedade do jornalista
“É uma evidência que os brutos são trabalho jornalístico”, defendeu hoje também, no Parlamento, o ex-director de informação da RTP1 Nuno Santos. “Não se destinam a nenhuma outra utilização”, acrescentou, contrariando a ideia de que podiam ser cedidos sem autorização do jornalista.
Nesse sentido, Nuno Santos acrescentou que não deu autorização “nem expressa, nem velada” para que tenham sido visionadas por elementos estranhos à RTP quaisquer imagens dos confrontos que ocorreram à frente da Assembleia a 14 de Novembro que não foram editadas nem transmitidas pelo canal.
O ex-director de informação, que se demitiu após 20 meses no cargo, diz que, noutra situação, tinha já rejeitado um pedido do provedor do telespectador para aceder a material em bruto de uma reportagem da RTP sobre alunos da Casa Pia cobaias de próteses dentárias.
(Notícia actualizada às 12h20 com mais informações; Notícia actualizada pela segunda vez às 12h31; Notícia actualizada às 15h41)