Notícia
Têxteis já sabem as linhas com que se "cosem" os portugueses
Estudo antopométrico permite às empresas fabricar e vender vestuário de tamanhos adaptados aos consumidores nacionais, baixando as devoluções, sobras, arranjos e a percentagem (40%) de mulheres com problemas em encontrar o seu tamanho nas lojas.
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O português médio pesa 77 quilos, tem 1,71 metros de altura, o perímetros do peito é de 106 centímetros, o da cintura de 92 centímetros e o da anca de 101 centímetros. Já a mulher portuguesa, também em valores médios, pesa 64 quilos, mede 1,59 metros e tem as seguintes medidas em termos de perímetro: 97 centímetros de peito, 86 centímetros de cintura e 103 centímetros de anca.
Estes foram os valores médios apurados para os três pontos de medida mais utilizados para a produção de vestuário, num estudo antopométrico da população portuguesa que foi apresentado esta quinta-feira, 26 de Fevereiro, no Porto.
Com o levantamento de dados feito nos últimos dois anos junto de uma amostra de 1.189 mulheres e 806 homens, dos 18 aos 86 anos, dos diferentes distritos de Portugal, as empresas do sector têxtil, moda e confecção passam a conhecer perto de 400 pontos de medida que lhes permitem oferecer produtos desenhados segundo as necessidades dos clientes portugueses.
As grandes vantagens apontadas pelos autores do estudo são evitar o elevado índice de devolução de vestuário, de roupa que fica por vender no final de cada estação e baixar também a percentagem idêntica (40%) de mulheres que têm problemas em encontrar o seu tamanho e de portugueses que admitem não arriscar uma compra "online" por causa das dificuldades na escolha do tamanho.
O problema actual é que nesta indústria são aplicados sistemas de modelação baseados em dados e proporções corporais dos anos 1970, estando assim os tamanhos do vestuário desadequados e não uniformizados. Por outro lado, explicou Ana Florinda Ramôa, do gabinete de estudos e projectos do CITEVE (o centro tecnológico do sector têxtil), as empresas portuguesas exportadoras, que recebem dos clientes internacionais a tabela de medidas para as suas populações, "acabavam por utilizar muitas vezes essas tabelas de medidas" dos estrangeiros para as roupas que produzem e vendem aos portugueses.
E se na comparação com os espanhóis a diferença não é relevante, como mostrou o estudo numa comparação com os dados obtidos do outro lado da fronteira – as mulheres portuguesas apenas têm o peito um pouco maior –, para um alemão ou sueco "haverá muitas diferenças". "O que as empresas faziam era ir corrigindo as tabelas de medida [para Portugal] em função das vendas, por tentativa - erro, e recolhendo a opinião dos clientes das lojas e dos arranjos que tinham de fazer", acrescentou a responsável do CITEVE, que realizou este estudo em parceria com a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), a principal associação empresarial do sector.
Ferramenta para aumentar as vendas
Há uma norma europeia (EN 13402) que, embora ainda esteja pouco implementada, serve para uniformizar os tamanhos e tentar contrariar a "confusão grande" nas lojas, em que diferentes marcas apresentam medidas diferentes para a mesma peça. O tamanho de cada peça de roupa deve estar associado a uma medida do corpo – por exemplo, no casaco de homem é relativa ao perímetro do peito –, há intervalos definidos e cada empresa tem de se adequar ao consumidor do mercado em questão.
Com este estudo, as marcas já podem saber a quantidade de portugueses que cabem em cada intervalo e quais os tamanhos que devem produzir mais.
Para ilustrar a actual desadequação entre a oferta de roupa e a procura dos consumidores nacionais, o estudo usa o exemplo real de uma loja "online", que disponibiliza nove tamanhos para venda aos portugueses. Comparando com os dados antopométricos agora obtidos, verifica-se que, se nas medidas da anca e busto a ligação é razoável (acima de 90%), ao nível da cintura a oferta de roupa dessa marca só veste 69% dos potenciais clientes.
Para o tamanho mais pequeno, aliás, na amostra portuguesa não há uma única pessoa que caiba naquela peça. Ora, mexendo nos tamanhos para os adequar à amostra portuguesa, haveria um acréscimo de 18,5% da população abrangida e um consequente aumento potencial de vendas.
Durante a apresentação das conclusões do estudo, integrada no salão Modtíssimo, que hoje termina na Alfândega do Porto, Ana Florinda Ramôa sublinhou que "as empresas podem agora saber quais os tamanhos que têm de produzir em maior quantidade" e deixou alguns apontamentos sobre a evolução das medidas dos portugueses ao longo da idade, estando agora cientificamente comprovado – e com as medidas exactas – que "o nosso corpo não aumenta na mesma proporção nas diferentes medidas". A partir de agora, concluiu, "pode-se escalonar bem os tamanhos e, com isso, aumentar as vendas".