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Rei dos cabos perdeu a Cabelte: “Tive que me reinventar. Tenho duas ‘guest houses’”
Obrigado a entregar o controlo da gigante de cabos elétricos e telecomunicações à “private equity” Oxy Capital, perdeu agora os seus últimos 24,5% no Supremo Tribunal. Entretanto, reinventou-se. Entrevista a Tiago Neiva de Oliveira.
Tornou-se dono da Cabelte em 2006, criando um dos três maiores grupos ibéricos de cabos elétricos e telecomunicações, com uma faturação de 300 milhões de euros e 600 trabalhadores, que viria a perder, em 2013, para a "private equity" Oxy Capital.
Desde então, remeteu-se publicamente ao silêncio. Agora, em entrevista ao Negócios, Tiago Neiva de Oliveira, de 52 anos, fala sobre o passado e o presente, prometendo voltar em breve à indústria.
Por que é que pediu a insolvência da Cabelte?
Porque ando há dois anos a intimar a Cabelte para pagar o meu crédito de perto de 200 mil euros. É que a empresa foi colocada na praça à venda, porque não tem dinheiro para a sua subsistência. E num processo de insolvência, se vier a acontecer, cá estarei, como os outros [credores].
Em sede de insolvência, estaria disponível para recomprar a Cabelte?
Teria que analisar. O grupo mudou muito. Fecharam a fábrica em Espanha… hoje em dia não conheço a empresa que lá está [a casa-mãe, em Gaia], eles [a Oxy Capital] mudaram muita coisa.
Em 2013, quando foi afastado da liderança da Cabelte, com a Oxy a assumir o controlo do grupo, ainda ficou com 24,5% do capital…
Sim, com a possibilidade de aumentar a minha posição até aos 33,33% por um euro, e, no final, até recomprar a empresa por valores que viéssemos a acordar, se a empresa tivesse o desenvolvimento projetado. Mas, entretanto, eles atacaram os meus 24,5% e, em tribunal arbitral, tiraram-mos.
Em tribunal arbitral?
O contrato que me foi imposto, na altura da aquisição da Cabelte pela Oxy, determinava que qualquer problema que surgisse entre nós teria que ser dirimido em sede de tribunal arbitral.
Quem é que requereu o tribunal arbitral? E porquê?
Foi a Oxy, para resolver um problema que eles achavam que havia.
Qual era o problema?
Este não é o momento para falar sobre isso. A Oxy diz que incumpri o contrato, pelo que decidiu ir para tribunal arbitral. Mas não quero falar sobre isso. A Oxy achou que eu incumpri e o tribunal assim julgou.
E qual foi a decisão?
Saiu do Supremo Tribunal de Justiça, no passado mês de outubro. E a decisão foi tirarem os meus 24,5%.
Portanto, além de não ter conseguido chegar aos 33,33% por um euro, ainda ficou sem os 24,5%?
Sem uma ação. Sem nada.
Seis anos depois da sua saída da Cabelte, como vê a empresa?
Como uma grande empresa, mas que, ao fim e ao cabo, desde que a Oxy lá entrou, o desempenho da Cabelte tem sido desastroso. Está numa situação extremamente preocupante. Aliás, não percebo o que andam lá a fazer [os gestores da Oxy Capital]. O objetivo era colocar dinheiro na empresa e pô-la a levantar voo. Mas em vez de atingir o objetivo de atingir um EBITDA superior a 20 milhões de euros, este está incomparavelmente abaixo dos 14 milhões que tinha na minha altura.
O que é que tem feito desde então?
Considero-me industrial. Adoro indústria. Eu sou um homem da indústria. Estou atento a algumas indústrias, que tenho andado a estudar e, possivelmente, irei concretizar alguma coisa em breve. Paralelamente, tive que me reinventar. Aproveitei bem esta "onda" da hotelaria e da restauração. Tenho unidades de restauração. Estou também com algumas coisas na área do imobiliário. Mas a minha paixão é a indústria, como toda a gente sabe.
Tem hotéis e restaurantes?
Tenho restauração e duas "guest houses".
Onde?
O que interessa é que me reinventei. Não me queria expor.