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A proposta de cinco ministros para reindustrializar a União Europeia
“Uma base industrial forte, renovada e modernizada permitirá que a economia real lidere a retoma”, diz a carta assinada por Álvaro Santos Pereira, José Manuel Soria, Corrado Passera, Arnaud Montebourg e Philipp Rösler.
Portugal e mais quatro países europeus propuseram a reindustrialização da Europa na reunião do Conselho da Competitividade da União Europeia (UE), que decorreu ontem.
O grupo, que inclui os ministros europeus responsáveis pelas pastas da Economia e da Indústria de Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha, considera que chegou o momento de a UE inverter o ciclo de deslocalização de empresas e perda de emprego na Europa, pelo que decidiu apresentar a proposta de reindustrialização europeia.
Esta proposta tem sido dinamizada pelo ministro da Economia e do Emprego português, Álvaro Santos Pereira (na foto), em cooperação com o ministro da Indústria espanhol, José Manuel Soria, adiantou a mesma fonte. O grupo inclui também os ministros italiano Corrado Passera, francês Arnaud Montebourg e o vice-chanceler da Alemanha Philipp Rösler, que acumula o cargo de número dois do Governo alemão com a pasta da Economia.
Hoje, a carta da proposta, assinada por estes cinco responsáveis, foi publicada no “The Wall Street Journal”:
“Estamos a viver um momento decisivo para o futuro da economia europeia. Em todo o mundo, os padrões de crescimento e fontes de competitividade estão a mudar drasticamente. As economias emergentes, por exemplo, estão a tornar-se intervenientes mundiais preponderantes, alterando a estrutura das cadeias de valor globais e acelerando as profundas flutuações do poder económico”, diz a proposta logo no seu arranque.
Este cenário coloca desafios, mas também oportunidades, defendem os autores do documento. “Empresas, empresários e trabalhadores europeus devem estar aptos a formular uma estratégia de negócio a partir de uma perspectiva global, de modo a adaptarem-se às tendências de mercado em transformação. Isto requer novas competências e talento para competir e conquistar um lugar no palco internacional”.
Lamentavelmente, sublinha o documento, a Europa como um todo, condicionada pela crise financeira, não está a usar o ritmo certo para lidar com estas mudanças. “Apesar da diversidade das nossas estruturas económicas, os resultados globais mostram um sector industrial europeu em fase de estagnação, o que está a limitar a nossa capacidade de lançar os alicerces para regressarmos à vida do crescimento sustentável. Se bem que a União Europeia continue a ser uma grande potência industrial, já se perderam três milhões de postos de trabalho na indústria desde 2008 e a produção industrial está actualmente 10% abaixo dos níveis pré-crise”, prossegue a carta.
“O nosso sucesso futuro depende de termos um modelo de crescimento forte, diversificado e sustentável, onde a indústria desempenhe um papel-chave como fonte preponderante de criação de emprego, investimento, inovação e capital humano. Uma base industrial forte, renovada e modernizada permitirá que a economia real lidere a retoma da Europa”, acrescenta o documento assinado por Álvaro Santos Pereira, José Manuel Soria, Corrado Passera, Arnaud Montebourg e Philipp Rösler.
“Cabe aos nossos estudantes, investigadores, trabalhadores e empresários inovarem e assumirem um papel de liderança nesta transição. Mas as autoridades públicas têm também a responsabilidade de adoptar medidas visando reforçar as nossas empresas e o ambiente económico em que operam”, salientam os autores da carta, destacando que é preciso lidar com estes desafios tanto a nível nacional como europeu.
Os cinco líderes recordam que muitos países europeus estão a atacar debilidades específicas através de reformas profundas de apoio à competitividade, criação de emprego e inovação, mas sublinham que é necessária também uma resposta a nível europeu. “Este é o espírito das reuniões do Conselho da Competitividade da União Europeia, que são de extrema importância para o futuro da economia real da Europa”. E acrescentam: “À luz dos desafios industriais com que a Europa e as economias se deparam, o Conselho de Competitividade deve trabalhar no sentido de promover uma avaliação construtiva das políticas horizontais com impacto na competitividade industrial. Isso inclui as políticas relacionadas com as regras do mercado único, concorrência, comércio, ambiente, coesão, inovação e investigação, bem como a estrutura de ajudas públicas e as políticas direccionadas para o sector”.
“Entre as políticas sectoriais específicas, algumas das mais importantes dizem respeito ao sector energético”, refere a carta, dizendo também que há que trabalhar no sentido de “garantir que as nossas empresas industriais não estão em desvantagem em relação aos seus concorrentes internacionais”. “Isto requer a criação do contexto certo para promover o seu sucesso, tanto nos mercados domésticos como ultramarinos. Só então é que o pleno potencial da indústria europeia poderá ser libertado, assumindo-se como um motor de retoma, crescimento e criação de emprego”, conclui o documento.