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Líder da CIP pede travão a "milagre económico português de distribuir o que não se cria"

Armindo Monteiro diz ser "lamentável que Portugal continue a crescer abaixo do seu potencial de crescimento" e culpa a carga fiscal pela falta de capacidade para atrair a relocalização de indústrias. E diz mesmo que só por "masoquismo" é que uma empresa estará disposta a investir no país.

Mariline Alves
30 de Setembro de 2024 às 11:55
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O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), Armindo Monteiro, defende ser "muito importante concretizar fatores de competitividade" das empresas para criar valor acrescentado, caso contrário "vamos continuar naturalmente a querer aumentar salários sem base" e "a distribuir o que não temos".

"Não queremos continuar nesta espécie de milagre económico português de distribuir o que não se cria", afirmou, esta segunda-feira no 9.º Congresso da Indústria Portuguesa Agroalimentar, que decorre sob o mote "Crescimento e Sustentabilidade". "É importante primeiro criar", frisou o dirigente da CIP, apontando que o "sucesso" do setor, que representa 20% da indústria transformadadora, 10% das exportações nacionais e entregou um volume de negócios superior a 20 mil milhões de euros, deve ser "um exemplo" para a classe empresarial e política.

Armindo Monteiro lamentou, porém, que "este espírito pareça faltar a Portugal neste momento" atendendo ao "aceso debate" e às "profundas divergências em torno do Orçamento do Estado para 2025", defendendo que nem o cenário de uma governação em duodécimos nem eleições antecipadas, que seria "pior ainda", servem o país. Isto porque "quer as limitações do regime em duodécimos, quer uma crise política, criariam um ambiente pouco propício à superação de desafios que Portugal enfrenta", sustentou, elencando uma série de exemplos, como a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a convergência com a Europa ou a transição energética ou digital. 

"Parece-me evidente que é do interesse do país ter um instrumento de orientação financeira adequado às circunstâncias internas e externas", enfatizou.

Armindo Monteiro sublinhou que "os empresários precisam de previsibilidade e estabilidade". "Eles assumem o próprio risco do negócio, mas não podem aceitar fatores externos criados artificialmente que impeçam que haja estabilidade no seu quadro empresarial".

Para o presidente da CIP "é lamentável que Portugal continue a crescer abaixo do seu potencial de crescimento", sobretudo quando, apesar do mundo estar a braços com conflitos, emerge lá fora "um clima propício ao investimento que não aproveitamos por culpa própria".

Investir em Portugal? Só "por masoquismo"

"Há relocalizações da indústria que não estão a contemplar Portugal", o que "não é de estranhar quando há países com uma taxa de [IRC] 12,5% e em Portugal é o triplo". Posto isto, "pergunta-se se por masoquismo algum empresário prefere investir em Portugal".

Embora ressalvando que "a CIP não entra na discussão partidária", Armindo Monteiro não deixou passar em branco "o efervescente momento político". "Preocupa-me quando um líder estabelece ser radicalmente contra a descida de um imposto para as empresas", afirmou, referindo-se à posição manifestada pelo socialista Pedro Nuno Santos, que recusa liminarmente a descida transversal do IRC, uma medida que o Governo pretende incluir no Orçamento para o próximo ano.

"Não é possível compatibilizar o tal princípio de apoiar as empresas quando se é contra a redução de qualquer imposto para elas", reforçou o presidente da CIP saudando, por outro lado, "o esforço" do Executivo liderado por Luís Montenegro de avançar com uma "medida económica que testemunha a importância das empresas".

Armindo Monteiro sublinhou que "a CIP acompanha de forma clara a missão de aumentar rendimentos dos portugueses, num esforço objetivo de aumento de salários", mas voltou a chamar a atenção que "não é possível aumentar salários sem um esforço de criar riqueza". "Sem qualidade de fatores de produção não é possível aumentar a produtividade.

Embora reconhecendo que "sem melhores salários não estamos a dignificar o trabalho, não conseguimos ter mais qualidade de vida nem vamos ser capazes de reter jovens ou reter talento", o líder da CIP apontou que "há que perceber que aumentar salários tem implicações profundas na vida das empresas".

"Estamos de acordo com aumentar salários, para colocar mais dinheiro no bolso dos portugueses, mas não a pretexto de aumentar a receita fiscal", argumentou.

Assim, "precisamos claramente de medidas que promovam crescimento da economia e aumentem a capacidade do país para criar e distribuir riqueza", ou seja, de "medidas estruturais para empresas serem mais competitivas e produtivas e gerar maiores rendimentos para os trabalhadores"

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