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Empresa de ex-líder do Leiria quer perdão de 98% da dívida

Após o incumprimento de vários planos de recuperação, a Materlis propõe agora, em sede de PER, pagar apenas 2% da dívida de 45,6 milhões de euros. O dono, João Bartolomeu, acredita que a empresa “não vai para liquidação”. A Sonae Indústria é o principal credor.

João Bartolomeu, dono da Materlis, que facturou 2,7 milhões de euros em 2016, diz que só deveriam ser reconhecidos créditos de 29 milhões de euros sobre a empresa. Ricardo Graça
Rui Neves ruineves@negocios.pt 16 de Abril de 2018 às 22:01

Desde o princípio desta década que a Materlis, que já foi um gigante do sector das madeiras e produtos derivados, se mantém no circuito comercial apesar dos sucessivos incumprimentos de planos de recuperação aprovados pelos seus credores.

Detida por João Bartolomeu, presidente do clube de futebol União de Leiria durante 25 anos, entre 1997 e 2012, a Materlis está agora em Processo Especial de Revitalização (PER) com uma dívida de 45,6 milhões de euros a quase duas centenas de credores.

De acordo com o plano de recuperação apresentado pela Materlis, a empresa pretende um perdão de 98% da dívida e o reembolso dos créditos remanescentes num prazo superior a duas dezenas de anos. De fora desta proposta ficaria apenas o credor hipotecário, o BCP (7,2 milhões de euros de créditos), o Fisco (2,1 milhões de euros) e a Segurança Social (363 mil euros).

"Os valores da dívida não estão correctos. Nós fizemos uma reclamação sobre isso ao tribunal, que não se pronunciou até ao momento, pelo que, para cumprirmos os prazos, tivemos de apresentar um plano de recuperação sem negociar com os credores, como queríamos", reagiu João Bartolomeu, em declarações ao Negócios. Para o empresário, a dívida "ronda os 29 milhões de euros".

De qualquer forma, estamos perante uma empresa que fechou o último exercício com uma facturação não muito distante dos 2,7 milhões de euros registados no ano anterior. "Mas a Materlis continua a trabalhar, com 28 pessoas, e acredito que os credores vão aprovar o plano de recuperação. Estou convencido de que não vai para liquidação", afirmou o empresário.

Neste momento decorre o prazo de votação do plano, que conta já com alguns importantes votos desfavoráveis. O Negócios sabe que a Sonae Indústria, principal credor da empresa, com 9,5 milhões de euros, já declarou o seu voto contra, assim como instituições bancárias como o Novo Banco (1,9 milhões de euros), o BIC (1,7 milhões de euros) e o BPI (1,4 milhões de euros).

Além de várias sociedades credoras do seu universo empresarial, como a Leirinveste, com nove milhões de euros de créditos, Bartolomeu garantiu que, entre outros, "a Caixa Geral de Depósitos [que reclama 1,3 milhões de euros] votou a favor". Pela aritmética do dono da empresa, "o PER passa. Sei fazer contas", argumentou.

Angola e falências afundaram a empresa
Já sobre a degradação das contas da Materlis, João Bartolomeu garantiu que houve sobretudo duas grandes razões para a situação económico-financeira a que a empresa chegou: "Nunca devíamos ter ido para Angola – ficaram a dever-nos 9,2 milhões de euros. Ganhámos a acção em tribunal, mas nunca recebemos; e [em Portugal] a falência de clientes nossos, que nos ficaram a dever seis milhões de euros", contou o também antigo líder da União de Leiria.

Com a entrada da empresa em sucessivos processos de insolvência, "deixou de ter liquidez, com a banca a não financiar nada, pelo que tínhamos de comprar tudo a pronto", lamentou o empresário. Mas afiançou que a Materlis "tem muitas encomendas" em carteira. Se o PER for aprovado, rematou, "rapidamente iremos estar a facturar 20 milhões de euros".

"Bodas de prata" à frente da União

João Alberto Amado Bartolomeu, de 72 anos, nasceu na aldeia de Alqueidão da Serra, a uma dúzia de quilómetros a sul de Leiria. Começou a trabalhar como mediador de seguros, tendo em 1977 criado a Materlis, que se tornou numa das gigantes do sector das madeiras em Portugal. Passados 10 anos, chegou à presidência da União de Leiria, onde se manteria durante 25 anos, até 2012. Nesse ano, em Outubro, chegou a ficar detido uma noite na PJ por suspeita de vários crimes de fraude fiscal qualificada e abuso de confiança, no cruzamento da actividade da Materlis com a União de Leiria, num processo em que seria absolvido pelo tribunal a 9 de Maio do ano passado. Foi com João Bartolomeu que o clube ganhou palmarés (chegou a participar nas competições europeias) e, no final, se afundou, com estrondo e muita polémica.

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