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Dona da Amparo lidera moagens em Portugal com vendas de 200 milhões

Resultante da fusão da Ceres com a Germen, o grupo português Better Foods, que detém quatro fábricas e emprega 275 pessoas, “prepara-se para ascender à liderança do setor português de moagens” com uma faturação recorde.

Rui Neves ruineves@negocios.pt 13 de Outubro de 2023 às 17:39

Em 1895, Abílio e Augusto juntaram-se como sócios ao pai, João Ferreira de Figueiredo, nascido em Viseu e que tinha montado no Porto, duas décadas antes, um negócio de compra e venda de cereais e farinhas.

 

Meia dúzia de anos depois, Abílio e Augusto fundavam a A. Figueiredo & Irmão, sociedade que a 1 de abril de 1915, em plena I Guerra Mundial, abriam uma fábrica de moagem na cidade Invicta.

 

O terreno para construir a unidade fabril, no lugar de Noeda, freguesia de Campanhã, tinha sido estrategicamente escolhido: às suas portas ficavam as linhas de caminho-de-ferro da mais importante estação da cidade, a poucas centenas de metros ficava um cais fluvial.

 

Ou seja, a serem feitas por transporte fluvial ou marítimo, quer a receção da matéria-prima (trigo), quer a distribuição do produto fabricado (farinha), teriam custos reduzidos.

 

Em 1931, na conturbada época entre as duas Grandes Guerras, quando uma gigantesca crise económica e financeira abalou todo o Mundo, duas alterações societárias: a 16 de Maio, a firma A. de Figueiredo & Irmão transformou-se em sociedade anónima de responsabilidade limitada.

 

Dois meses depois, e por imposição de um decreto governamental que obrigava a que as sociedades tivessem no seu nome uma referência ao objecto a que se destinavam, passou a chamar-se Moagem Ceres de A. Figueiredo & Irmão, SARL, nome que ainda hoje mantém.

 

A década de 40 do sec. XX é marcada pela morte dos fundadores - primeiro Augusto, em 20 de Janeiro de 1946, substituído na direção por Arnaldo Figueiredo, um dos seus cinco filhos; três anos depois, morreu o irmão, tendo para o seu lugar entrado António Diégues, que era sogro do único filho de Abílio, Eduardo.

 

Mudança de lei determina construção de novas instalações industriais nos anos 60

 

E foi já sob a liderança desta nova geração que começou a reestruturação profunda da Moagem Ceres, que até então mantinha as máquinas e tecnologias com que tinha iniciado a sua actividade.

 

Uma modernização que foi acelerada pela publicação em 1961 de uma lei que obrigava a reorganização da indústria moageira.

 

Resultado: a 12 de dezembro de 1965, ano em que comemorou o 50.º aniversário, inaugurava as novas instalações industriais, em Campanhã.

 

No ano seguinte, António Diegues, doente, foi substituído na direção por Armando Miranda, casado com a neta mais velha de Abílio e figura incontornável no futuro crescimento da empresa, hoje ainda presidente do conselho de administração da Ceres.

 

Desde o 25 de Abril de 1974, sob a liderança de Armando Miranda e Rogério Figueiredo, a Moagem Ceres aumentou mais de seis vezes a sua capacidade produtiva, tendo em 1998 uma capacidade instalada superior a 460 toneladas de trigo por dia e um volume de negócios anual de cerca de 30 milhões de euros.

 

Fusão da Ceres com a Germen produz Better Foods

 

Em 2017, a empresa dá um grande salto em frente com o lançamento de uma operação de concentração, através da fusão da Moagem Ceres com a Germen, uma fabricante de farinhas BTP (baixo teor em pesticidas) para alimentação infantil e de farinhas e preparados alimentícios sem glúten.

 

Foi então criada a "holding" de topo Better Foods( BF), que é atualmente detida em 85% pelos antigos proprietários da Ceres – a MCFI, SGPS -, cabendo os restantes 15% à Ribatejana, Lda., onde estão reunidos os antigos acionistas da Germen.

 

Resultante de uma aliança entre dois dos maiores operadores moageiros nacionais, a BF investiu cinco milhões de euros na eficiência do processo industrial e em tecnologia e inovação, tendo registado ainda "investimentos na renovação das linhas de moenda de arroz e centeio, que nos permitiram potenciar a operação industrial", salienta Nuno Tavares, administrador da BF e que é sobrinho de Armando Miranda.

 

O grupo BF emprega atualmente 275 pessoas e integra sete empresas, das quais quatro industriais, que se dedicam, essencialmente, à produção de farinhas.

 

"É o único ‘player’ ibérico com produção própria de farinhas dos quatro cereais base da alimentação diária do português comum (trigo, milho, arroz e centeio), dispondo ainda de uma linha de produção ‘glúten free’", garante.

 

As restantes três empresas estão vocacionadas para a distribuição e os serviços de valor acrescentado prestados aos principais clientes do grupo BF: as indústrias de panificação e pastelaria.

 

Mercado doméstico vale  85% das vendas

 

Depois de ter passado de um volume de negócios agregado de 131 milhões de euros, em 2021, para 192 milhões de euros no último exercício, o que traduz um incremento das vendas superior a 32%, prevê encerrar o ano em curso com uma "faturação recorde próxima dos 200 milhões de euros", preparando-se, assim, para "ascender à liderança do setor português de moagens", enfatiza a administração do grupo BF.

 

O mercado doméstico "vale sensivelmente 85% das vendas directas", sendo Espanha, Polónia, Reino Unido, Angola, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe os seis principais destinos dos produtos exportados pelas empresas BF.

 

Transforma 400 mil toneladas de cereais em 2023

 

Nos moinhos das quatro empresas industriais do grupo – Moagem Ceres, no Porto; Germen e Carneiro Campos, em Matosinhos; e Granel, em Vila Franca de Xira – vão ser transformadas, até ao fim deste ano, "cerca de 400 mil toneladas de cereais", sendo que a maior parte da produção resultará em farinha de trigo para a panificação tradicional e outros ramos da fileira agroalimentar nacional.

 

Nas contas do grupo têm expressão também a produção de farinhas de centeio, arroz e milho.

 

Presente no fabrico de farinhas BTP para alimentação infantil e de farinhas e preparados alimentícios sem glúten, através da Germen, acresce a produção customizada de farinhas para os principais operadores da indústria alimentar nacional e de farinhas especiais e de sêmolas de milho para as indústrias cervejeira e de cereais de pequeno almoço - é este o negócio "core" da centenária Carneiro Campos, instalada em Custóias, Matosinhos.

 

O portfólio BF abarca também farinhas para utilização doméstica, melhorantes e misturas enriquecidas de farinhas para uso industrial, assim como sêmeas de trigo e milho para consumo animal.

 

Com famílias de produtos dirigidas a diferentes sectores da fileira agroalimentar, a oferta Better Foods é comercializada sob 11 marcas: Amparo (linha premium), Ceres, Eyra ("glúten fere"), Granel, Germen, Padeirinha, Pérola, Farifina, Carneiro Campos, Gergran e Harinas Ceres.

 

Maior fabricante nacional de farinhas isentas de glúten

 

Na principal área de atividade do grupo BF, destaca-se a Moagem Ceres, a operar ininterruptamente há 108 anos e um verdadeiro ícone na paisagem urbana da freguesia portuense de Campanhã, garantindo ser "líder nacional na produção de farinhas de trigo e de misturas enriquecidas para padarias com fabrico próprio".

 

"É o único ‘player’ do sector com produção própria de farinhas e derivados dos quatro cereais base presentes na dieta diária da maioria dos portugueses: trigo, milho, centeio e arroz. A juntar a isto, é o maior fabricante nacional de farinhas isentas de glúten. São atributos que induzem confiança no mercado e nos fazem evoluir e inovar", afirma Nuno Tavares.

 

Mais a Sul, em Alverca, localiza-se a Granel, "a primeira resposta industrial do grupo às necessidades de farinhas de trigo para panificação e outros sectores da fileira agroalimentar desta região do país".

 

Na área da logística e da distribuição, operam a Montepan e a Harinas Ceres – "a primeira, estrategicamente localizada em Montemor-o-Velho, funciona 24 horas por dia e garante o abastecimento atempado de toda a oferta Better Foods no território continental, sendo o principal braço comercial do grupo junto da sua base de mais de 2.000 clientes".

 

A outra empresa "opera unicamente em Espanha e dispõe de entrepostos na Galiza e na Andaluzia, a partir dos quais assegura a comercialização de toda a gama de produtos BF no país vizinho".

 

Do grupo faz ainda parte a Gergran, "joint venture" 50%/50% com o grupo cooperativo francês Vivescia, fabricante dos produtos congelados de padaria e pastelaria da marca Délifrance, que em Portugal são distribuídos e comercializados por esta empresa.

 

No topo do grupo BF está a "holding" que agrupa os dois universos acionistas, ambos de raiz familiar, que protagonizaram a operação de concentração, lançada em 2017, e consumada um ano depois, com a fusão da Moagem Ceres e da Germen.

 

Distribuição gratuita de pão em Campanhã no Dia Mundial da Alimentação

 

No "Dia Mundial da Alimentação", que se comemora na próxima segunda-feira, 16 de outubro, o grupo BF lança online o seu novo site.

 

Também para "assinalar a data e projetar a integração da Moagem Ceres no grupo Better Foods", haverá, durante a manhã desse dia, a distribuição gratuita de pão, de vários tipos, na estação ferroviária de Campanhã, no Porto.

 

"A Ceres está em Campanhã desde 1915 e mantém uma relação de vizinhança muito antiga com a ferrovia e os comboios, através do qual recebia os cereais que transformava", lembra Nuno Tavares.

 

Por isso, o grupo decidiu "chamar a atenção dos adeptos do transporte ferroviário para essa ligação tão forte e afectiva" no "Dia Mundial da Alimentação" e em plena estação de comboios, "para que quem comece o dia utilizando a gare de Campanhã desfrute da experiência prazerosa de degustar um pão de excelência, fabricado pela panificação tradicional portuense com produtos Better Foods", remata o administrador da BF.

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