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Camac não paga a credores, mas diz que vai entrar em projecto de 250 milhões

Sem conseguir cumprir o plano de reembolso prometido aos credores, a empresa está novamente em PER, com dívidas de 17,9 milhões de euros. Mas o líder da fabricante de pneus promete que “há uma nova Camac” em curso.

Os irmãos Jorge e Fernando Barros Rodrigues têm como sócio um fundo estatal, que detém 37,5% do capital da Camac. Paulo Duarte/Negócios
25 de Março de 2018 às 22:00
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A única fabricante de pneus de capital português continua a rolar, apesar do acumular de prejuízos, do incumprimento do plano de reembolso dos credores e das promessas falhadas dos gestores. Desde que a fábrica de Santo Tirso reabriu, em Março de 2010, a empresa tem vivido sempre em depressão financeira e comercial.

Ainda em Agosto passado, o presidente da Camac garantia ao Negócios que esta iria, finalmente, chegar ao "break even" em 2017. Na realidade, fechou o último exercício novamente no "vermelho", com prejuízos próximos de um milhão de euros. E a facturação, apesar de ter subido meio milhão, ficou-se por uns magros 2,7 milhões de euros, dos quais "80% são exportações".

Vamos transformar a Camac numa multinacional. Através de uma parceria com um grande grupo mundial, iremos instalar uma fábrica noutro país, num investimento de 250 milhões de euros. jorge rodrigues
Presidente da Camac


Resultado: em incumprimento total do plano de reembolso acordado com os credores, em sede de um Processo Especial de Revitalização (PER) apresentado em 2015, a Camac acaba de apresentar um segundo PER. Desta vez, a dívida já atinge os 17,9 milhões de euros,  dos quais "cerca de seis milhões" são relativos a créditos reclamados por actuais e antigos trabalhadores, que a empresa não reconhece. A última palavra cabe ao juiz do processo, que ainda não se pronunciou.

Entretanto, a empresa conseguiu arregimentar uma série de credores num acordo que prevê que só começará a reembolsar no final do terceiro exercício consecutivo com  EBITDA (resultado antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) positivo. E que apenas 50% desse resultado é que será afectado à amortização do passivo. "Isto significa que, na prática, não vai pagar nada aos credores", reagiu fonte conhecedora do processo.

Qual é a posição do Estado sobre a Camac? Afinal, além de deter 37,5% do capital da empresa, tendo lá injectado quatro milhões de euros em 2010, é também o seu maior credor, tendo a haver mais de cinco milhões de euros. "A situação da Camac é muito difícil. Continuamos a acompanhar a situação com preocupação", afirmou, ao Negócios, fonte oficial do IAPMEI, que gere o Fundo para a Revitalização e Modernização do Tecido Empresarial (FRME), o sócio estatal dos empresários e irmãos Jorge e Fernando Rodrigues.

Como aconteceu no Verão passado, Jorge Rodrigues volta a garantir um futuro radioso para a empresa. "É uma nova Camac. Este ano já vamos ter lucros e facturar, ‘a brincar’, cinco milhões de euros, tendo conseguido dois contratos que vão gerar seis milhões anuais. E, de certeza absoluta, vamos conseguir reembolsar os credores", afiançou o empresário ao Negócios.

E subiu a fasquia, sem detalhar: "Vamos transformar a Camac numa multinacional. Através de uma parceria com um grande grupo mundial, iremos instalar uma fábrica noutro país, num investimento de 250 milhões de euros", contou. O IAPMEI irá saber "quando estiver tudo ‘preto  no branco’".

Parou aos 39 anos durante 16 meses

Fundada em 1967 por José Pinto de Sousa, antigo presidente do Conselho de Arbitragem da Federação de Futebol, a Camac só começou a laborar em Março de 1969. Passou nos anos 80 para o antigo banco BPA e, em 1989, foi parar às mãos do espanhol Ruiz Thiery, que a viria a entregar a um gestor judicial. José Serra, ligado ao sector têxtil, comprou a empresa em 1995 e, no ano seguinte, vendeu-a um grupo de empresários liderado pelo seu sobrinho Carlos Pissarra, advogado e ex-gestor da SAD do Boavista. Em Agosto de 2008, os 290 trabalhadores entraram em greve e a empresa ficou insolvente. A fábrica só voltou a laborar em Março de 2010.  

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