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Crise imobiliária sueca passa ao lado de Portugal
A crise imobiliária sueca fez soar alarmes dos analistas que recordam a crise naquele país nos anos 90, que arrastou consigo o sistema financeiro. Contudo, a realidade em Portugal é distinta.
A Suécia vive a maior crise imobiliária desde a década de 90, mas apesar de o ambiente estar a mudar na Europa, Portugal está ainda longe de ser afetado, segundo os analistas consultados pela Lusa.
O número de casas vendidas no mercado sueco tem vindo a cair -- entre maio e julho foram vendidas 13.800 moradias e 23.000 condomínios, uma queda de 12% face ao período homólogo, segundo dados da corretora Svensk Mäklarsamfundet, a par de uma queda nos preços dos ativos e crédito mais caro.
A crise imobiliária sueca fez soar alarmes dos analistas que recordam a crise naquele país nos anos 90, que arrastou consigo o sistema financeiro.
Contudo, a realidade em Portugal é distinta: "Estamos muito longe de um espelho. Não se prevê nos próximos anos essa quebra no imobiliário", considera Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), em declarações à Lusa.
O economista e professor do ISEG João Duque recorda, em declarações à Lusa, que a evolução dos preços e das transações no mercado europeu imobiliário mostra que há uma tendência negativa desde o quarto trimestre do ano passado.
João Duque explica que, apesar de se observar uma variação global ainda positiva no índice europeu dos preços das habitações, calculado pelo Eurostat, quando se comparam os níveis deste índice com os do correspondente do ano anterior há alguns mercados em que se verifica uma variação negativa já acentuada: a Suécia -6,9%, a Alemanha -6,8%, a Dinamarca -6,2% ou a Finlândia -5,1%.
"É claro que há mercados onde a corrida dos investidores é ainda elevada, talvez pela escassez de alternativas interessantes e atrativas pelas condições que as autoridades locais concedem ou porque os preços são ainda baixos e as expectativas de dinamismo económico são elevadas (Croácia, Eslováquia e Eslovénia, Hungria, Estónia, Bulgária ou até Portugal)", refere.
Por outro lado, as estatísticas mostram que o mercado de transações "está a arrefecer bruscamente por toda a Europa", considera, exemplificando que - de uma amostra de 14 países europeus que cederam dados ao Eurostat - 13 mercados registaram quedas no primeiro trimestre, que variam entre -50% na Finlândia e -8% na Bulgária, registando Portugal uma queda de -25% nas transações de casas de habitação.
"O ambiente está a mudar na Europa. As subidas de taxas de juro travam a procura, o que é esperado. A questão está em saber se a oferta está confortável com a propriedade mesmo que devoluta ou se esse estado ou a subida das taxas de juro impõe a venda apressada", sublinha.
João Duque assinala que "na Europa o investimento imobiliário parece estar em momento recessivo", já que, "para além do mercado habitacional estar em queda quer em preços, quer em transações, a atividade económica está em contração, o que não augura nada de bom quanto à procura de espaços comerciais ou escritórios", a que acresce "o processo de reajustamento que muitas empresas poderão fazer em face do teletrabalho cada vez mais estabelecido".
No entanto, o economista e professor da Nova SBE Pedro Brinca apesar de destacar, em declarações à Lusa, que "está a haver uma correção nos mercados internacionais", do qual é exemplo a Suécia, acredita que Portugal ainda é exceção.
"Não me choca nada que a correção de preços não seja a observada em países como a Nova Zelândia, Canadá, Portugal ou outros", disse.
Hugo Santos Ferreira salienta que os dados mais recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que "as casas [em Portugal] continuaram a valorizar, apesar de ter havido menos avaliações", o que representa desde logo "uma diferença com a Suécia".
"Continuamos a ter um mercado desequilibrado, em que existe muita procura e pouca oferta", frisa, defendendo ser "importante não deixar que haja uma desvalorização dos ativos".
O presidente da APPII sustenta que se os ativos começam a desvalorizar como aconteceu na Suécia -- o que não espera que aconteça -, o património das famílias diminui, o risco económico, financeiro e bancário aumenta e o investimento direto estrangeiro (IDE) também recua.
Apesar da crise imobiliária sueca, Pedro Brinca considera que o país tem ferramentas para responder ao desafio: "A Suécia tem, em termos de posição orçamental, capacidade de intervir no setor para alavancar qualquer problema no setor financeiro, além de ter moeda própria. Dá-lhes outro tipo de armas que Portugal não dispõe", disse.