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OPA à EDP: Os 5 riscos que têm de ser ultrapassados

A China Three Gorges (CTG) tem de enfrentar vários desafios nesta oferta de aquisição para conseguir chegar a bom porto. Muitos deles pressupõem convencer Estados e accionistas difíceis, de geografias que podem não olhar para o investimento chinês com bons olhos. Um dos mais difíceis é convencer Donald Trump. Mas há outros.

Bruno Simão
Negócios 19 de Maio de 2018 às 10:00


Brasil: Afastar OPA sobre EDP Brasil tem grau incerto
No anúncio preliminar, a China Three Gorges (CTG) declara que lançou a oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP no pressuposto de que não será obrigada a lançar uma OPA sobre a EDP Brasil, controlada em 51% pelo grupo EDP.

Assim, "é pressuposto da oferta (...) que a aquisição do controlo da [EDP pela CTG] (...) não acarrete a constituição (...) de obrigação (...) de lançar uma oferta pública obrigatória sobre as acções representativas do capital social da sociedade brasileira EDP - Energias do Brasil", segundo a CTG. Com este pressuposto, o Brasil tem uma palavra a dizer relevante neste negócio. Até porque também o supervisor da concorrência tem de se pronunciar, já que tanto a EDP como a CTG estão presentes neste mercado.

Ainda assim, a CTG garantiu que quer que a EDP assuma o controlo das operações da CTG na Europa, nas Américas - não especificando os países - e na África lusófona. A EDP e a CTG Brasil forjaram uma parceria em 2013, com a CTG a adquirir participações em várias centrais da EDP. Em 2015, a CTG Brasil comprou à EDP Renováveis uma participação de 49% em 11 centrais eólicas no país.
Eficácia: Fundos americanos decisivos na venda
A China Three Gorges colocou como cláusula de eficácia da oferta a obtenção de pelo menos 50% (mais um) dos direitos de voto da EDP. Se a OPA chegar ao mercado, ou seja, ao período de venda das acções, a China Three Gorges tem de conseguir comprar 26,73% do capital que não detém. 7,42% não devem ser difíceis, já que são detidos pelos chineses CNIC e pelos aliados BCP, detido também, na maior posição, pela chinesa Fosun.

Faltarão, para ter eficácia, 19,31%. É aqui que factores como o preço podem ser decisivos.

Os fundos de investimento - como o Capital Group, o BlackRock, o Norges Bank - até podem votar a favor da desblindagem, mas isso não significa que vendam as suas acções, se o preço não lhes agradar. Se quiser comprar essa fatia - o que bastaria para conseguir os 50% - a CTG terá de abrir os cordões à bolsa, ainda mais porque estes fundos poderão alinhar com ofertas concorrentes. Por isso, com uma fatia de 20%, podem ser decisivos no desfecho desta oferta.

Sem este grupo, a CTG poderá tentar convencer os outros accionistas que têm sido aliados estratégicos: Sonatrach, Qatar Authority e Mubadala, o que significaria que esta oferta passaria por mais uns quantos países: Argélia, Qatar e Abu Dhabi. No conjunto detêm 8,71%. A China pode acenar com investimentos nestes países. Mas teria de ir mais além, já que 8,71% é insuficiente - se juntar apenas 30,69% da CTG, CNIC e BCP. A família espanhola Masaveu, que detém 7,19%, pode também ter uma palavra decisiva. Este foi um dos accionistas que assinou, com a CTG, BCP, Sonatrach e Mubadala, a proposta para a renovação do mandato a Mexia na última assembleia-geral.
Estatutos: Para desblindar, CTG tem de ter ao lado accionistas
Uma das condições para o sucesso da oferta da China Three Gorges sobre a EDP é a desblindagem dos estatutos. Actualmente, mesmo que tenham mais capital, os accionistas só podem votar com 25%. Pôr fim a esse limite obriga a uma assembleia-geral.

E aqui começa a contagem de espingardas. A sua posição de 23,27% agregada à da chinesa CNIC (4,98%) atinge os 28,25%. Apesar de no "site" da EDP as duas posições estarem imputadas à República Popular da China, em assembleia não têm sido agrupadas. É essa a expectativa da CTG. Mas é certo que votam alinhados. Não será da CNIC, nem do BCP (intermediário financeiro desta oferta e em cujo capital a EDP também está) que os problemas surgirão. E da parte do oferente não se põe a hipótese de a CTG ser impedida de votar por algum motivo.

Assim, estes três accionistas alinhados têm 30,69% da eléctrica. Para conseguir dois terços do capital presente - necessários para mudar estatutos - a CTG tem, pois, de reunir mais alguns alinhados. E precisa de quantos? Tudo depende dos accionistas que compareçam na assembleia-geral. Na última reunião esteve pouco menos de 70% do capital, mas nas anteriores a média foi de 75% e, em 2016, esteve mesmo quase 78%. Considerando a presença de entre 70% e 78% do capital, a desblindagem teria de reunir à sua volta accionistas com 46% a 51,5%.

Na EDP há um conjunto de fundos de investimento, com cerca de 20%, que na desblindagem até podem ser aliados. É que a política dos fundos é a favor de não existir limites de voto nas empresas porque valoriza as acções. Estes 20% somados aos mais de 30% dos aliados permitem passar o risco da desblindagem.
Autorizações: Donald Trump tem palavra a dizer na operação
A oferta pública de aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG) sobre a EDP vai ter de ser escrutinada por governos e reguladores de vários países, assim como pela Comissão Europeia. Uma das autorizações vai ter de ser dada pelo Governo de Donald Trump. Afinal, a EDP Renováveis é o quarto maior produtor eólico nos Estados Unidos, país que também é o seu maior mercado.

Esta OPA acontece precisamente em plena guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, com ambos os países a aumentarem reciprocamente taxas alfandegárias. A aprovação nos Estados Unidos desta operação poderá vir a revelar-se espinhosa, pois terá de ser dada directamente pelo Governo de Trump. Esta autorização acontece através da Comissão de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos que é presidida pelo secretário de Estado do Tesouro, Steven Mnuchin. Esta agência governamental avalia as consequências de investimentos estrangeiros na segurança dos EUA. Além do Tesouro, esta agência é composta por responsáveis dos ministérios da Justiça, Administração Interna, Comércio, Defesa, Negócios Estrangeiros e Energia. Também nos EUA, a operação terá de ser aprovada pela Comissão Federal Reguladora de Energia dos EUA (FERC).

Em termos de autorizações governamentais, além de Portugal e dos Estados Unidos, a CTG também precisa de obter aprovações por parte do Governo francês, mais especificamente do ministro da Economia e das Finanças gaulês, Bruno Le Maire, "confirmando que a oferta não está sujeita a aprovação de acordo com os regulamentos de investimento estrangeiro francês".

16
Entidades
16 entidades, entre governos e reguladores, vão ter de se pronunciar sobre a OPA da CTG.

8
Países
Estas 16 entidades estão sediadas em 8 países, incluindo Portugal e EUA.
Preço: Prémio baixo pode obrigar chineses a melhorar oferta
A China Three Gorges oferece um prémio inferior a 5%, arriscando-se a não ter do seu lado os accionistas suficientes para atingir chegar aos 50% do capital da EDP. Mas pode sempre corrigir o preço.

Quando em 2011 ganhou a privatização da EDP, a China Three Gorges (CTG) apostou forte na contrapartida da oferta. Colocou em cima da mesa 2,7 mil milhões de euros, ou 3,45 euros por acção, para ficar com os últimos 21,35% que o Estado português tinha na eléctrica. Volvidos sete anos e alguns reforços de posição (com a CNIC detém mais de 28%), a CTG mostra-se mais comedida na oferta pública de aquisição (OPA) sobre a EDP.

Se em 2011 o preço era o factor chave para ganhar a privatização, agora os chineses assumem o risco de avançar com uma oferta que, do ponto de vista financeiro, dificilmente será considerada atractiva, dado que o prémio é reduzido.

A contrapartida é de 3,26 euros por acção, um prémio de 4,86% face à última cotação (3,11 euros) e de 10,8% face ao preço médio dos últimos seis meses (17,9% se for descontado o dividendo deste ano que a EDP já pagou). O preço da oferta é cerca de 5,5% inferior ao que os chineses pagaram na privatização de 2011 e também compara mal com o histórico da EDP na bolsa nacional nos últimos anos.

A EDP atingiu o máximo histórico na bolsa portuguesa na última sessão de 2007, quando chegou aos 5 euros (mais de 50% acima do preço da OPA). Mas não é necessário recuar tanto tempo para encontrar períodos alargados em que a EDP negociou acima da contrapartida da CTG (aconteceu durante grande parte de 2014 e 2015), e mesmo o máximo das últimas 52 semanas (3,389 euros a 15 de Setembro de 2017) é 4% superior à OPA.

Na análise ao valor que os bancos fazem das acções da EDP, a oferta da CTG parece mais atractiva. O preço-alvo médio é de 2,97 euros, tendo em conta as avaliações atribuídas por 26 banco de investimento nos últimos 12 meses. O preço da OPA fica 10% acima da média dos analistas, embora na avaliação que estes fazem à EDP não incorporem o prémio de controlo que a CTG terá caso a oferta tenha sucesso.

O risco que a CTG está a assumir com o valor da oferta pode fazer parte da estratégia, até porque o grande objectivo passa por chegar a 50% (mais um) dos direitos de voto por forma a garantir o controlo. Tal será suficiente caso consiga comprar pouco mais de 20% do capital na OPA e a CTG poderá acreditar que, para tal, não teria a necessidade de abrir os cordões já nesta primeira ofensiva. Até porque a CTG tem sempre a possibilidade de corrigir o preço em alta para convencer os accionistas e responder a eventuais ofertas concorrentes. Terá sido também a ameaça de "players" europeus na EDP que levou os chineses a avançar já com a OPA, numa jogada de antecipação e demonstração de força para marcar posição.

Entretanto, o conselho de administração da EDP pronunciou-se, considerando o preço oferecido de baixo. 

3,26€
Oferta da CTG
Contrapartida é 4,86% superior à última cotação da EDP e fica menos de 10% acima do preço-alvo médio.

3,45€
Privatização
Em 2011 a CTG pagou um prémio de 50% na privatização, valor que é 5,5% acima do da OPA.
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