O governo de Guterres fica marcado pela decisão que o ex-CEO da EDP, João Talone, classifica como "a maior renda alguma vez criada em Portugal": "Foi quando os PPA [CAE, em português] […] foram extensíveis às centrais da EDP", declarou o gestor perante a comissão de inquérito. Os primeiros CAE foram criados ainda no mandato do Executivo de Cavaco Silva, mas abrangiam apenas duas centrais, da Turbogás e Tejo Energia. Em 1996, o regime foi alargado a 27 centrais da EDP. Numa entrevista ao Expresso, citada no relatório preliminar, o ministro da Indústria de Cavaco Silva, Luís Mira Amaral, defende que a liberalização do sistema elétrico impunha "igualdade" de condições entre as centrais EDP com as centrais privadas.

Contudo, há no relatório outra justificação para o alargamento dos CAE. "O robustecimento financeiro da EDP e a oferta de garantias de rentabilidade futura que dinamizassem o processo da sua privatização", escreve o relator. E cita, novamente, João Talone: "Provavelmente, a extensão dos CAE às centrais da EDP teve a ver com tornar uma empresa que estava muito descapitalizada numa companhia com um balanço mais são para poder ser privatizada."