A Farfetch chegou a um acordo para travar os problemas financeiros. A Coupang, empresa de "e-commerce" sul-coreana, vai liderar um consórcio que pretende adquirir a totalidade dos ativos e o negócio da Farfetch, segundo um comunicado enviado esta segunda-feira ao regulador do mercado norte-americano (SEC, na sigla em inglês).

A "joint-venture" criada para o efeito, a Athena Topoco, irá fornecer um empréstimo de 500 milhões de dólares à empresa liderada por José Neves, com um juro anual de 12,5%. O grupo chegou também a acordo com os detentores de 80% da dívida Farfetch no valor de 600 milhões de dólares, indica o documento.

A ideia é que este consórcio passe a deter a totalidade da empresa, sendo que a Coupang irá ficar com 80,1% e a Greenoaks com os restantes 19,9%. Caso este negócio se verifique, os novos acionistas esperam adquirir a totalidade da Farfetch em troca dos "bridge loans" e os atuais credores irão recomprar 10% da dívida ao valor original. O prazo que está a ser estimado para aprovação por parte do regulador é o primeiro semestre de 2024.

Por outro lado, caso a Farfetch seja entretanto alvo de uma oferta de aquisição concorrente, o empréstimo de 500 milhões de dólares terá de ser devolvido até 30 de abril e a empresa terá de pagar uma comissão adicional de 20 milhões de dólares.

As ações da Coupang - que, tal como a Farfetch, negociam na bolsa de Nova de Iorque -, seguem a desvalorizar 2,24% para 16,62 dólares. Já no caso da empresa liderada por José Neves, a negociação das ações foi suspensa antes da abertura da bolsa, tendo afundado 35% no "pre-market" devido à notícia avançada pelo The Sunday Times de que haveria um acordo a ser feito.

No comunicado da Coupang consta também uma citação de José Neves, atual CEO e que, segundo fonte oficial, se irá manter, para já, no cargo. "O histórico comprovado da Coupang e a sua forte experiência em revolucionar o comércio irá permitir-nos oferecer um serviço excecional às nossas marcas e parceiros, bem como aos nossos milhões de clientes em todo o mundo", refere o fundador, CEO e presidente da Farfetch.

"Estamos entusiasmados com esta parceria com uma empresa tão respeitada da 'Fortune 200' que está empenhada em investir em inovações que transformem todos os aspetos da experiência do cliente com a Farfetch", pode ainda ler-se.

Na semana passada, a Farfetch tinha perdido mais de 47% do valor em bolsa, registando a terceira pior semana de sempre, oito anos depois de ter alcançado o estatuto de unicórnio - nome usado para descrever empresas que não estão cotadas e que têm uma avaliação superior a mil milhões de dólares. A empresa entrou em bolsa com uma cotação de 20 dólares por ação em setembro de 2018 e, mais de cinco anos, depois encerrou a sessão de sexta-feira nos 0,6428 dólares por ação.

A gota de água para a Farfetch foi o anúncio de adiamento da apresentação de resultados dos primeiros nove meses do ano, a 29 de novembro. A empresa "não anunciará seus resultados financeiros do terceiro trimestre de 2023 e não realizará a habitual conferência pelo telefone com analistas e investidores", explicava na altura.

Leia Também

José Neves já só detém 0,11% da Farfetch. Quem são os outros acionistas?

"A empresa espera fornecer uma atualização de mercado no devido tempo. Neste momento, não fornecerá quaisquer previsões ou orientações, e quaisquer previsões ou orientações anteriores não deverão ser consideradas confiáveis", advertia a tecnológica.

Esta quarta-feira foi anunciada a operação que garante liquidez imediata à Farfetch pondo fim à especulação que rondava a empresa.