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RTP prevê equilíbrio operacional em 2005; contrai empréstimo de 150 milhões
A RTP prevê atingir o equilíbrio operacional em 2005, tendo contraído um empréstimo de 150 milhões de euros para pagar indemnizações a trabalhadores, disse Almerindo Marques, presidente da empresa, em entrevista ao Negocios.pt.
Para este ano prevê a queda dos resultados líquidos?
Almerindo Marques:Não. Porque há uma significativa redução de custos e o aumento da indemnização compensatória, o que, desde logo, traria resultados finais positivos. Por outro lado, os custos extraordinários também vão diminuir. Finalmente, a própria reestruturação da dívida leva a que os custos financeiros diminuam.
Isto quer dizer que vai haver melhorias nos prejuízos em 2003?A.M.:Vai haver melhorias significativas no chamado resultado líquido.
Então qual é a expectativa?A.M.:Preferia não dizer, porque é um factor mais enganador para a opinião pública. Parte dessa melhoria é um acto político que não tem nada a ver com a gestão da empresa. Esta empresa não pode ser gerida em termos de «performance», com base em geração de «cash flows». Por hipótese, se as indemnizações compensatórias fossem de 170 milhões de euros, teríamos elevados lucros. A gestão e a avaliação desta empresa deve ser um resultado deste binómio: qualidade do serviço prestado/custos deste serviço.
Face a isto, a RTP pode começar a dar lucros a partir de quando?A.M.:Até 2005, o nosso objectivo é equilíbrio de exploração, nem ter lucros nem prejuízos.
Quanto espera facturar em publicidade este ano?A.M.:Toda a publicidade fica afecta ao serviço público. Andará à volta dos 40 milhões de euros, em 2003.
A redução no tempo publicitário (de 7,5 minutos por hora para 6 minutos) vai afectar as receitas?A.M.:Não, há outros factores. A razão pela qual extinguimos a RTC (área que geria a venda da publicidade) é porque tinha uns custos de funcionamento elevadíssimos. Com essa eliminação, a receita liquida será muito maior do que era no passado.
Quais as estimativas de receitas totais para este ano?A.M.:O total das receitas internas serão de 46 milhões de euros e há ainda que considerar o montante das indemnizações compensatórias no valor de 125 milhões de euros.
Isto implica uma melhoria face a 2002?A.M.:É uma melhoria de 13% porque há melhorias na publicidade e há seguramente melhorias nos outros proveitos comerciais.
2005 é a meta para cortes nos custos de 150 milhões de euros. E quanto prevê para o próximo ano?A.M.:O que eu anunciei é que há um compromisso global de reduzir 150 milhões de euros de custos até 2005. Vamos reduzir este ano mais 50 milhões e depois ficamos, dentro do compromisso que assumimos para 2004, com mais 50 milhões para cumprir objectivo final dos 150 milhões, mas isso não quer dizer não se possa melhorar. O patamar dos 150 milhões pode ser antecipado.
Além destas áreas, custos de grelha, pessoal, fornecimento de serviços onde se poderá cortar mais custos?A.M.:Há custos que são ainda para nós bastante difíceis de estimar e que podem ter significado. São os custos de instalações. Estamos hoje dispersos por vários edifícios menos adaptados às actividades e vamos centralizar tudo isto num edifício único, na Av. Gomes da Costa. Por isso, as despesas de segurança, vigilância, manutenção vão diminuir.
Quanto?A.M.:Não posso quantificar.
Para pagar as indemnizações aos trabalhadores teve de recorrer ao crédito bancário. Qual foi o montante e o que é que a RTP deu como garantia?A.M.:O total do empréstimo bancário, que está, obviamente, afectado a várias operações de reestruturação, foi de 150 milhões de euros. A garantia dada foi mínima, isto é, foi uma operação de crédito feita com a assunção de mero compromisso da parte da RTP e que iria proceder a um processo de reestruturação, cujas linhas básicas foram definidas perante a banca.
Foram avalizados pelo Estado?A.M.:Não. Trata-se de uma operação que teve como única garantia a assunção da própria administração da RTP no exercício da aplicação de projectos de reestruturação, cujas linhas básicas foram expressas.
As instituições bancárias são nacionais ou estrangeiras? Quais?A.M.:Estrangeiras e não revelo quais.
Quanto pressupõem abater por ano para pagar a dívida em 16 anos?A.M.:A dívida andará à volta dos 800 milhões de euros, mas não quer dizer que tenhamos que dar todos os anos uma verba igual.
Qual vai ser a participação da RTP, em termos financeiros, no futuro canal Sociedade?A.M.:Ainda não está quantificada. O que já temos é assegurados dos parceiros contributos que fazem prever significativa redução de custos em relação à actual manutenção do canal 2. O canal 2 tem hoje um custo à volta de 7 a 8 milhões de euros. A solução dos parceiros com quem estamos a trabalhar vai, seguramente, proporcionar vantagens financeiras. O financiamento do canal será feita com base nas parcerias e contributos financeiros dos parceiros, que não são iguais para todos. Mas todos terão participação financeira.
O valor de venda do canal Sport TV andará à volta dos 42 a 45 milhões de euros?A.M.:Prefiro não falar de números porque acho que enquanto estamos em negociações os nossos parceiros, Portugal Telecom e Olivedesportos, não devem saber de números através de meios de comunicação. Achamos que não está correcta a avaliação de 60 milhões de euros, porque parte de pressupostos que nós não validámos.
Já tem compradores para algum dos activos imobiliários?A.M.:Há compradores a aguardar que tenhamos as condições para avançar. O edifício da 5 de Outubro não será o primeiro, mas também não será dos últimos a vender. Mas começamos pelo edifício da Gago Coutinho. Esta venda vai gerar receitas de perto de 100 milhões de euros.
Depois da venda destes activos, têm mais para vender?A.M.:Não temos. Vamos vender todos os activos não afectos à exploração. Não será tudo vendido este ano porque a conjuntura não o recomenda.
Esta reestruturação visa uma estrutura semelhante à dos canais privados?A.M.:O número de 1.450 colaboradores pressupõe grandes reestruturações. É um valor tendencialmente ajustado, em comparação com o «benchmark». Fizemos comparações com empresas internacionais similares. Não é do meu gosto fazer comparações com empresas portuguesas, porque há um conjunto de actividades que as outras empresas portuguesas deste sector não têm. É que nenhuma empresa portuguesa de televisão (a SIC e a TVI) tem seis canais.
Mas estas têm canais no cabo.A.M.:Os recursos necessários para fazer funcionar uma televisão por cabo e uma televisão generalista são completamente diferentes. Aumentar as receitas não é a motivação essencial para também estarmos no cabo. O nosso objectivo passa por ter um número de canais no cabo para os poder coordenar com os generalistas. É o caso do Memória e NTV, sem acréscimo de custos.
Por Bárbara Leite e Paula Brito