Notícia
Projecto Bicla - De bicicleta pela Caparica
Ainda não tem um ano mas a empresa BICLA quer dar vida às ciclovias da Caparica neste Verão. Os promotores da ideia acham que a crise até vai ajudar: afinal, o que sai mais barato pedalar ou acelerar?
Ainda não tem um ano mas a empresa BICLA quer dar vida às ciclovias da Caparica neste Verão. Os promotores da ideia acham que a crise até vai ajudar: afinal, o que sai mais barato pedalar ou acelerar?
"Aqui vou eu para a Costa, aqui vou eu cheio de pica, vou pedalar, vou curtir, vou para o sol da Caparica". Não é bem assim que os Despe & Siga cantam mas seria um bom hino para a Bicla, projecto nascido de dois empreendedores.
Nas viagens que fizeram a Barcelona e a Paris, na observação 'in loco' de projectos como os de Montreal e de Londres, perceberam como estas cidades faziam a promoção do uso da bicicleta em detrimento do automóvel e pensaram: porque não tentar o mesmo em Portugal? Decidiram investir na ideia e, quanto às bicicletas, foi claro desde o início que seriam nacionais. "Para nosso agrado, descobrimos que as 22 mil velib parisienses também eram portuguesas, o que nos deu a garantia de que fizemos a escolha certa."
O projecto Bicla é, dizem, uma alternativa criativa ao mercado com que trabalham diariamente, o do imobiliário, que tem vindo sempre a abrandar. Entre 2005 e 2009, foram sócios-gerentes de empresas na sua área de formação e, hoje, como consultores, conhecem bem a crise no mercado imobiliário e o abrandamento da actividade ao nível de projecto.
Sem concorrerem a qualquer patrocínio, os empreendedores esperam que a publicidade ostentada nas próprias bicicletas pague o investimento a curto prazo. "Se conseguirmos fechar o negócio da venda do espaço publicitário, em princípio para o ano já teremos resultados positivos", comenta Margarida Ferreira.
Mas, sendo a Bicla uma empresa verde, com preocupações ecológicas e uma alternativa ao uso do automóvel, a médio prazo é intenção dos promotores propô-la a programas específicos nesta área.
Tendo iniciado a sua operação de aluguer de "urban bikes" na Costa de Caparica, pela sua condição geográfica, infra-estruturas recentemente criadas e pela afluência de pessoas predispostas à actividade ao ar livre, os promotores querem ir mais longe. Alargar a rede a outras localidades do concelho de Almada será o próximo passo.
A estratégia passa por associar o simples acto de andar de bicicleta a desígnios como a melhoria da qualidade do ar ou da qualidade de vida. Os dois primeiros pontos Bicla situam-se junto ao apoio da praia do Dragão Vermelho e ao lado do Hotel Costa de Caparica, um dos parceiros locais. A partir daqui poderá ser feito o percurso Bicla-Tejo, que liga as praias urbanas da Costa de Caparica ao cais fluvial da Trafaria (mais em www.bicla.pt).
Sem simplex "Concretizar boas ideias num mercado e numa conjuntura adversas, com políticas restritivas e numa área de intervenção totalmente nova, é um desafio diário", contam os empreendedores. Mais do que conseguir o financiamento bancário, pôr as "biclas" a rodar foi, sobretudo, difícil pelo calvário de burocracia que os promotores tiveram de percorrer. Desde a criação da marca, aparentemente um processo veloz, à obtenção das licenças para a actividade foi, contam os promotores, "um caminho duro e cheio de complicações, sem simplex". Muito mais simplificado promete ser o projecto Bicla que, ainda embrionário, já dá trabalho a seis pessoas envolvidas nas questões ambientais e determinadas a que o uso da bicicleta seja disseminado e, sobretudo, acessível a qualquer pessoa. Daí que os valores de aluguer cobrados sejam reduzidos e, num futuro próximo, prometem, poderão ser gratuitos em certos períodos do ano. |
Do estirador para a ciclovia
O que leva um "designer" e uma arquitecta a apostar num negócio tão diferente das suas áreas de formação e, aparentemente, com tão pouco mercado (ver caixa)? Provavelmente, a convicção de que os veículos verdes são o futuro. Até finais de 2009, quando o Projecto Bicla ganhou vida, Carlos Canhita, 40 anos, foi sócio de uma empresa de "design". Começou por trabalhar numa editora de livros escolares, mas o caminho profissional do "designer" levou-o, depois, a colaborar, durante cinco anos, num ateliê de arquitectura como responsável pelo departamento de "design". Hoje, trabalha, diariamente, em projectos na área, tarefa que acumula com o cargo "de tudo em um" que tem na Bicla. O cargo é partilhado com Margarida Ferreira, de 26 anos, que mantém o seu projecto empresarial na área da arquitectura de interiores com que iniciou a sua vida profissional e que segue até hoje.
Dar pedalada a Portugal
O primeiro desafio do Projecto Bicla é o de aliciar para o prazer (e utilidade) de pedalar em vez de acelerar. Estudos indicam que Portugal é dos países da União Europeia que menos utiliza a bicicleta como principal meio de transporte, com apenas um por cento da população a pedalar no dia-a-dia. O automóvel continua a ser, de forma destacada, o meio de transporte preferido dos portugueses. A marca Bicla nasceu da ideia de contrariar este pressuposto. O concelho de Almada, com movimentos pendulares dos seus habitantes, trabalhadores na grande Lisboa, "sofre agressões ambientais diárias, criadas pelos congestionamentos provocados por essas deslocações", salientam os promotores. Noutras cidades europeias, também sujeitas a este tipo de agressões e perda de qualidade de vida dos seus habitantes, foram tomadas medidas para contrariar essa tendência, promovendo o uso da bicicleta. Almada está a trabalhar neste sentido e a Bicla está a colaborar, em conjunto com algumas entidades locais, no sentido de "banalizar" o uso da bicicleta.