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"Patrões-clientes" pressionam eficiência no Estado digital

Do nível autárquico à administração central, os serviços públicos tentam responder aos utilizadores que pedem mais rapidez e transparência para poderem devolver satisfação.

Paulo Duarte
16 de Novembro de 2016 às 21:20
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Prescrição electrónica, receitas sem papel, desmaterialização dos exames ou o portal do Serviço Nacional de Saúde em que o cidadão pode marcar consultas, renovar a medicação, consultar o historial clínico ou pedir isenção de taxas moderadoras. As ferramentas criadas pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) ilustram a transformação digital em curso aos vários níveis do Estado, em que os clientes são também os patrões e reclamam ganhos de eficiência e a desmaterialização dos processos.

No seminário sobre a gestão eficiente de energia no sector público, em Aveiro, o presidente da EDP Comercial advertiu que esta tendência tem impacto não só nos processos digitais, como no próprio modelo de negócios, na forma como os utilizadores se relacionam e na análise das montanhas de informação que são geradas. Daí a exigência também de reorganização nas empresas e no Estado. "Não basta acrescentar a digitalização, obriga a repensar a organização", referiu Miguel Stilwell, dando o exemplo de uma autarquia que aderiu à factura electrónica, mas tinha um funcionário a imprimi-la e arquivá-la no modo tradicional.

Após aproveitar os fundos dos últimos quadros comunitários para a modernização administrativa, o presidente da Câmara de Aveiro atestou que "a introdução do digital transformou os municípios de forma positiva e relevante", através de ganhos de eficiência na gestão e na relação com os munícipes. José Ribau Esteves salientou também a maior transparência para com os fiscalizadores com o progressivo desaparecimento do "inimigo" burocrático e em formato de papel.

Quer no público quer no privado, verificamos que a maior parte dos consumidores digitais estão mais satisfeitos e cria-se uma relação mais próxima com a empresa. miguel stilwell
Presidente da EDP Comercial

Na área da eficiência energética, o vice-presidente da Associação Nacional de Municípios recordou os investimentos feitos na iluminação pública. Quando estavam pelo segundo ano a gerar "fortes ganhos financeiros" para as autarquias, "foram uns rapazes para o Ministério das Finanças" e passaram o regime de IVA de 6% para 23%, criticou o autarca social-democrata, classificando-o como "um ataque fiscal do Estado central à eficiência energética".

Porta-voz de uma empresa pública que "não dá prejuízo" e gere todas as compras na Saúde – a meta é comprar dois mil milhões de euros em 2017 –, Artur Mimoso adiantou que a SPMS traçou como objectivo, a três anos, que passe a haver "um único concurso de energia eléctrica para todos os hospitais". Com uma equipa de 400 pessoas com idade abaixo da média na administração pública, muitas delas crescidas e formadas já na era digital, um dos projectos recentes é "uma espécie de Uber" para a gestão partilhada de frotas no SNS, seja no transporte de mercadorias ou de pessoas, "maximizando os recursos" disponíveis.

"Quer no público quer no privado, verificamos que a maior parte dos consumidores digitais estão mais satisfeitos e cria-se uma relação mais próxima com a empresa, em vez de ela ser quase transaccional", concluiu Miguel Stilwell, valorizando igualmente a entrega de um serviço "com menos erros e menos falhas". O gestor dramatizou este novo cenário com o caso da EDP, que realiza anualmente 140 milhões de operações, desde as cobranças aos atendimentos: "basta falhar 1% e tem 1,4 milhões de clientes potencialmente insatisfeitos".


energia

Dicas para Estado poupar na factura

O administrador da EDP Comercial, António Coutinho, deixou algumas sugestões aos clientes públicos sobre como podem minimizar os riscos e baixar a factura energética.

Quanto e quando
O mercado faz com que o preço seja o mais baixo possível, aproximando-se dos custos, mas quando o Estado não sabe quanto é que as instalações vão consumir e quando vão entrar em consumo, arrisca pagar mais. "Se comprar energia em Janeiro e este activo só entrar em funcionamento em Junho, vou ter de revender no mercado em prejuízo", advertiu.

Formalização rápida
O Código dos Contratos Públicos prevê 66 dias para saber o vencedor. No caso da energia, pode mudar rapidamente o preço e "o contrato não tem margens, para gerir esse risco". Devem formalizar as propostas no dia seguinte ao prazo legal.

Acordo ou concurso?
A experiência da EDP sugere que quando as entidades têm muitos pontos de consumo no mercado regulado, o acordo-quadro é a forma mais célere e expedita. Com os activos já no mercado livre, "pode ser interessante" passarem para concursos, pois permite a costumização dos contratos e menor cobrança de "fees", que é sempre o cliente que tem de pagar.

Gerir novas ligações
Quando se faz uma nova ligação para uma necessidade muito concreta, isso envolve três entidades: a rede de distribuição, quem faz a certificação da instalação e o comercializador – porque é preciso ter um contrato de energia para que a ligação possa estar activa. "É importante garantir que estas três entidades estão bem ligadas. E podem ser geridas de forma paralela para optimizar tempos, não precisa de ser sequencial", diz.

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