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Oliveira e Costa, o homem que gostava de comer sopa ao pequeno-almoço

O fundador do Banco Português de Negócios (BPN) morreu esta terça-feira aos 84 anos. José Oliveira e Costa criou em 1993 o banco que viria a ser nacionalizado em novembro de 2008.

Pedro Catarino/Correio da Manhã
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José de Oliveira e Costa, fundador do Banco Português de Negócios (BPN), morreu esta terça-feira, 10 de março. Tinha 84 anos. Em 2018 havia sido condenado a 15 anos de prisão pela falência do banco, um processo que começou quando a 11 de novembro de 2008 o então ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, anunciou a nacionalização daquela instituiçao financeira justificada por estar "numa situação muito perto de iminente rutura de pagamentos.

O texto que pode ler de seguida, uma curta biografia Oliveira e Costa, foi publicado nessa data e tendo como pano de fundo a intervenção do Estado no BPN. Optou-se por manter a versão original, tanto no título como, no artigo.

Ao pequeno-almoço come sopa e partilha a paixão pela arte com a mulher. Na sua colecção pessoal destaca-se Antoni Tàpies, um pintor surrealista catalão, cujos quadros não valem menos de 160 mil euros. Mas onde gosta mesmo de estar é no campo, na quinta que possui em Aveiro.

Estes traços de carácter pertencem a José de Oliveira e Costa, presidente do Banco Português de Negócios (BPN) até Fevereiro deste ano, sobre o qual recaem as maiores suspeitas de gestão danosa do banco. Para já, o ex-líder do banco mantém-se incontactável e deixou de atender solicitamente o telemóvel, ao contrário do que fazia noutros tempos. "Nem os amigos sabem onde está", disse um ex-quadro do banco ao Negócios.

A nacionalização do BPN, anunciada domingo pelo Governo, é o epílogo de um romance policial, repleto de intriga e cheio de meias verdades. A forma como foi sendo construída a "holding" Sociedade Lusa de Negócios (SLN), criada em 1999, é o reflexo disso mesmo.

Antigos colaboradores explicam a estratégia, ou a ausência dela. A compra de participadas pela SLN era feita ao sabor dos interesses dos accionistas. Um ex-administrador era de Aveiro, tinha negócios relacionados com o imobiliário e, por isso, comprou-se uma cimenteira. O mesmo raciocínio foi seguido para a compra de um negócio de castanhas, ou da Murganheira e das Caves Raposeira. "Era tudo feito ao sabor dos accionistas", afirma um desses interlocutores. "A partir do terceiro ano de compra do banco [ou seja, em 2001] é que começaram a aparecer operações menos claras", acrescenta.

Não se conclua, no entanto, que Oliveira e Costa fosse um simples peão neste jogo de interesses. "Trata-se de um homem muito arguto e muito especial", sublinha um outro ex-colaborador, segundo o qual "as trocas e baldrocas" começaram a ser mais visíveis quando a SLN comprou a Plêiade, em 2002. Tratava-se de uma empresa de José Roquette e onde Dias Loureiro - administrador da SLN entre 2001 e 2005 - tinha uma quota de 15%. O grande activo desta empresa era o facto de ter ganho a construção da rede de saneamento básico de Rabat, Marrocos, empreitada vendida, em 2002, à Général des Eaux.

Oliveira e Costa, nascido em 1935 em Esgueira, Aveiro, tem um percurso profissional onde se destacam as passagens pelo Banco de Portugal e pelo primeiro Governo de Cavaco Silva, onde ocupou o lugar de secretário do Estado dos Assuntos Fiscais, tendo como seu ministro das Finanças o actual líder do BPN, Miguel Cadilhe.

É a partir daqui que estabelece uma teia de interesses e amizades que vai crescendo ao longo dos anos. Por exemplo, quando criou o BPN em Madrid o promotor do banco na capital espanhola foi Alejandro Agag, genro do ex-primeiro-ministro, Jose Maria Aznar. E terá sido através de um empréstimo tornado incobrável que Oliveira e Costa obteve, como contrapartida, uma colecção de 82 quadros de Miró, avaliada em 150 milhões de euros pela leiloeira Christie's.

Agora, Oliveira e Costa espera, algures, por um veredicto. Talvez até esteja no campo, ele que gosta muito de natureza e se sente bem a podar videiras.
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