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O futuro da Zon já começou

Isabel dos Santos reforçou na Zon. Passou a Caixa Geral de Depósitos e o universo Espírito Santo. Depois da desblindagem e da clarificação que não é concorrente, a empresária angolana pode subir a parada. A pensar na fusão com a Sonaecom?

09 de Maio de 2012 às 10:41
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Ainda há poucos anos a Zon não existia. Fazia parte do universo da Portugal Telecom. Mas uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) do "David" Sonaecom contra a gigante PT alterava todo o panorama das telecomunicações em Portugal. A OPA caiu. A Sonaecom não comprou a PT, mas terá conseguido um dos principais propósitos da operação. A PT, no âmbito da sua estratégia de defesa contra a Sonaecom, prometeu aos seus accionistas separar a então designada PT Multimédia, que era a operadora de televisão por cabo. Era através desta sociedade que a PT oferecia o serviço de televisão. A PT Comunicações, então liderada por Rodrigo Costa, estava a dar os primeiros passos na sua estratégia de televisão, que daria origem ao Meo.

A OPA aconteceu há seis anos. Em 2007 caia por terra e no final desse ano era cortado o cordão umbilical que unia a PT Multimédia à PT. Os accionistas da PT receberam títulos da PT Multimédia que se tornou uma empresa autónoma. E o mercado, tal como o mundo, mudou.

E o que aconteceu? A PT Multimédia ficou a ser liderada por Rodrigo Costa, que até então estava na PT Comunicações. Zeinal Bava deixou a PT Multimédia. A estrutura accionista da PTM, em 2007, replicava a da PT, mas aos poucos foi mudando.

Até que ficou definido. Caixa Geral de Depósitos, BPI, Cofina e Controlinveste, de Joaquim Oliveira, tomaram conta da operadora. Havia um núcleo controlador, mas não uma voz de comando. Rodrigo Costa continuou à frente da operadora.

Separada da PT em 2007, mudou de nome em 2008. Tornou-se Zon. Distribuiu um dividendo extraordinário e anunciou um plano estratégico ambicioso, no âmbito do qual pretendia reforçar a sua presença em particular nos mercados onde era menos forte: Internet de banda larga, voz fixa. Concretizou a compra da concorrente TV Tel. E lançou uma operação móvel virtual, em parceria com a Vodafone. Na televisão manteve a liderança, ainda que a PT tenha também ela decidido uma nova meta para a sua operação: liderar no mercado televisivo, o que significava destronar a Zon. Até agora, o objectivo não foi conseguido, apesar de Zeinal Bava falar já em co-liderança.

Desde que a OPA terminou, ficou sempre a ideia de que mais cedo ou mais tarde a fusão entre Zon e Sonaecom era inevitável. Passados seis anos da OPA ainda nada se concretizou. Mas as mexidas accionistas foram sendo sentidas. Em Dezembro de 2009, Isabel dos Santos compra de uma assentada 10% da Zon. Adquire uma posição à Caixa e as acções próprias da Zon. Tornou-se a segunda maior accionista. O banco público manteve-se o maior accionista. Até que chegou a troika e ficou determinado que a Caixa venderia as participações não estratégicas, Zon incluída. E a posição foi colocada à venda. Há outros accionistas vendedores. A Telefónica era assumidamente uma delas. E vendeu. Mas também o Espírito Santo Irmãos e a própria Ongoing, apesar de oficialmente Rafael Mora ter garantido recentemente ao Negócios não estar vendedor nem da PT nem da Zon. Também Joe Berardo, que tem apostado numa fusão da Sonaecom, aguarda o momento certo para vender. Se considerarmos todas estas posições, poderão estar disponíveis para sair cerca de 32,5% do capital da Zon (integrando, universo Espírito Santos, Caixa, Ongoing, Joe Berardo).

Muitos entraram com a cotação lá em cima. Entretanto, a Cofina, que fazia parte do núcleo de accionistas principal, vendeu. Saiu da operadora e do seu conselho de administração. O núcleo principal ficou, então, composto pela Caixa, Isabel dos Santos, BPI e Joaquim Oliveira.

Isabel dos Santos é, agora, sem dúvida a “dona” da Zon, ao ter adquirido 4,9%, ficando com 14,9%. É, agora, a maior accionista. Mas tem de se entender com Joaquim Oliveira. O patrão da Controlinveste tem 50% da Sport TV, onde a Zon detém os restantes 50%. É um activo importante, até para a operação angolana. Isabel dos Santos sabe disso.

Era uma questão de tempo. Tudo foi sendo feito para que Isabel dos Santos reforçasse. Primeiro desblindaram-se os estatutos. Deixou de haver limites aos direitos de voto. No entanto, mantiveram-se as limitações para a participação de operadores concorrentes aos 10%. Seria Isabel dos Santos concorrente? É que a empresária angolana detém uma operação em Angola, a Unitel, onde tem parceria com a PT. A dúvida mantinha-se, pelo que os accionistas resolveram pôr fim às dúvidas. A operação concorrente é apenas a que integra o mercado português. É, por exemplo, a Sonaecom. Pelo que, qualquer eventual fusão com esta operadora tem de ir à assembleia-geral. Também não se espera que a Sonaecom volte a lançar uma OPA hostil. Se o fizer, quando o fizer, já terá o acordo de Isabel dos Santos.

A fusão é aguardada há alguns anos. Isabel dos Santos parece preparar o terreno para o fazer, sem poder grande posição na empresa resultante. A Zon vale, hoje, em bolsa 819 milhões de euros. A Sonaecom tem uma capitalização de 447,19 milhões de euros. Enquanto Isabel dos Santos tem 14,9% da Zon, a Sonae detém 53,17% da Sonaecom. O que significa que numa eventual fusão, a Sonae ainda ficaria a principal accionista da empresa resultante. Apesar dos accionistas da Sonaecom ficarem com uma posição minoritária na sociedade que resultasse da junção.

No mercado, no entanto, não há dúvida, que a fusão resultaria num operador com músculo para defrontar a PT. E o caminho parece cada vez mais aberto. Isabel dos Santos é parceira da Sonae no projecto de instalação de hipermercados deste grupo português em Angola. Os analistas também têm apostado numa fusão que parece a história do Pedro e do Lobo de tantas vezes é falada e referida nas notas de “research”. Hoje é inevitável voltar-se ao tema.

O que acontecerá agora? Ainda com processos de venda de posições a decorrer, Isabel dos Santos pode reforçar, ainda mais, a sua posição na Zon, antes de se avançar na fusão. Do lado da Sonaecom, o trabalho de casa está feito. Do lado da Zon, ainda faltam algumas definições accionistas.

No final, com ou sem fusão, o mercado mudará, novamente. Com a Zon e a Sonaecom a voltarem a estar no centro das mudanças.

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