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Líder turco dos portos nacionais: “A lei das greves é muito permissiva em Portugal”

O grupo turco Yildirim, dono de sete terminais e líder da atividade portuária portuguesa, critica a demora do Governo em dar luz verde aos investimentos previstos para Lisboa e Leixões, torce o nariz ao terminal do Barreiro e garante que “os estivadores têm bons salários”.

Bruno Simão
27 de Maio de 2019 às 12:21
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O 12.º maior operador portuário do mundo e segundo maior europeu, o grupo turco Yildirim, controla em Portugal quatro terminais de contentores, dois de carga geral e um terminal de granéis alimentares, num total de quatro quilómetros de cais concessionados no nosso país, nos portos de Lisboa, Leixões, Setúbal, Aveiro e Figueira da Foz.

 

Foi há mais de três anos que o grupo turco se tornou líder da atividade portuária portuguesa, após ter comprado as concessões do grupo Tertir à Mota-Engil (63,1%) e ao Novo Banco (36,9%) por cerca de 300 milhões de euros.

 

Entretanto, o investidor turco mostra-se desagradado com as sucessivas greves que têm afetado sobretudo a atividade no porto de Lisboa, que perdeu uma série de linhas.

 

"Os carregadores perderam muito dinheiro quando ficaram aqui bloqueados, perderam a confiança", reconheceu Christian Blauert, presidente da Yilport Iberia (que integra o grupo Yildirim), esta segunda-feira, 27 de maio, em entrevista ao diário Público.

 

"Precisam de ver as coisas calmas durante dois anos seguidos para começar a acreditar", apontou.

 

"Em 2016, estávamos a conseguir chegar a acordos com algumas companhias e linhas, tínhamos convencido algumas de que Lisboa merecia esta segunda oportunidade. O ano de 2017 estava a correr bem e depois o ano de 2018 voltou a ser um desastre. Greves durante mais de meio ano. Os nossos resultados financeiros foram um desastre, mas o pior foi mesmo a perceção que demos aos nossos clientes", sublinhou o mesmo gestor.

 

Considerando que "as greves trazem grandes prejuízos às empresas e às pessoas", o presidente da Yilport Iberia afirmou que "a verdade é que a lei das greves é muito permissiva em Portugal".

 

Sobre as condições salariais do grosso dos trabalhadores portuários, Christian Blauert defendeu que "é do senso comum que os estivadores têm bons salários".

 

O problema, disse, está na reação dos estivadores e seus representantes sindicais.

 

"Nós fizemos um acordo e dois dias depois já havia uma greve. Não posso perceber isto, se já estava assinado! Posso assegurar-lhe que é o pacote salarial mais confortável que existe em todo o nosso grupo. Estava no meu escritório e quando me falaram da greve eu fiquei perplexo! Mas então nós não assinámos o acordo? Explicaram-me que eles não estavam a fazer greve contra nós, mas contra o Governo. Como é que pode ser?", reagiu o gestor, ainda em entrevista ao Público.

 

Questionado sobre a reivindicação do sindicato (SEAL) de replicar em Leixões o acordo que tem em Lisboa, o presidente do grupo líder da atividade portuária em Portugal respondeu que quer "uma solução justa", deixando já balizada a sua posição sobre esta matéria: "Não sei se é justo que um operador de grua ganhe mais do que um engenheiro. O que vão dizer? Que já não é preciso estudar, ir para a universidade?"

 

Com projetos de investimento de 240 milhões de euros na expansão dos seus terminais nos portos de Lisboa e Leixões, Christian Blauert criticou a lentidão das autoridades nacionais no processo de decisão.

 

"As decisões sobre o investimento deveriam ser tomadas de forma muito mais rápida, porque demora-se muito tempo para decidir", lamentou.

 

No caso da Liscont, "só precisamos que os advogados redijam esse acordo. E assiná-lo", afirmou. Quanto a Leixões, também só falta as "assinaturas num novo contrato de concessão".

 

Já relativamente à anunciada construção do terminal do Barreiro, o presidente da Yilport Iberia, ressalvando que, caso este concurso avance, terá a "obrigação de olhar para ele", criticou esta solução: "Confesso que é um projeto que me deixa um pouco cético, porque é uma localização estranha", afirmou.

 

"Parece-me estranho que quando ainda há tanta capacidade de desenvolvimento nesta margem, [se vá] avançar com investimento noutro lado", explicou.

 

E desvalorizou o projeto global chinês Rota da Seda: "Não achamos a Rota da Seda fundamental, não é o nosso ‘core business’. Para nós o importante é a carga local, o ‘hinterland’", defendeu o gestor da Yilport, que disse contar com a operação portuguesa para se tornar num dos dez maiores operadores mundiais portuários até 2025.

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