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Harvard acusada de travar investigação sobre Facebook após doação de Zuckerberg

Uma investigadora sobre desinformação, que deixou a Universidade de Harvard em agosto, acusou a instituição de amordaçar o seu discurso e, depois, de desmantelar a sua equipa, após começar a analisar dados sobre a rede social Facebook.

Reuters
05 de Dezembro de 2023 às 08:03
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Estas ações que impactaram o trabalho de Joan Donovan coincidiram com uma doação de 500 milhões de dólares a Harvard por uma fundação dirigida pelo fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e a sua esposa, Priscilla Chan, noticiou a agência Associated Press (AP).

Numa denúncia divulgada esta segunda-feira, Donovan pede investigações por parte do conselho geral de Harvard, do gabinete do procurador-geral de Massachusetts e do Departamento de Educação dos EUA, sobre "influência inapropriada".

O diretor da Whisteblower Aid, uma organização sem fins lucrativos que apoia Donovan, classificou o alegado comportamento da Harvard Kennedy School e do seu reitor como uma "traição chocante" da integridade académica desta escola de elite.

Em resposta, a Kennedy School rejeitou as alegações de tratamento injusto e interferência dos doadores.

"A narrativa está cheia de imprecisões e insinuações infundadas, particularmente a sugestão de que a Harvard Kennedy School permitiu que o Facebook ditasse a sua abordagem à investigação", frisou o porta-voz da instituição, James F. Smith, em comunicado.

A declaração da Whistleblower Aid cita Donovan, que acusa Dean Douglas Elmendorf de submeter a sua equipa à "morte por mil cortes" depois de a investigadora ter começado a fazer planos robustos, em outubro de 2021, para investigar os chamados Arquivos do Facebook, que foram reunidos pela ex-funcionária Frances Haugen para destacar danos públicos.

Apesar da posição pública da empresa de que Haugen estava a exagerar, Donovan e outros investigadores independentes consideraram os documentos como uma confirmação de que o Facebook tinha radicalizado as pessoas, os seus algoritmos fomentavam a animosidade racial, encorajavam a limpeza étnica e prejudicavam a saúde mental dos adolescentes.

"Eu acreditava, honestamente, que esses eram os documentos mais importantes da história da Internet", realçou esta segunda-feira Donovan, numa entrevista.

Donovan contou que ficou impedida de contratar e de começar projetos, ao ver interrompida a sua arrecadação de fundos, e foi impedida de realizar conferências com mais de 30 participantes ou lançar um podcast.

A investigadora destacou que, depois, o seu contrato foi encurtado e que recusou uma indemnização porque sentiu que seria cúmplice "se recebesse uma recompensa pelo silêncio".

Harvard contratou Donovan, agora professora assistente na Universidade de Boston, em 2018, onde liderou o Projeto de Investigação em Tecnologia e Mudança Social. Em maio de 2020, foi promovida a diretora de investigação do Shorenstein Center da Kennedy School, onde lecionou.

No seu comunicado, a Kennedy School negou que Donovan tenha sido demitida e aponta que esta era membro da equipa - não do corpo docente - e todos os projetos de investigação na escola devem ser liderados por membros do corpo docente.

A escola "tentou durante algum tempo identificar outro docente que tivesse tempo e interesse para liderar o projeto. Depois de esse esforço não dar certo, o projeto teve mais de um ano para ser encerrado" e a maioria dos membros da equipa de investigação permaneceu em funções, frisou.

Donovan garantiu, por sua vez, que não tinha conhecimento de qualquer procura por alguém para assumir a chefia do projeto de investigação que fundou e para o qual disse ter arrecadado 12 milhões de dólares.

A Kennedy School apontou ainda que a doação de Zuckerberg foi para a Universidade de Harvard, para uma iniciativa sobre inteligência artificial não relacionada.

Quer Chan, quer Zuckerberg frequentaram Harvard, onde o Facebook foi lançado pela primeira vez.
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