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Fazer jeans é mau para o planeta. Mas uma fábrica pode mudar isso

A Saitex investiu dois milhões de dólares só no sistema de água para provar não só que é possível fazer jeans azuis de forma sustentável, mas que também dá para lucrar com isso.

19 de Janeiro de 2019 às 11:30
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Um rio de lodo tóxico azul passa por uma fábrica a cerca de 30 quilómetros da cidade de Ho Chi Minh, uma das 165 instalações dentro de um enorme parque industrial que fabrica de tudo, desde sapatos a alimentos e produtos eletrónicos. A infusão une-se a uma mistura escura antes de passar por tanques e filtros gigantes.

 

Perto dali, Sanjeev Bahl coloca um copo vazio sob uma torneira, da qual escorre o líquido agora turvo, incolor. Leva o copo aos lábios e bebe. "É ótimo", diz. "É mais limpo do que os padrões da Organização Mundial da Saúde para a água."

 

O CEO da Saitex International, de 55 anos, estava lá numa de suas visitas regulares, depois de uma longa viagem a grande distância de sua casa, em Nova Iorque. De camisa de ganga azul e uns jeans brancos, Bahl explica que a sua operação de fabrico de jeans recicla 98% da água que utiliza. Mas este é apenas um dos aspectos daquela que, na sua opinião, é uma mudança fundamental num setor que despeja resíduos por todo o mundo.

 

A Saitex investiu dois milhões de dólares só no sistema de água para provar não só que é possível fazer jeans azuis de forma sustentável, mas que também dá para lucrar com isso.

 

E a questão não se restringe à reciclagem: movida a energia solar, a fábrica não usa combustíveis fósseis e conta com geradores de biomassa que queimam aglomerado de madeira e casca de coco. Máquinas de lavar roupa ecológicas branqueiam tecidos usando o mínimo de água.

 

Em suma, a Saitex usa menos de um litro de água para fabricar um par de jeans, enquanto os processos tradicionais exigem 80 vezes mais. A fábrica recebeu até a certificação LEED do Conselho de Construção Verde dos EUA e é a única fabricante de jeans do Vietname a contar com ela, conta Bahl.

 

A Saitex (batizada em homenagem ao guru Shirdi Sai Baba) não é uma nova startup - os seus produtos ostentam as marcas da Ralph Lauren, da Calvin Klein e da Tommy Hilfiger. O que Bahl quer agora é propagar a notícia a respeito de uma estratégia de fabrico que, na sua expectativa, todas as fabricantes de têxteis adotarão.

 

"É isso que queremos implementar nos EUA", diz, caminhando por entre alguns dos seus 4.500 funcionários durante uma operação de verificação. Eles correm ao redor dele, por um chão de fábrica impecável, iluminado em parte pela luz natural de painéis transparentes no teto.

 

Não se sabe quanta poluição pode ser exatamente atribuída à indústria global de vestuário, mas há um consenso universal de que é muita. As montanhas de restos de tecido acumulam-se em grandes lixeiras na China, na Índia, no Bangladesh e no Sudeste Asiático. Em todo o mundo, esse material descartado chega a 92 milhões de toneladas por ano, número que deverá atingir 148 milhões de toneladas até 2030, segundo um estudo recente do Boston Consulting Group e da Global Fashion Agenda.

 

O uso e a poluição da água representam um problema igualmente colossal. Segundo uma estimativa do estudo, o setor consome 79 mil milhões de metros cúbicos por ano – quase a mesma quantidade de água doce que o rio Nilo descarrega no Mediterrâneo no mesmo período.

 

Para Bahl, esses fatos nunca estiveram longe da sua mente. Mas um relatório divulgado no outono passado pela Organização das Nações Unidas, alertando para o facto de haver uma crise climática a apenas 20 anos de distância, reafirmou o seu desejo de se expandir o mais rapidamente possível. "O momento atual é muito assustador", diz Bahl. "Eu olho para os meus filhos e penso: como é que este lugar vai ficar?"

Artigo original: Making jeans is bad for the planet. This factory could change that

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