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CEO da Renault propõe uma "Airbus" para indústria automóvel face a "concorrência desequilibrada"

Luca de Meo diz que na "batalha global do automóvel elétrico" há posturas "radicalmente diferentes", com a China a apostar numa "estratégia industrial ambiciosa e proativa", os Estados Unidos a jogarem "a carta do incentivo" e a "a Europa a regular freneticamente".

Gonzalo Fuentes / Reuters
19 de Março de 2024 às 19:38
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O CEO do Grupo Renault, Luca de Meo, alerta numa "Carta à Europa" para "sintomas de um enfraquecimento" da indústria automóvel europeia, que arrisca ser "preocupante" se nada for feito, perante a "concorrência desequilibrada" face à China e aos Estados Unidos, defendendo ser "essencial" avançar com iniciativas de cooperação entre o setor público e privado - à semelhança do que foi feito para a aviação, com a Airbus.

"Com a Airbus, já vimos o que a Europa pode fazer. Ao intensificar as iniciativas de cooperação, vamos colocar a nossa indústria na via do relançamento", afirma Luca de Meo, na carta aberta, publicada esta terça-feira, em que faz o diagnóstico da indústria automóvel na Europa que, a seu ver, "enfrenta hoje uma concorrência desiquilibrada" já que enquanto "os americanos estimulam" e "os chineses planeiam", "os europeus regulam".

"Acredito em esforços conjuntos e em parcerias entre os setores público e privado. A Europa já conseguiu o melhor com a Airbus. Ao multiplicar as cooperações, a nossa indústria estará no caminho da revitalização", afirma Luca de Meo, na carta aberta pela "defesa de uma indústria automóvel sustentável, inclusiva e competitiva", endereçada aos principais decisores e "stakeholders" da Europa, a poucas semanas das eleições europeias.

Luca de Meo adverte que, apesar de a indústria automóvel ser um  "pilar" da economia europeia (emprega 13 milhões de pessoas, representa 8% do Produto Nacional Bruto e gera um excedente comercial entre a Europa e o resto do mundo de 102 mil milhões de euros, além de constituir "uma importante fonte de receitas para os governos - 392 mil milhões de euros, ou seja, mais de 20% das receitas fiscais da União Europeia) - "estão a multiplicar-se sintomas de um enfraquecimento, preocupante se nada for feito para o impedir", desde logo porque "o centro de gravidade do mercado automóvel mundial deslocou-se para a Ásia", onde se vendem "51,6% dos automóveis novos de passageiros" de todo o mundo, ou seja, o dobro do registado na América do Norte e do Sul somadas (23,7%) e na Europa (19,5%).

Depois, assinala, os modelos eletrificados (automóveis elétricos e híbridos plug-in) assumiram a liderança, representando 14% das vendas mundiais, sendo que "a China está a progredir rapidamente no segmento dos veículos 100% elétricos". Tanto que "conquistou uma quota de mercado de cerca de 4% na Europa em 2022 - e, em 2023, cerca de 35% dos automóveis elétricos exportados no mundo eram chineses".

"Como consequência lógica, as importações europeias provenientes da China quintuplicaram desde 2017", um facto que "contribuiu para um aumento acentuado do défice comercial entre a Europa e a China: duplicou entre 2020 e 2022, aproximando-se dos 400 mil milhões de euros", exclama.

"A competitividade é medida pelas vantagens comparativas dos diferentes atores", enfatiza, apontando que "uma coisa é certa: a produção na Europa é mais cara". E exemplifica: "Um automóvel do segmento C 'made in China' tem uma vantagem de custo de 6 a 7 mil euros (cerca de 25% do preço total) relativamente a um modelo europeu equivalente". Além de que "em termos de financiamento, a China concede alegadamente mais subsídios aos seus fabricantes e mais rapidamente".

Além disso, "em termos de conta de exploração, os custos energéticos são duas vezes mais baixos na China e três vezes mais baixos nos Estados Unidos do que na Europa", onde os custos salariais são 40% mais elevados do que no Império do Meio.

Já na "batalha global do automóvel elétrico", enfrentam-se três estratégias "radicalmente diferentes", segundo Luca de Meo: "A China aposta numa estratégia industrial ambiciosa e proativa", os Estados Unidos jogam a carta do incentivo", enquanto "a Europa regula freneticamente".

"A indústria automóvel europeia está mobilizada, mas precisa urgentemente que a União Europeia crie as condições necessárias
para a emergência de um verdadeiro ecossistema para a mobilidade com baixas emissões de carbono", diz Luca de Meo, deixando seis propostas concretas de ação que passam, desde logo, por definir uma estratégia industrial europeia, tendo a automóvel como um dos pilares. "É necessário criar em toda a Europa um quadro regulamentar estável nas suas linhas gerais, mas evolutivo no seu conteúdo, seguindo o exemplo do modelo chinês. É essencial criar condições favoráveis ao aparecimento de novos Airbus europeus em tecnologias-chave", insiste.

"Reunir à volta da mesa todas as partes interessadas para elaborar esta estratégia" (cientistas, industriais, associações, sindicatos e organizações não-governamentais) "acabar com o atual sistema de empilhamento de normas, de fixação de prazos e de aplicação de multas" ou "reconstruir capacidades de aprovisionamento em matérias-primas e componentes eletrónicos, desenvolver competências em matéria de software e construir a soberania europeia na nuvem" são outras das soluções apresentadas no "roteiro" do líder do grupo Renault.

"Poderíamos, por exemplo, criar uma plataforma europeia de aquisição de matérias-primas críticas (à semelhança do que foi feito para o gás ou as vacinas anticovid)", aponta.

Além disso, "com a China a querer dominar o mundo e os Estados Unidos a protegerem o seu território, a Europa tem de inventar um modelo híbrido", por exemplo, envolvendo "as 200 maiores cidades europeias na estratégia de descarbonização", criando uma espécie de "Liga dos Campeões industriais" para recompensar quem está empenhado na transição e estabelecendo "zonas económicas verdes" que concentrem investimentos e subsídios para a transição energética, aponta Luca de Meo, apelando, por outro lado, a que "se repensem as condições" em que está a ser implementado o pacto ecológico, apesar de garantir que o setor não o questiona.





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