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Aposta nos BRIC: "Tudo que é imediato não vai acontecer"

Conhecer bem o mercado e os parceiros locais, e ter muita paciência. "Tudo o que é imediato no Brasil não vai acontecer" é o conselho-chave e a replicar na Rússia, Índia e China, num debate sobre a aposta das empresas portuguesas nos chamados BRIC, no "roadshow" da AICEP no Porto.

22 de Setembro de 2015 às 15:31
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"A penetração é muito difícil, é preciso muita paciência, mas depois de se fazer o 'caminho das pedras', o mercado está lá", garantiu Carlos Moura, director da AICEP em São Paulo. Até lá, há que penar. "Há uma enorme diversidade jurídica e fiscal no Brasil. A fiscalidade é uma bagunça, complicadíssima. E para abrir uma empresa, ao contrário das 24 horas de Portugal, demora seis a oito meses", contou o gestor da agência portuguesa no mercado brasileiro.

 

Um mercado gigantesco, sendo a sétima maior economia mundial e a primeira da América Latina, mas onde não existem prazos imediatos. "Tudo o que é imediato no Brasil não vai acontecer", gracejou Carlos Moura. E nunca esquecer que "no Brasil é tudo caro" – por exemplo, "em São Paulo o preço da electricidade aumentou 43% no último ano".

 

Apesar de tudo, vale a pena apostar no país do samba. "O Brasil está neste momento a sofrer uma crise, numa situação difícil, mas não podemos esquecer as oportunidades que existem neste mercado. "É preciso continuar a exportar azeite e chouriços, mas também tudo o que tem a ver com serviços", anotou.

 

E sinalizou uma frincha de negócio no imediato: os escândalos político-económicos que envolvem construtoras brasileiras "abrem brechas de oportunidades para as portuguesas". De resto, no meio da "bagunça", um indicador de excelência: "Este mercado é bom pagador – as leis são rígidas em termos de pagamentos. Até há listas negras…"

 

Os chamados BRIC são mercados muito difíceis, mas incontornáveis. Daí que a AICEP tenha dedicado a análise à aposta no Brasil, Rússia, Índia e China a última edição do "roadshow" Portugal Global, que está a decorrer, hoje, no Porto. "BRIC - Como Transformar os Riscos em Oportunidades" foi o tema de um dos debates. 

 

De um lado, dois colossos em recessão - o Brasil e a Rússia, do outro duas economias gigantes que continuam a crescer a bom ritmo – a Índia e a China. Dos quatro BRIC, a Índia é apontada como o que apresenta, nesta altura, maior potencial de crescimento sustentado e com menor risco. 

 

Trata-se então de um mercado fácil, certo? Errado. "A Índia não é nenhuma pêra doce." O alerta surgiu logo no arranque da intervenção de João Rodrigues, director da AICEP em Nova Deli, capital indiana. Não é por acaso que "a maior parte" das cerca de 50 empresas portuguesas que chegaram a estar neste mercado "tiveram de se retirar". Porque "são elevadíssimos os custos para manter uma empresa na Índia".

 

E também porque estamos perante um mercado continente, "de uma grande diversidade, fechado e que, tradicionalmente, nunca foi um país importador". 

 

Mas é impossível não tentar agarrar, por exemplo, "a classe média, que está a crescer e que tem alguma propensão para o ‘show off’, o que está a ser muito bem aproveitada pelas grandes marcas internacionais de luxo", registou João Rodrigues, que serviu esta tendência como um "piscar de olhos" à fileira da moda portuguesa.

 

Já em relação aos produtos agro-alimentares, o homem da AICEP em Nova Deli aconselhou prudência: "De uma forma geral, os indianos não bebem álcool e têm grandes constrangimentos alimentares – 80% são vegetarianos". Última dica: os empresários portugueses que tentem penetrar neste país devem ter "capacidade" para esperar. "O indiano não toma decisões rápidas na hora de comprar."

 

Rodrigues contou ainda que, devido à falta de uniformidade das fontes de informação estatística, o INE refere que as exportações portuguesas para a Índia rondam os 100 milhões de euros, enquanto o número oficial indiano para as importações de Portugal anda à volta dos 400 milhões de dólares.

 

Relativamente ao mercado russo, a directora local da AICEP, que lamentou que Portugal sofra ainda de "um grande défice de imagem" neste país, afiançou que "existem múltiplas oportunidades em todos os sectores", destacando o investimento que está a ser realizado nas cidades que irão receber o Mundial de Futebol de 2018. 

 

Para que o empresariado português "não faça o ‘caminho das pedras’", Maria José Rézio disse que "é preciso identificar um parceiro que conheça o produto e tenha conhecimento do mercado", lembrando que "80% dos importadores estão em Moscovo".

 

Finalmente, a China. À semelhança da dimensão do país, a directora local da AICEP engordou o perímetro das possibilidades de negócio. "As oportunidades são quase ilimitadas", atirou Alexandra Ferreira Leite. 

 

Com dois sinais amarelos: "Não podemos competir pelo volume, mas sim pela diferenciação", e "não devemos olhar para a China como um todo". 

 

Portugal "já é referenciado pelo consumidor chinês como um destino de luxo", pelo que é "em áreas de nicho" que devemos apostar, tendo dado o sucesso dos têxteis técnicos nacionais neste mercado.

 

E nunca replicar o modelo de negócio da "casa-mãe" neste país. "Há que perceber que a China é um continente e com regras distintas de província para província". E ter sempre cuidado na escolha do parceiro local, "que tem sempre quotas de importação para cumprir".



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