Notícia
Alteração na regulação ameaça investimento de 500 milhões da Endesa
A "instabilidade regulatória e de palavra" levou a empresa espanhola a reavaliar o investimento de 500 milhões de euros em duas barragens no rio Mondego.
16 de Maio de 2012 às 20:07
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Esta amaça de cancelar o investimento surge pouco mais de um mês depois do presidente da Endesa, Borja Prado, ter reunido em Lisboa com o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Na altura a empresa espanhola emitiu um comunicado onde afirmava "compromisso com o país" por parte da Endesa. Afirmava também estar a acompanhar “de perto as oportunidades de investimento em Portugal".
Em declarações à Lusa, o antigo secretário de Estado da Energia, do Governo de Cavaco Silva, adiantou que "a instabilidade regulatória e de palavra nas negociações com o Ministério da Economia vai ter efeitos negativos no investimento a realizar".
"Como é que garanto ao meu accionista que é para valer [a regulação existente]", questionou Ribeiro da Silva.
A Endesa, eléctrica espanhola, subsidiária da italiana ENEL, tem previsto um investimento de cerca de 500 milhões de euros nos aproveitamentos hidroeléctricos de Girabolhos e da Bogueira, que estão em trabalhos preliminares, com a expropriação dos terrenos e selecção dos consórcios para a construção a decorrer, estando previsto o arranque das obras ainda para este ano e o início da actividade em 2017.
A Endesa anunciou hoje que vai parar a central de ciclo combinado do Pego, enquanto vigorar a suspensão da garantia de potência, cumprindo a ameaça feita quando o Governo começou a pôr em causa os incentivos à disponibilidade das centrais térmicas.
"Vamos hibernar a central e por tempo indeterminado, porque não sabemos quanto tempo dura esta medida", afirmou Nuno Ribeiro da Silva, acusando o Governo de "má-fé e incumprimento das negociações".
O gestor reconheceu que esta decisão limita a acção comercial da Endesa no sector eléctrico e impede a empresa de competir no sector do gás, além de colocar problemas ao país em caso de seca prolongada e de falta de vento, como aconteceu no primeiro trimestre do ano.
O Governo revogou a garantia de potência, renda anual que o sistema eléctrico paga aos produtores para compensar os dias em que as centrais térmicas estão paradas e de sobreaviso, decidida pelo Executivo de Sócrates em agosto de 2010, que voltará a ser reposta "a partir do final do Programa de Assistência Financeira até ao final da vida útil de cada centro electroprodutor".
No caso da Endesa, está em causa o pagamento anual de 16 milhões de euros, por a central do Pego, em Santarém, um investimento de 580 milhões de euros, estar disponível mais de 90% do tempo nos períodos tarifários de ponta, que "em Janeiro e Fevereiro, teve uma utilização superior a 50%", de acordo com Nuno Ribeiro da Silva.