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Totti, o adeus do futebolista que é um símbolo do amor à camisola

Aos 40 anos e após 24 anos como profissional com a camisola "giallorossa", Francesco Totti vai pendurar as chuteiras. Algum dia teria de ser. Mas tal como Roma é a cidade eterna, também Totti fica para a eternidade.

Reuters
06 de Maio de 2017 às 17:00
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O futebolista Francesco Totti vestiu a "maglietta giallorossa" da AS Roma durante 24 anos. Uma história de amor que começou aos 16 e termina aos 40. Não é um número redondo como o 10 que envergou durante grande parte da carreira, quer na Roma quer na selecção transalpina. Mas isso pouco importa, "Il Capitano" ficará para a história como o jogador da Roma.

 

O fim da carreira futebolística foi anunciado esta semana por "Monchi" Rodríguez que, durante a sua apresentação como novo director-desportivo do clube romano, confirmou que esta é "a última época [de Totti] como jogador da Roma".

 

Sem pompa nem circunstância, assim se dessacralizou o momento em que os adeptos romanos viram confirmado que nem mesmo Totti poderá jogar para sempre. Sendo certo que se prenunciava o fim da carreira, até porque foi escassa a utilização nesta época 2016-2017, o anúncio surgiu de surpresa. Na memória ficam a classe, os golos, as assistências e, acima de tudo, o amor recíproco entre jogador e clube.

 

Foi em nome desse amor que Totti renegou as diversas possibilidades para conquistar, com outros emblemas, títulos e milhões de euros. Real Madrid, AC Milan, Juventus, Manchester United e até mesmo a grande rival e então endinheirada Lazio de Roma, todos em determinada altura bateram à porta d’Il Capitano.

 

Em todos aqueles clubes Totti teria encontrado melhores condições – financeiras e desportivas - para vencer. Recusou porque para ele o amor à camisola não é conversa do passado, é sentimento sempre presente. "O meu troféu é ter atravessado toda a carreira com a Roma", disse numa recente entrevista à Marca. Numa carta aberta escrita aos adeptos no início desta época, Totti explicava as razões que o impediram de abandonar o clube do coração. "Roma é a minha família, os meus amigos, as pessoas que eu amo (...) Roma, para mim, é o mundo. Este clube, esta cidade, têm sido a minha vida."

 

Em Itália, quando os "tiffosi" de outras equipas querem criticar ou menosprezar a Roma, não o fazem com críticas à equipa propriamente dita. Atacam Totti. Não raras vezes, nas paredes e secretárias das escolas e universidades ou muros circundantes, podem ler-se ataques ao capitão romano.

 

Isso não acontece necessariamente por ódio ao jogador, apenas porque talvez nenhum outro futebolista personificou a alma de um clube como Totti. A Roma é Totti. O que assume especial importância tratando-se de Itália, o último reduto em que o jogador ainda é adepto do clube que lhe paga, não por amor ao dinheiro mas ao símbolo. Maldini no Milan, Zanetti no Inter, Di Natale na Udinese ou o também romano De Rossi são alguns dos últimos exemplos.

 

Actor num teatro rectangular

 

"O menino de ouro" como é também conhecido na capital italiana, ingressou nas camadas jovens do clube com 13 anos, e estreou-se na equipa principal, aos 16, em Março de 1993, pela mão do treinador Boskov num jogo contra o Brescia.

Totti não ficará para a história somente pelos títulos conquistados, que nem foram muitos - campeão mundial com Itália em 2006, campeão italiano em 2000-2001, duas taças de Itália (2006 e 2008) e duas supertaças italianas (2001 e 2007) -, mas também pelos diversos recordes alcançados.

Na Roma já tem o recorde de jogos disputados pelo clube (783), de épocas como capitão (19), de golos (307) e de épocas consecutivas a marcar golos. Na Série A é o terceiro jogador com mais partidas realizadas (616 até ao momento) – atrás dos também míticos Paolo Maldini e Gianluigi Buffon e acabado de ultrapassar as 615 presenças de Javier Zanetti – e é o futebolista em actividade com mais golos marcados (250 até agora).


Com o golo marcado em 2014 ao Manchester City, numa partida da Liga dos Campeões, aos 38 anos e três dias, Totti tornou-se no mais velho jogador a acertar com a bola nas redes adversárias num jogo da principal prova europeia de clubes.


É, junto com Luca Toni, um dos dois únicos italianos que conquistaram a bota de ouro, que premeia o melhor marcador dos campeonatos europeus, com os 26 golos marcados em 2006-2007. Feito ainda mais relevante se for tido em conta que Totti nunca foi ponta-de-lança, mas sim o típico número 10 à italiana (trequartista), na linha de jogadores como Chiesa, Signori, Zola, Roberto Baggio ou o seu contemporâneo Del Piero. Uma "espécie" cada vez mais em extinção no futebol mundial.
 

No entanto, Totti soube sempre adaptar-se ao que os diferentes treinadores – e foram muitos - lhe foram pedindo ao longo da carreira. A criativo, segundo avançado, descaído para a esquerda ou até mesmo a falso ponta-de-lança, como Luciano Spalletti, agora regressado à Roma na época passada, o colocava a jogar, a verdade é que o futebol da equipa passava sempre pelos pés de Totti. 

Orgulhoso, teve relações difíceis com treinadores mais disciplinadores como Zeman ou Capello, mas foi com este que conquistou a Serie A e que o futebol de Totti atingiu o auge, jogando livre como puro número 10 atrás de uma dupla ítalo-argentina de avançados, ora composta por Batistuta e Montella, ora pelo argentino e Delvecchio. 

 


A normal perda de fulgor físico e as lesões nos joelhos foram modificando a sua forma de jogar. De jogador impetuoso, rápido e de finta fácil, Totti passou a jogar de forma mais cerebral, com menos correrias e melhor posicionamento. Mas também ajudou a qualidade futebolística intrínseca. Remates em força ou em jeito, aberturas desconcertantes, desmarcações mortíferas, grandes penalidades friamente cobradas ou cabeceamentos à número 9, em campo Totti sempre conseguiu fazer de tudo um pouco.

Mas talvez mais importante do que tudo isso, sabia liderar e capitanear. No aquecimento era o primeiro a subir ao relvado e o último a descer, e nunca o fazia sem primeiro aplaudir os seus adeptos, que exultavam ao vislumbrá-lo e prontamente entoavam músicas em sua homenagem. Quando no Olímpico, como um actor de teatro, tivesse vencido ou perdido o jogo em disputa, Totti não regressava ao balneário sem a devida vénia a quem apoiara a equipa. Agora é a nossa vez de agradecer.  

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