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Bruxelas vai mesmo avançar com chumbo histórico à fusão entre unidades da Siemens e Alstom
A decisão da comissária Margrethe Vestager ainda não é oficial e não foi adotada pelo colégio de comissários, mas promete gerar forte polémica.
A Comissão Europeia vai mesmo avançar com o chumbo à fusão das unidades de ferrovia da Siemens e Alstom. Uma decisão que poderá ficar na história, gerar forte controvérsia e até motivar alterações à lei da concorrência europeia.
A decisão ainda não é oficial, mas segundo o Financial Times a comissária Margrethe Vestager já está a avançar na recomendação de chumbo à operação entre as empresas francesa e alemã, por considerar que não foram feitas concessões para responder aos problemas anticoncorrenciais.
O jornal britânico diz mesmo que esta decisão da concorrência é uma das mais importantes da história da Comissão desde que em 1989 assumiu poderes para vetar fusões. Sobretudo devido ao facto de envolver duas grandes empresas dos dois maiores países da UE, numa operação que é apoiada pelos políticos de França e Alemanha.
A decisão deverá ser adotada na reunião do colégio de comissários da próxima semana (terá de ser tomada uma decisão até 18 de fevereiro) e entre os 22 membros deste órgão europeu, apenas um ou dois deverá votar contra a recomendação de Vestager.
Foi em setembro de 2017 que as duas empresas anunciaram ter chegado a acordo para a fusão das suas respetivas atividades ferroviárias. No âmbito deste acordo, a Siemens transferirá o fabrico das suas carruagens de comboios e metro de superfície e equipamento de sinalização para a Alstom, em troca de uma participação de 50% na nova empresa resultante da fusão.
A fusão iria criar um novo gigante europeu na ferrovia, com presença em 60 países e um volume de negócios anual de 15,6 mil milhões de euros e enfrentar o grupo chinês CRRC e os canadianos da Bombardier.
França e Alemanha têm pressionado Vestager a aprovar o negócio, por considerarem que este vai ajudar a travar a concorrência vinda da China. Executivos e políticos montaram uma campanha para convencer a comissária, com o ministro das Finanças francês a pedir, esta segunda-feira, uma reforma da lei da concorrência na Europa.
Mas Bruxelas tem nos últimos meses deixado sinais de que não iria aprovar a operação, até porque as empresas envolvidas não avançaram nas propostas de remédios a implementar na operação.
A oposição firme da comissária dinamarquesa gerou uma onda de críticas, sobretudo por parte dos políticos e gestores dos dois países mais poderosos da União Europeia, pelo facto de ser Bruxelas a impedir a criação de "campeões europeus" capazes de rivalizar com outros gigantes fora da União Europeia que têm capital público.
O ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, considerou no início deste mês que seria um "erro económico" e um "erro político" por parte da Comissão Europeia recusar a fusão, "porque enfraqueceria toda a indústria europeia face à China". Iria "enviar o sinal, a uma China conquistadora, que tem atualmente meios consideráveis (...), que a Europa se divide e desarma-se", argumentou.
O CEO da Siemens reconheceu há dias que a fusão dificilmente seria aprovada, acusando a Comissão Europeia de ser "antiquada".
"É totalmente ingénuo acreditar que sozinhos, os países europeus podem por si só competir com a China, América e até a Índia – isso é impossível", afirmou Joe Kaeser esta semana. "Se queremos mesmo ser ‘players’ globais precisamos de uma política externa e económica comum na Europa".