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Jerónimo Martins vende indústria à família Soares dos Santos
A Jerónimo Martins vai concentrar os seus activos na distribuição, depois de ter decidido vender participações industriais, restauração e marcas à sua maior accionista, a família Soares dos Santos, por 310 milhões.
A "holding" Jerónimo Martins SGPS, cotada na praça de Lisboa, vai alienar as suas participações industriais, nomeadamente a parceria que detém com a Unilever, de restauração e de representação de marcas ao seu accionista de controlo, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos (SFMS). Em causa está a venda da participada Monterroio – Industry & Investments BV, pela JM SGPS à SFMS, por 310 milhões de euros.
Em comunicado emitido esta quarta-feira, 27 de Julho, a gestão da JM SGPS – liderada por Pedro Soares dos Santos – adianta que a "transacção foi aprovada por deliberação do conselho de administração" adoptada no dia 26 de Julho (esta terça-feira), "uma vez ponderado o interesse da sociedade" e "tendo sido emitido prévio parecer favorável pela comissão de auditoria".
"Tendo-se entrado na fase final das negociações do contrato de compra e venda, prevê-se que a transacção, que deverá implicar o recebimento pela sociedade do montante total de 310 milhões de euros, venha a ter lugar nas próximas semanas".
Com 56,1% do capital da JM SGPS, a SFMS é a "holding" da família Soares dos Santos, igualmente dona da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que desde 2015 detém o Oceanário de Lisboa, e responsável pelo agregador estatístico Pordata. Tem Alexandre Soares dos Santos - líder da Jerónimo Martins durante quarenta anos - como fundador e presidente.
A intenção de compra foi conhecida a 28 de Abril passado, em comunicado enviado à CMVM, onde constava então o valor de 285 milhões de euros pela Monterroio. Perto de um mês depois, em resposta ao Negócios, a administração da JM SGPS – liderada por Pedro Soares dos Santos, filho de Alexandre Soares dos Santos - garantia que os accionistas da SGPS de distribuição não iriam ser consultados sobre a venda em assembleia-geral.
O que a Monterroio representa, sobretudo, a parceria de mais de 60 anos que a JM criou e desenvolveu em Portugal com a anglo-holandesa Unilever, hoje agregada na Unilever Jerónimo Martins (55% Unilever e 45% JM). Produz gelados, óleos e margarinas num pólo industrial em Santa Iria da Azóia, encerrada que foi a produção em Santarém, há mais de um ano, na antiga unidade de detergentes da Lever.
Há também a Gallo Worlwide, dona da marca de azeites Gallo, com a mesma divisão accionista (o que a JM detém é 45%), que foi autonomizada da UJM em 2009. É a segunda marca de azeite mais vendida em Portugal.
Além da parte industrial, a Monterroio agrega ainda 100% da JMD – Distribuição de Produtos de Consumo, que representa marcas como a Heinz, Lindt ou Evian juntos dos canais de distribuição – e acaba por ser complementar a área industrial da JM -, as lojas especializadas em chocolates e guloseimas Hussel, e divisão de restauração e cafés, com as marcas Jeronymo e gelatarias Olá (produzidas pela UJM).
Com esta alienação, a JM fica "esvaziada" de participações industriais, restauração e marcas. Concentra-se essencialmente na área da distribuição em Portugal (Pingo Doce e Recheio); na Polónia (Biedronka) e na Colômbia (Ara). E é também produtora agro-alimentar, uma vez que em 2015 passou a ser dona da fábrica e marca de leite e lacticínios Serraleite (em Portalegre), e que no final do mesmo ano investiu um milhão de euros numa exploração de gado bovino Angus(em Barcelos) para fornecer as suas redes retalhistas.
Financiamento assegurado
Em comunicado separado, e enviado também esta quarta-feira às redacções, a SFMS confirma ter "chegado a acordo com a JM SGPS para a aquisição da participação da JM no capital da Monterroio", tendo acordado "um pagamento total de 310 milhões de euros".
"A SFMS espera concluir a transacção durante as próximas semanas", adianta a nota, "tendo assegurado financiamento junto de um consórcio de bancos internacionais para o valor total da aquisição, que será pago em dinheiro".
Adianta a gestão da SFMS, liderada por José Soares dos Santos - filho de Alexandre e irmão de Pedro Soares dos Santos - que a "operação enquadra-se na estratégia da SFMS de realizar investimentos directos no sector industrial através da aquisição de activos operacionais em mercados que a SFMS conhece bem".
"Concluída a transacção", adianta ainda "a SFMS empenhar-se-á em continuar a desenvolver as posições de liderança alcançadas pelos activos adquiridos".