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Membro da supervisão do BCE pede "contenção" na distribuição de dividendos da banca mas rejeita travão genércio
Steven Maijoor apelou à banca para ter "contenção na distribuição de dividendos e na recompra de ações". No entanto, rejeitou a ideia da implementação de um travão genérico de dividendos, como aconteceu durante a pandemia.
A banca europeia deve ser contida no que toca à distribuição de dividendos e programas de recompra de ações (em inglês os chamados "buybacks"), de forma a garantir que as reservas são suficientes para enfrentar uma possível recessão. O aviso foi dado por Steven Maijoor, membro do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu (BCE).
"O que estamos a pedir é contenção na distribuição de dividendos e na recompra de ações", frisou Maijoor em entrevista à Bloomberg.
O membro do Conselho de Supervisão estão preocupado com a possibilidade de os bancos se comprometerem com a distribuição de quantidades específicas de capital em vez de recorrer a "métricas relativas" para calcular os pagamentos.
"Isto é algo que nós como supervisores não gostamos, porque este tipo de compromissos podem tornar-se muito problemáticos, se os lucros subsequentes não corresponderem às expectativas dos bancos", acrescentou.
Ainda assim, Steven Maijoor fez questão de sublinhar que este alerta não se traduzirá na imposição geral e abstrata de restrições no que toca à distribuição de dividendos, conforme foi determinado pelo BCE durante a pandemia.
Assim, o banco central e outras autoridades europeias irão realizar uma análise "caso a caso" que terá em conta a capacidade de cada banco de reagir "à pressão da recessão". "Estamos a favor da manutenção dos amortecedores [face à possibilidade de recessão].
"Isto significa que quando olhamos para os dividendos temos as trajetórias necessárias em conta", acrescentou o membro do supervisor. Maijoor recusou comentar situações de bancos específicos. Em março de 2020, a autoridade monetária emitiu uma recomendação de limitar os dividendos dos bancos, tendo esta caducado em setembro do ano passado.
Apesar deste alerta, o membro do Conselho de Supervisão do BCE deixou claro que compreende o recurso a estas ferramentas. "É preciso estar atento aos acionistas. É importante para os bancos ter acesso ao mercado de capitais", frisou. Assim, "entendemos que se queiram pagar dividendos e recomprar ações", acrescentou.
As declarações de Steven Maijior surgem dias depois de a Bloomberg ter avançado, citando fontes próximas do processo, que o BCE está a colocar pressão nos bónus pagos por alguns bancos, numa altura em que o cenário macroeconómico se tem vindo a deteriorar na região.
Estas notícias surgem numa altura em que vários bancos da Zona Euro, como o UniCredit, Commerzbank ou Deutsche Bank deram indicações otimistas para o futuro, mesmo com o aumento da inflação e subida das taxas de juro a pesarem no ambiente económico. Estas instituições acrescentam ainda que é pouco provável que tenham de realizar provisões de crédito, mesmo com o desafio adicional dos preços da energia. De acordo com a Bloomberg, o BCE considera que os financiadores poderão estar a subestimar os riscos.
Recessão técnica a caminho?
O supervisor europeu espera maiores constrangimentos no pagamento de dividendos e pagamentos variáveis, à medida que aumentam as preocupações com possíveis incumprimentos devido ao escalar dos preços da energia. Estes avisos têm ganho renovada dimensão com o BCE a prever uma maior desaceleração económica no continente em 2023.
O próprio vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, já alertou, inclusivamente, para a possibilidade de a Zona Euro entrar em recessão técnica.
"Acho que vamos enfrentar uma combinação muito difícil de baixo crescimento económico, incluindo a possibilidade de recessão técnica e alta inflação", afirmou de Guindos.