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"Lesados do papel comercial" com maiores aplicações querem "tratamento igual"
A actual solução, a ser desenhada com os reguladores e o Governo, prevê que haverá uma devolução máxima de até 250 mil euros no papel comercial. Quem investiu mais contesta. "Todos deviam receber 75%. Fomos todos lesados da mesma forma".
Os clientes do antigo BES que colocaram mais de 250 mil euros em papel comercial das empresas do Grupo Espírito Santo não estão satisfeitos com a solução que está a ser desenhada com o Governo.
Esta terça-feira, 18 de Outubro, realizou-se um encontro entre os investidores que subscreveram papel comercial acima daquele montante que juntou cerca de 60 pessoas, segundo indica Mário Lopes, que lidera o grupo de investidores que pertencem à AIEPC, associação de papel comercial, mas que pretendem receber mais do que o que lhes é permitido com a actual solução.
As bases da solução encontrada até ao momento, e que está a ser intermediada por Diogo Lacerda Machado em nome do Governo, são a de que os "lesados" que investiram até 300 mil euros podem receber 75% do investimento. Acima daquele valor, a recuperação máxima é de 250 mil euros. O que pode implicar perdas superiores.
Por exemplo, um investidor que tenha subscrito 1 milhão de euros, ao subscrever a solução, assume que não recebe 750 mil euros. Uma perda de 75% do valor. Ou recuperação de 25% do capital investido.
"Tratamento igual"
"Todos deviam receber 75% [do valor]. Fomos todos lesados da mesma forma", defende Mário Lopes. A defesa é uma: "tratamento igual" para todos os investidores. A AIEPC, liderada por Ricardo Ângelo, tem estado em encontros com o Banco de Portugal, a CMVM, o BES e o Governo para fechar a solução encontrada em Junho passado no âmbito do memorando de entendimento.
"30% [de recuperação] é o que dá a Deloitte". A auditora fez, em nome do Banco de Portugal, o estudo que prevê o que perderiam os credores se o BES tivesse sido liquidado em vez de resolvido e que obriga a que os credores comuns, como os investidores de papel comercial, a receberam 30% do capital colocado nestes produtos financeiros. Ou seja, segundo a lógica, não valia a pena participar na solução do Governo porque a indemnização (a ser paga na liquidação do BES e, se não for suficiente, pelo Fundo de Resolução) é idêntica.
Assim, o que este grupo de investidores defende é que a forma de comercialização do papel comercial foi a mesma, aos mesmos balcões (BES, BES Açores, BEST, agora Novo Banco), pelo que deveriam receber todos "75% do investimento, independentemente do montante".
Neste momento, ainda se aguarda pela luz verde do Ministério das Finanças à proposta do grupo de trabalho para os 2.100 títulos de papel comercial subscritos por investidores não qualificados.
É a banca, através do Fundo de Resolução, que assegura a maior parte do valor a reembolsar aos investidores, a que se junta ainda o montante recuperado junto das insolvências do BES, da Rioforte e da ESI. O arresto da justiça e eventuais indemnizações também contribuirão para a solução.
Solução até Dezembro
Ricardo Ângelo, da AIEPC, disse, no início de Outubro, que a solução poderá concretizar-se até ao final do mês, tentando ainda actuar para não prejudicar o défice de 2017. Nessa altura, o líder da associação esperava que 85% dos lesados aceitassem a solução, admitindo que houvesse resposta negativa por parte de quem tinha subscrições mais elevadas.
"Há cerca de 15% que vão receber entre 50 a 60% [do capital aplicado] e dessas, 5% das pessoas é provável que não aceitem a solução, porque não lhes é apelativa o suficiente", disse Ricardo Ângelo em Outubro.