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Controvérsia em torno da consultora contratada pelo BCE para exame aos grandes bancos

A opção pela Oliver Wyman fez torcer o nariz a alguns observadores. O FT lembra que foi a consultora norte-americana que considerou o Anglo Irish Bank o melhor banco do mundo três anos de a sua falência ter empurrado a Irlanda para a vertigem de um resgate.

25 de Setembro de 2013 às 17:24
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A escolha da Oliver Wyman para ajudar o Banco Central Europeu (BCE) a coordenar neste Outono um exame detalhado à saúde financeira dos maiores bancos europeus está a gerar alguma controvérsia, devido ao facto de consultora norte-americana ter emitido num passado recente julgamentos que se revelaram muito desacertados.

 

O Financial Times recorda que foi a consultora norte-americana que considerou o Anglo Irish Bank o melhor banco do mundo três anos de a sua falência ter contribuído fortemente para a necessidade de resgate da própria Irlanda, tendo depois apagado essa referência dos seus registos. Em declarações citadas pelo jornal londrino, a empresa defende-se, argumentando que essa classificação "foi unicamente baseada numa análise ao desempenho passado do retorno para os accionistas". "Hoje analisamos os dados de forma diferente. Não teria sido uma boa ideia investir no Anglo Irish. Mas, infelizmente, também não previmos a crise financeira em 2006". 

 

Oliver Wyman esteve também envolvida no levantamento das verbas necessárias à recapitalização da banca espanhola, tendo as suas conclusões apontado para um valor ligeiramente inferior aos 60 mil milhões de euros que o Governo espanhol admitira como necessários, o que alimentou a suspeita de que teriam feito os cálculos à medida do que era politicamente aceitável - por baixo.

 

A consultora esteve também na Eslovénia e foi igualmente uma das instituições internacionais que assessoraram o Ministério português das Finanças na definição das modalidades de intervenção do Estado (designadamente dos CoCo's) com vista reforço do capital dos bancos.

 

O BCE não forneceu detalhes sobre o que o levou a optar pela Oliver Wyman. Segundo o FT, concorreram oito consultoras; o preço e as qualificações do pessoal figuravam entre os critérios do concurso aberto pelo banco central do euro. “Oliver Wyman vai apoiar a gestão e coordenação do BCE nesse exercício e vai providenciar serviços de consultoria financeira a este projeto, nomeadamente, no aperfeiçoamento da metodologia da avaliação", referiu nesta terça-feira o BCE em comunicado, acrescentando que no decorrer das próximas semanas fornecerá mais informações sobre o calendário e metodologia deste exercício.

 

O BCE quer fazer um exame detalhado à saúde financeira dos 130 maiores bancos europeus que passarão a ser por si directamente supervisionados no quadro da união bancária a partir do Outono de 2014. Vários países, encabeçados pela Alemanha, exigem que Frankfurt não assuma responsabilidades sobre o que não conhece em profundidade (no quadro do euro, a supervisão bancária permaneceu nas mãos dos bancos centrais nacionais), até porque, numa segunda fase da união bancária, está prevista a possibilidade de serem usados fundos europeus para a recapitalização destes bancos.

 

Em contrapartida, existe o receio de que estes "testes de stress" revelem perdas potenciais mais amplas no sector, o que poderia agudizar as restrições ao crédito, o que poria em causa a recuperação incipiente das economias europeias e poderia desencadear uma nova crise com implicações para os orçamentos públicos, numa nova espiral de perdas entre bancos e soberanos.

 

Falando no Parlamento Europeu nesta segunda-feira, o presidente do BCE, Mario Draghi, sublinhou a importância de um exame " credível ", caso contrário será " completamente inútil , se não contraproducente". Draghi confirmou que os supervisores nacionais iria verificar as avaliações de cada um e também contratar seus próprios consultores e auditores externos, como parte de um exercício que terá, no limite, de ser concluído dentro de um ano. Nas respostas aos eurodeputados, Draghi deu a entender que algumas previsões dos enormes buracos em balanços de bancos europeus podem ser exageradas, "mas a melhor maneira de responder não é dizer que é exagerado, é simplesmente esclarecer".

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