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"Commissaire" da ESI assumiu culpas por "lealdade" aos superiores
Numa carta enviada em Janeiro de 2014 a Ricardo Salgado, Francisco Machado da Cruz defendeu que só disse ter cometido erros na ESI por respeito ao grupo e aos seus superiores hierárquicos.
Francisco Machado da Cruz pediu a demissão em Janeiro de 2014 depois de ter assumido a responsabilidade pelas "irregularidades materialmente relevantes" detectadas na Espírito Santo International. Mas essa assunção de culpas foi feita por "lealdade".
"Vi-me forçado a assumir pessoalmente esses erros em diferentes ocasiões", escreveu Machado da Cruz, numa carta enviada a José Castella, tesoureiro do GES, e a Ricardo Salgado, onde pedia a demissão do cargo de contabilista ("commissaire aux comptes") do grupo. Essa carta foi entregue pelo próprio à comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, onde está a ser ouvido numa audição à porta fechada.
Machado da Cruz afirmou que assumiu essa responsabilidade por respeito a quem estava acima de si, defendeu o contabilista. "Fi-lo por absoluta lealdade aos meus superiores hierárquicos e ao grupo", garantiu aos deputados, segundo informações que estão a sair da comissão, já que a audição decorre à porta fechada sem presença dos jornalistas. Os superiores eram José Castella, o tesoureiro do GES que foi ouvido na comissão esta quarta-feira, e Ricardo Salgado.
Ricardo Salgado sempre disse que que o contabilista "perdeu o pé" e levou a um descontrolo tal que o passivo oculto da ESI em 2013 foi de 1,3 mil milhões de euros. "Nunca ordenei" qualquer ocultação de dívida, garantiu o ex-banqueiro.
Machado da Cruz contrariou essa ideia e diz que logo em 2008, o primeiro ano em que houve dinheiro escondido no balanço, foi tudo feito por ordem de Salgado.
Na carta enviada a Salgado e Castella, o contabilista defendeu que não tinha condições para continuar a exercer funções no grupo, ainda que mostrasse abertura para continuar a ajudar no que fosse preciso.