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Associação Montepio tira pelouros a administrador que defende um "virar de página"
O conselho de administração do Montepio, liderado por Tomás Correia, retirou os pelouros a Fernando Ribeiro Mendes que, no final de Março, pediu uma mudança no governo da associação.
Fernando Ribeiro Mendes é vogal da administração da associação Montepio. No final de Março, escreveu um artigo de opinião cujo título era "virar de página inadiável". No início de Abril, ficou sem os pelouros que lhe tinham sido atribuídos quando iniciou funções, em 2015.
António Tomás Correia preside à administração do Montepio, contando com Carlos Beato, Ribeiro Mendes, Virgílio Lima e Miguel Teixeira Coelho como vogais. O Jornal Económico escreveu esta terça-feira que Ribeiro Mendes ficou sem os seus pelouros (meios, serviços partilhados, compradas, estudos mutualistas e secretariado geral), informação confirmada pelo Negócios. A justificação é a "quebra de confiança", diz aquele jornal.
A decisão da administração foi tomada depois do referido texto de opinião no Público. "Verdadeiramente decisivas para o virar de página que julgo inadiável serão as mudanças no governo e na gestão do Montepio que a revisão em curso do código das mutualidades desejavelmente ajudará a concretizar", apontava o artigo do economista, publicado a 24 de Março.
"A idoneidade dos gestores das poupanças de tantos associados tem de passar a ser validada através do registo prévio junto da Autoridade de Supervisão e Seguros e Fundos de Pensões que, infelizmente, alguns querem ver adiado", sublinhava Ribeiro Mendes.
Divisão não é nova
Esta é uma divisão na administração da mutualista que já esteve dividida no ano passado, quando a associação injectou 250 milhões de euros na sua caixa económica, a pedido do Banco de Portugal. Ribeiro Mendes absteve-se na votação dessa aplicação, sendo que o administrador financeiro, Miguel Coelho, votou mesmo contra, como revelou o Eco no início deste ano.
Ainda esta semana, o Público falava em "duas sensibilidades" dentro da administração: Miguel Coelho e Ribeiro Mendes de um lado, os restantes nomes do outro.
A administração não é o único órgão dividido: o conselho geral, onde estão representados eleitos das diversas listas candidatas em 2015, também tem sido marcado por opiniões divergentes da de Tomás Correia.
Eleições em Dezembro
Em Dezembro, há eleições para órgãos sociais do Montepio. António Tomás Correia afirmou, em Fevereiro, não fazer "a mais pequena ideia" se se iria recandidatar. "Não digo nem que sim nem que não", frisou.
"Ando há muitos anos a esta parte a dizer que, se houver alguém a quem reconheça idoneidade, dedicação, identificação com o movimento da economia social, que esteja disponível para servir o Montepio no lugar de presidente, sou o primeiro apoiante. Infelizmente, os candidatos que se têm perfilado, do meu ponto de vista, não têm sido candidatos à altura de servir o Montepio", continuou.
Pela frente, como noticiou o Público, caso se recandidate, Tomás Correia poderá enfrentar uma lista alternativa que reúna todos os seus opositores. O jornal avançou que existiam contactos entre antigos candidatos ao Montepio, que perderam a corrida em 2015, para formar uma lista única, o que o Negócios também confirmou.
A associação mutualista apresentou, nas contas consolidadas de 2016, capitais próprios negativos de 251 milhões de euros (as responsabilidades são 251 milhões superiores ao activo). Em 2017, as contas individuais (não há ainda relatório consolidado) revelam uma melhor situação patrimonial, com capitais próprios positivos de 775 milhões de euros, o que resultou da perda de isenção em sede de IRC que levou ao reconhecimento de activos por impostos diferidos. Sem a isenção, teria perdas de 221 milhões.