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Vinho do Porto vai poder ser engarrafado com água tónica

O Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto prepara-se para aprovar a comercialização de Porto tónico, pronto a consumir. As empresas querem engarrafar o famoso “cocktail” e “dar o salto” para os consumidores mais jovens.

Ricardo Meireles/Sábado
António Larguesa alarguesa@negocios.pt 30 de Abril de 2021 às 13:40

Treze anos depois do lançamento do Porto Pink (rosé), que foi a última grande novidade comercial disruptiva neste setor tão tradicional, o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP) prepara-se para aprovar a comercialização de garrafas de Porto tónico, pronto a consumir.

 

Segundo apurou o Negócios junto de fontes do setor, a ideia já recebeu "luz verde" do conselho interprofissional do IVDP, que junta representantes da produção e do comércio e pelo qual passam as grandes decisões, como a aprovação anual do "benefício" (quantidade de mosto que cada viticultor pode destinar à produção de vinho do Porto).

 

Contactada pelo Negócios, fonte oficial do IVDP, liderado por Gilberto Igrejas recusou, para já, confirmar oficialmente a aprovação deste novo produto, assim como detalhar o andamento do processo que já deu entrada nos serviços deste instituto público em julho de 2020 ou prestar declarações sobre o potencial de vendas deste produto.

 

Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP).
Gilberto Igrejas, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP). Paulo Duarte



Feito com duas partes de água tónica e uma parte de Vinho do Porto Seco, ao qual é adicionado uma rodela de limão, laranja ou hortelã pimenta, o Porto tónico entrou no roteiro dos "cocktails" nos últimos anos. E esse interesse por parte dos consumidores levou as empresas a estudarem a possibilidade de lançar no mercado uma garrafa pronta a consumir.

 

Foi o caso da Quinta da Boeira, que no verão do ano passado apresentou um dossiê completo ao IVDP, incluindo a composição definida de água tónica com Porto branco, uma análise ao "blend" realizada pela Universidade Católica, dados sobre o investimento inicial na ordem dos 200 mil euros e uma estimativa sobre o lançamento deste produto nos vários mercados em que já opera, como Dinamarca, EUA, Canadá e China.

 

Garrafa de Porto tónico, desenhada e proposta pela marca Boeira.
Garrafa de Porto tónico, desenhada e proposta pela marca Boeira. DR

 

Assim que receber a autorização do IVDP, o sócio-gerente da Boeira, Albino Jorge, garante ao Negócios que está pronto a engarrafar "milhares de unidades" com esta mistura do Porto que produz numa quinta entre Pinhão e Alijó (subregião de Cima Corgo) com a água tónica que "vem através de uma parceria [feita] com uma produtora que está interessada também na própria distribuição a nível nacional e internacional". E até já tem as garrafas de vidro de 25 centilitros e os rótulos desenhados para chegar rapidamente às prateleiras.

 

"O setor do vinho do Porto precisa de inovação e de sangue fresco. Está ainda muito ligado aos consumidores de idades mais avançadas e tem de dar o salto também para a juventude. O Porto tónico tem muito aceitação a nível internacional e é uma bebida excecional, principalmente para o verão e para as discotecas, por ser refrescante e ter menos graduação alcoólica ", apontou o empresário de Vila Nova de Gaia.

 

O Porto tónico tem muito aceitação a nível internacional e é uma bebida excecional, principalmente para o verão e para as discotecas. Albino Jorge, sócio-gerente da Boeira

 

Entusiasmado com a possibilidade de "abrir um mercado novo" para o vinho do Porto, Albino Jorge identifica "um interesse comum do próprio setor em relação a esta nova ideia", antecipando que este novo produto será "um grande sucesso" e "vai permitir à lavoura e aos exportadores venderem mais".

Como o Negócios já tinha adiantado, outras grandes empresas do setor estão envolvidas e interessadas neste novo produto, incluindo no formato de lata, aguardando apenas a luz verde do IVDP. É o caso da Fladgate, que ao final da tarde desta sexta-feira, 30 de abril, confirmou o lançamento do Taylor’s Chip Dry & Tonic", que vai chegar já em maio ao mercado português, britânico e americano. 

"[Temos], ao longo dos anos, procurado alargar a base de consumidores do vinho do Porto, procurando satisfazer as suas necessidades. O Taylor's Chip Dry & Tonic é o culminar de dois anos de trabalho ao lado do IVDP, que sem dúvida vai ajudar a trazer mais consumidores para o vinho do Porto", declarou, numa nota de imprensa, Adrian Bridge, diretor geral do grupo que também detém as marcas Fonseca e Croft, além de vários hotéis no Porto e no Douro.

A Fladgate, liderada por Adrian Bridge, vai lançar o Taylor’s Chip Dry & Tonic, em formato de lata.
A Fladgate, liderada por Adrian Bridge, vai lançar o Taylor’s Chip Dry & Tonic, em formato de lata.

Também a marca Porto Offley, detida pela Sogrape, avançou entretanto que vai lançar esta bebida em lata, pronta a beber, que "mistura o irreverente Offley Porto Clink Branco com água tónica". Chega ao mercado no verão de 2021 e, "traduzindo uma apetência do mercado por novos ‘mixers’, representa a solução ideal para quem pretende o consumo do mais conhecido ‘cocktail’ de vinho do Porto nas proporções certas".

"É um produto que todo o setor considera com valor. Tem potencial para atingir camadas de consumidores mais jovens e isso pode ser facilitado por ser vendido já sobre a forma de preparado, sobretudo em mercados externos, como os Estados Unidos", concluiu a diretora executiva da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), Isabel Marrana, em declarações ao Negócios.

Vendas de Porto caíram 10% com a pandemia A comercialização de vinho do Porto rendeu 339 milhões de euros em 2020, um recuo de 10% em relação ao ano anterior. Os melhores mercados foram França (64,5 milhões de euros, 19,4% do total) e Reino Unido (46,9 milhões de euros, quota de 14%), seguidos de Portugal (46,5 milhões de euros), onde houve um recuo de 37%, passando a valer 13,6% das receitas. Da lista de 25 melhores mercados, só o Reino Unido (+2,8%) e o Luxemburgo aumentaram as compras no ano em que surgiu a pandemia de covid-19. E venderam-se vinhos do Porto mais baratos: a quebra nas chamadas categorias especiais (-12,6%), que pesam 44% das vendas totais, foi superior à verificada nas outras de menor valor (-8,1%).
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