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Presidente da CAP diz que "mundo rural" está contra esta "política mal-amanhada"
O presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) afirmou esta segunda-feira que o "mundo rural" está contra a actual "política mal-amanhada", que se afasta da "raiz cristã" em matérias como o aborto e a identidade de género.
Eduardo Oliveira e Sousa falava na conferência "A agricultura num mundo em mudança", organizada pela CAP, num hotel de Lisboa, na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que depois o aconselhou a "conviver com a realidade que existe".
O presidente da CAP considerou que Portugal vive um período "um tanto ou quanto estranho", com "coisas mal-amanhadas" e "uma política que está um pouco confusa", acrescentando: "Uma política que não nos governa, mas que manda no Governo, que está no parlamento a comandar os destinos do país e que tem um modelo de sociedade".
"Nós, que vivemos no mundo rural, senhor Presidente, temos dificuldade em lidar com grandes questões fracturantes da sociedade, como seja, por exemplo, haver no parlamento quem defenda sobrepor os direitos dos animais, atribuindo-lhes, por exemplo, o estatuto de pessoas não humanas, mas um bebé que queira nascer, mas que é fruto de uma gravidez indesejada, a mãe pode receber do Estado o correspondente custo para assassinar aquele no seu ventre", declarou.
Eduardo Oliveira e Sousa lamentou ter visto "arrancar os crucifixos das paredes das escolas" e alegou que os jornalistas são impedidos de dizer nos noticiários "até amanhã, se Deus quiser". "Nós temos dificuldade, senhor Presidente, em defender ou em alinhar nesta política mal-amanhada, nesta situação confusa de uma sociedade sem contornos definidos, que se afasta da nossa raiz cristã", acrescentou o engenheiro agrónomo.
O presidente da CAP questionou "como é que é possível um parlamento querer atribuir direitos a uma criança de 16 anos", dando-lhe "a possibilidade de decidir mutilar-se para a vida para mudar de género". "Há qualquer coisa mal-amanhada nesta política que nos conduz, como se ovelhas submissas fôssemos. E nós temos de assumidamente dizer que, pelo menos, no mundo rural nós não concordamos com isso", reforçou, recebendo palmas.
O Presidente da República, que falou de seguida, respondeu a estas palavras na parte final do seu discurso, considerando que Eduardo Oliveira e Sousa se mostrou "um pouco perplexo perante certas realidades".
"Eu estava a ouvi-lo, estava ao mesmo tempo a compreendê-lo, mas também a sofrer por si. A compreendê-lo porque provavelmente aquilo que disse, e a prova foram os aplausos que suscitou, era aquilo que estava na cabeça ou no coração de muitos dos presentes quando olham para a realidade e nem sempre se revêem nessa realidade. Por outro lado, estava a sofrer por si, por uma razão muito simples: porque, sendo presidente da CAP, tem de conviver com a realidade que existe", prosseguiu.
Marcelo Rebelo de Sousa aconselhou-o a aceitar a realidade e as suas "dinâmicas económicas, sociais, culturais e políticas", porque "são as que são" e escapam "ao seu domínio de intervenção".
"De facto, vai ter de demonstrar todo o seu talento diplomático, permanentemente, para conviver com realidades que são realidades, umas culturais, que apreciaria que não ocorressem, outras espirituais, que desejaria que se manifestassem de outra forma, outras sociais e, finalmente, algumas políticas. Mas isso, digamos assim, é o grande desafio das sociedades democráticas e pluralistas, e dos líderes representativos nessas sociedades", concluiu.
No seu discurso, o presidente da CAP falou também das políticas de combate à seca, defendendo que Portugal precisa de barragens em vários pontos do país e que foi um erro não se ter construído a barragem de Foz Côa.
"Senhor Presidente, no Egipto moveu-se uma montanha para salvaguardar um monumento, Abu Simbel. Nós não fomos capazes de movimentar uma pedra ou uma rocha para salvar umas gravuras", disse.
Por outro lado, declarou que se não for colocada a "técnica à frente das políticas mal-amanhadas" os incêndios deste ano vão repetir-se.
Quanto à reforma florestal, reafirmou as críticas da CAP, contestando em especial "a proibição dos eucaliptos". "Quem sustenta a proibição dos eucaliptos no parlamento não quer saber dos eucaliptos para nada. O alcance deles é destruir a economia que está associada à rentabilidade dos eucaliptos, porque é preciso derrubar o grande capital", sustentou.