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Oligarcas, máfia e populistas ficam com dinheiro europeu dos agricultores

O New York Times investigou e o trabalho deu frutos: dos 58 mil milhões de euros anuais que a União Europeia disponibiliza para a agricultura, uma parte fica nos bolsos dos mais poderosos, entre eles, os líderes populistas húngaro e checo.

Hugo Rainho
04 de Novembro de 2019 às 18:00
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O jornal norte-americano New York Times (NYT) descortinou o paradeiro dos subsídios concedidos através da Política Agrícola Comum (PAC), concluindo que "uma parcela desse [dinheiro] incentiva homens fortes, enriquece políticos e financia negócios corruptos".

 

Na reportagem publicada este domingo, 3 de novembro, o NYT avança que, "embora os agricultores sejam pagos, em parte, com base na área cultivada, os dados das propriedades são mantidos em segredo, dificultando o rastreamento da posse de terra e corrupção".

 

No entanto, a investigação em países da Europa Central e de Leste fez brotar "um sistema de subsídios deliberadamente opaco, que mina fortemente os objetivos da União Europeia e é distorcido pela corrupção e pela auto-negociação", pode ler-se no artigo.

 

Assim surgiram os nomes dos primeiros-ministros da Hungria e da República Checa, mas também de "máfias da agricultura".

 

No caso do húngaro Viktor Orban, "um ícone da extrema-direita e crítico severo de Bruxelas", a investigação descobriu que são usados "subsídios europeus como um sistema de patrocínio que enriquece os seus amigos e familiares, protege os próprios interesses e castiga os rivais".

 

Segundo o NYT, o governo de Orban "leiloou milhares de hectares de terras do Estado para membros da família e amigos próximos do primeiro-ministro, "incluindo um amigo de infância que se tornou um dos homens mais ricos do país".

 

No caso da República Checa, o primeiro-ministro Andrej Babis surge no artigo como o beneficiário de mais alto perfil do subsídio.

 

As empresas do bilionário – que é também um empresário agrícola – recolhem, pelo menos, 42 milhões de dólares (mais de 37 milhões de euros).

 

Ainda que recuse qualquer acusação, afirma o NYT, o governo checo adotou, nos últimos anos, "regras que facilitam o recebimento de mais subsídios pelas grandes empresas", sendo que a maior pertence a Andrej Babis.

 

A investigação do jornal norte-americano a um sistema "que é suposto ajudar os agricultores que trabalham arduamente e estabilizar o suprimento de alimentos na Europa", revela, ainda, a existência de uma "máfia agrícola" na Eslováquia, onde "pequenos agricultores relataram ter sido espancados e extorquidos por terras valiosas por causa dos subsídios".

 

"Um jornalista foi assassinado no ano passado quando investigava mafiosos italianos que se haviam infiltrado na indústria agrícola, lucravam com os subsídios e construíam relações com políticos poderosos", conta o jornal.

 

Maquinaria europeia permite corrupção grosseira

 

Com um orçamento de 65 mil milhões de dólares (mais de 58 mil milhões de euros), a PAC "está a ser explorada pelas mesmas forças antidemocráticas que ameaçam o bloco por dentro".

 

Segundo aquela publicação, "isto ocorre porque os governos da Europa Central e Oriental, vários dos quais liderados por populistas, têm ampla latitude na distribuição dos subsídios, financiados por contribuintes de toda a Europa, mesmo quando todo o sistema está oculto em sigilo".

 

O artigo do NYT cita um estudo que revela que 80% do dinheiro vai parar aos maiores recetores, que representam 20% do bolo.

 

"A maquinaria da Europa permite essa corrupção grosseira porque confrontá-la significaria mudar um programa que ajuda a manter unida uma precária união", explica o jornal.

 

Por isso, continua, "com o projeto de lei agrícola renovado este ano, o foco em Bruxelas não é erradicar a corrupção ou reforçar os controlos", mas "dar aos líderes nacionais mais autoridade sobre como gastam o dinheiro".

 

Em reação ao artigo do NYT, a Comissão Europeia disse, esta segunda-feira, 4 de novembro, que tem "tolerância zero para fraudes com os fundos da União Europeia" e, por isso, insiste "num claro compromisso dos Estados-membros para prevenir a fraude", responsáveis pela "verificação da alocação de fundos".

(notícia corrigida às 22:13, com indicação de que Viktor Orban é presidente da Hungria e não da Bulgária)

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